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Pescaria de gigantes em plena praia urbana
Depois de fisgar um xaréu em Boa Viagem o pescador nunca mais será o mesmo. Aprenda os macetes para se dar bem contra os bitelos da capital pernambucana
Quando se fala na captura dos grandes peixes de água salgada, logo nos vem à cabeça imagens das pescarias feitas por embarcações possantes que avançam grandes distâncias mar adentro repletas de carretilha e equipamentos importados. No entanto, não é preciso navegar milhas e milhas para conseguir o tão sonhado troféu. Na verdade, não é necessário nem sequer entrar em um barco para travar verdadeiras batalhas com os bitelos das espécies mais esportivas no nosso litoral. E, melhor ainda, tudo isso pode ser feito numa das principais capitais do Nordeste: o Recife.
Imagine lutar com um camurim enorme, tentar conter a força bruta de um xaréu de 10 kg ou digladiar com um camurupim que pode superar o tamanho do próprio pescador. Essas não são situações fora do comum na praia de Boa Viagem. O local é repleto de arrecifes (formações rochosas que emprestam o nome à cidade e estão presentes em uma grande extensão de sua costa) o que torna a praia um lugar atrativo para os peixes que vêm em busca de alimento. Além disso, as pedras oferecem um ponto de apoio ao pescador, que pode usar a estrutura como plataforma para atingir o exato ponto onde os peixes estão à procura de comida.
A pescaria com iscas artificiais de cima dos arrecifes (e às vezes da própria beira da praia) é um capitulo a parte e rende cenas absurdas, quase inacreditáveis. camurins atacando os peixinhos de plástico aos pés do pescador; tibiros que fazem a isca repentinamente desaparecer e os saltos cinematográficos de camurupins que chegam a assustar pelo tamanho. Nesta edição iremos abordar as técnicas e materiais usados para a captura do Xaréu (Caranx hippos), com dicas dos maiores especialistas locais na pesca desses tipos de exemplares.
Primeiro, vamos falar dos equipamentos. O Xaréu é conhecido por sua força bruta e tomadas de linha vertiginosas nos primeiros momentos da briga, um verdadeiro trator marinho. Por isso, é importante ter um caniço que suporte bem a tensão exercida pelo bitelo, assim como um molinete/carretilha munido da quantidade adequada de linha de libragem reforçada. As varas ideais para a pesca com iscas artificiais em Boa Viagem medem 7’ (2,10m), manufaturadas para suportar 30 lbs (aproximadamente 13,5kg) e arremessar iscas entre 14 e 43g. A linha que abastece os carretéis também merece atenção e normalmente são usados pelo menos 100mts de monofilamento 0,40mm ou multifilamento com resistência compatível ao caniço utilizado.
O Xaréu, quando ativo, é um peixe extremamente voraz e pode ser fisgado por uma ampla variedade de iscas. Entretanto, os pescadores da região tem predileção pelo uso de iscas de superfície, pois o ataque do carangídeo na flor d’água rende imagens explosivas que deixam qualquer pescador extasiado. As mais utilizadas são do tipo Pencil Popper, iscas que possuem um forte chocalho interno (rattling) e atraem a atenção do Xaréu imitando o movimento de seu alimento natural fugindo de predadores ou pequenos peixes atacando na superfície. Esse tipo de isca deve ser trabalhada com movimentos rápidos de ponta de vara (cerca de 2 ou 3 vezes por segundo) e a cada vez que a linha é tensionada o plug mergulha na superfície dando uma “cabeçada” que salpica água ao redor. É esse efeito que o pescador deve tentar reproduzir.
Duas boas opções de iscas Pencil Popper para a captura do Xaréu são a Atracter, (13cms / 36g) fabricada pela Marine Sports e a Big Bob ou Little Bob (15cms / 40g e 10cms / 25g respectivamente) da marca Borboleta. As cores mais produtivas são o branco com verde limão e laranja, o rosa choque e branco com cabeça vermelha, o que
não quer dizer que outras tonalidades não sejam efetivas. A captura dessa espécie de peixe também pode ser feita com iscas de meia-água, shads de silicone e jigs de penacho e, embora se mostrem eficientes, não rendem a mesma sensação de ver o estardalhaço de água quando o Xaréu ataca na superfície.
“Quando se fisga o Xaréu a adrenalina vai a mil. É bom demais”. Foi com essas poucas palavras que Rafael Monteiro, um dos pescadores mais assíduos da praia de Boa Viagem, descreveu o sentimento minutos após capturar um exemplar na faixa dos 5 kg. Estudante de engenharia de pesca e residente próximo a um dos melhores pesqueiros da orla, esse pescador de 26 anos reuniu o conhecimento acadêmico e a experiência pratica para desvendar o comportamento do peixe que mais gosta de capturar. Segundo ele, o Xaréu é o peixe mais forte que frequenta nossa costa. “Sua força comparada com a de outras espécies é muito superior. Pra se ter uma idéia, um Xaréu na faixa dos 5 Kg, oferece muito mais resistência que um Camurupim (Tarpon) de 10 kg”, comenta Monteiro.
Além disso, outra característica que torna essa pescaria atrativa, de acordo com Monteiro, são os ataques às grandes iscas. “É incrível ver um exemplar de bom porte seguindo a isca. A muvuca que ele provoca é altamente viciante, sem falar que. quando o peixe decide atacar a isca, aguenta coração, pois a imagem é espetacular. A primeira corrida do “submarino amarelo” chega a dar um pouco de medo. Não é incomum observar seu carretel esvaziar em poucos segundos e ver seu sonho de um troféu ir embora num piscar de olhos”, confessa.
Um quesito que deve ser levado em conta é a segurança durante a pescaria realizada em cima das pedras. Por isso, vale lembrar que um bom calçado é indispensável para a modalidade onde o pescador terá que caminhar sobre arrecifes e topar com ouriços, cracas e outras superfícies cortantes que podem facilmente ferir pés desprotegidos. Além disso, é recomendado o uso de coletes salva-vidas já que para atingir alguns pontos é necessário nadar por um curto trajeto. A natação por si só não é um grande problema, mas deve se levar em conta que o pescador estará transportando a vara de pesca, caixa de iscas e demais apetrechos que podem dificultar a travessia de quem não está acostumado.
Editorial
Para mostrar que o Nordeste é o lugar para pesca esportiva visitamos a praia de Boa Viagem, no Recife, em busca dos peixes esportivos do litoral. O resultado não poderia ser melhor. Apesar de ser uma das praias mais urbanizadas do país, a presença de arrecifes em quase toda sua extensão atrai inúmeras espécies e oferece uma plataforma de onde o pescador pode fazer os arremessos. No local, não é incomum capturar exemplares de grande porte que causam supresa aos banhistas nas piscinas naturais.
Na ocasião tivemos que, literalmente, escolher o peixe que estamparia as páginas do nosso texto de abertura. Isso porque o local é tão bom de pesca que uma unica matéria não seria suficiente para detalhar todas as espécies que ocorrem na região. Escolhemos o Xaréu, assim, com letra maiúscula mesmo, pois o bicho é bruto. Pura força e tomadas de linha vertiginosa pedem um material reforçado e caprichamos no texto para não deixar nenhum pescador, com o perdão da infâmia, a ver navios.
Além disso, trazemos uma criação de camurupins, ou pemas como são chamados no Maranhão, feita por um apaixonado pela pesca do rei de prata que construiu um açude no quintal de casa só para ter o prazer de contemplar, e pescar, é claro, o peixe que mais o atrai.
Para os que praticam ou que querem iniciar no universo das iscas artificiais, fizemos uma seleção com os modelos mais eficiente no Nordeste. Uma lista com os itens que não podem faltar na caixa de nenhum pescador. Espero que gostem.
Apresentação
Nas linhas a seguir está a concretização de um sonho que vem amadurecendo já há algum tempo. Mais do que uma aspiração, a revista nasce da necessidade de contemplar nossa região e falar da realidade nordestina como quem a conhece de perto. Temos o litoral mais piscoso do Brasil, inúmeros locais ainda inexplorados e desconhecidos da maioria dos pescadores do próprio Nordeste. Nossa missão é mostrar todo potencial pesqueiro dos nossos nove Estados e difundir a prática da pesca esportiva para contribuir com a preservação e sustentabilidade de nosso esporte.
Temos algumas boas revistas sobre pesca no país, mas todas estão focadas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, uma lacuna para os pescadores nordestinos, que muitas vezes tem que adequar técnicas encontradas nessas publicações para se adaptarem às características dos locais onde praticam suas pescarias. Chegamos aqui com o objetivo de falar com o “oxente”, conversar com quem sabe o que é “mainha e painho” e falar com quem é da terra da macaxeira, da charque e do jerimum.
Desde as primeiras reuniões, quando a criação da revista engatinhava, concordamos que as matérias, as dicas, os roteiros e todo o conteúdo deveria ser voltado para o que chamamos de “pescaria do normal”. O que isso quer dizer? Significa que, nas linhas a seguir, vocês verão não aquelas pescarias mirabolantes onde se gastam milhares de reais entre equipamentos e pacotes de pesca, mas a pescaria possível, acessível à grande maioria dos praticantes. Seremos uma revista democrática, não vamos nos eximir de publicar matérias sobre, por exemplo, pesca oceânica, que normalmente tem um custo mais elevado, entretanto, até mesmo essas reportagens serão feitas estritamente em águas nordestinas.
Temos excelentes locais de pesca praticamente às portas de nossas casas e estaremos na Paraíba, em Pernambuco, Bahia, Alagoas, Rio Grande do Norte, Maranhão, Piauí, Sergipe e Ceará para mostrar pescarias de praia, pesca de costões, produtividade em arrecifes, rios e estuário, lagos, açudes e lagoas. Vamos mostrar como melhorar o índice de capturas e aproveitar a cervejinha (ou refrigerante) com os amigos na praia para registrar belas recordações. Falaremos de materiais, iscas, molinetes, anzóis e demais apetrechos de pesca que são mais eficientes para a captura de nossas espécies de peixe. Em suma, tudo que você, amigo pescador, precisa para garantir sucesso, tanto em água doce como salgada.
Teremos especialistas, sejam eles acadêmicos formados ou profissionais com conhecimento comprovado, tratando dos mais diversos temas. Uma seção interessante para quem quiser se aprofundar em determinado assunto, que irá desde a formação e tipologia de arrecifes até a biologia de determinada espécie de peixe. Além disso, publicaremos reportagens feitas por leitores que tenham notadamente seguido os apelos da pesca esportiva, como a prática do pesque e solte e a preservação do ambiente.
A Revista Pesca Nordeste chega, não só como páginas de entretenimento e aprendizado, mas como uma ferramenta, um canal de comunicação entre o mundo da pesca esportiva e o pescador nordestino. Nasce aqui um novo futuro para nossa região. Viemos para somar e, com a contribuição de vocês, construir um novo cenário no Nordeste brasileiro.