O filhote de Guará

Dona Antera fazia as últimas recomendações enquanto lavava as mãos em uma cuia grande à luz fraca do candieiro esfumaçante. Parteira de muitos atributos e famosa em toda a região, não se lembrava mais de quantas crianças teriam vindo ao mundo com o seu auxilio. Era madrinha de pelo menos a metade daquele povo mais novo. Leiga mas competente. Entretanto, tinha alguns conceitos práticos que de vez em quando lhe traziam problemas no trabalho de parto, como introduzir pedra de sal bruto na vagina das coitadas para o dilatamento. Esse recurso era esporádico, no entanto e não raro, causava hemorragia e traumas à parturiente e ao rebento.

Chico Chaga, moço novinho e de boa índole, pescador de muitos predicados, mas extremamente ingênuo, estava do lado de fora do casebre rodeado de amigos e curiosos. Pitava inquieto um porronca de fumo picado e não podia evitar a preocupação e a ansiedade, afinal, esse negócio de sair de carreira atrás de parteira era experiência que ainda não lhe tinha sucedido. Já tinha sim, em várias ocasiões, participado das rodas em porta de barracos onde sempre se reuniam quase todos os pescadores do povoado à espera do primeiro choro e o “mijo” de uma nova criança. O pai sempre tinha uma garrafa de “tiquira” para a ocasião. Essas notícias correm como o vento leste. Comunidade pequena, concentrada e basta alguém mandar chamar a parteira que todos ficam sabendo que a hora chegou.

A lua já ia alta e o ajuntamento dos curiosos e amigos ia aumentando na porta do rancho. Mulheres se dispondo para qualquer ajuda e crianças fazendo algazarra na rua arenosa. O sinal para servir a tiquira era o choro do vivente, que para desespero de muitos estava se alongando demais. Zé Carnaúba, arrastador de camarão “dos bão”, impaciente e como uma secura danada, arriscou uma piada:

— Esse mininu tá é de rosca é?
— Vai vê é fio de jegue — completou outro gaiato.

As gargalhadas sucederam-se, porém, de forma comedida. Chico Chaga não reagiu. Era acostumando com essas fuleragens e logo estava mais concentrado ao lado da janela, tentando ouvir alguma coisa que pudesse sinalizar o trabalho de parto.

Só as mulheres tinham permissão para espiar dentro do quarto, de forma que as mais curiosas sempre saiam à rua dando notícia quase sempre com a mesma expressão: “Vixê o bucho de Gracinha tá prá espocá”

No quarto fora improvisada uma cama no chão de terra batida. A rede com mais alguns trapos servia de colchão onde estava deitada Gracinha com as pernas abertas em forma de forquilha e com a cabeça no colo da mãe, Dona Raimundinha. Mordia os lábios inferiores e gemia muito. Dona Antera ajoelhada entre as coxas da moça, fazia massagens na barriga comprimindo-a repetidamente. As contrações iam aumentando cada vez mais.

— Ai meu Deus dói muito, ai ai ai, acho que vô murrê! Eu vô murrê!
— Morre não muié, respira e bota força nessa coisa, quando tu tava na sacanagem com o Chico achô bão num foi? Agora agüente! Faiz força! Faiz força que tá saindo! Si cagá naum liga naum!

Passaram-se alguns minutos, que para Chico Chaga foram uma eternidade. Era angustiante, mas o choro fino e estridente ouvia-se até a rua. A comemoração foi com muita zuada, principalmente pelos homens do lado de fora. A molecada de pés descalços que molestava com pedras e paus dois cães engatados na esquina, com outros tantos ao redor, voltou fazendo a maior algazarra, muitos sem entender o motivo daquela farra.

Esse choro tinha gosto de tiquira.

— Pégo a tiquira Chico? — era Pedro Guaíba com as mãos já trêmulas de tanto esperar pela “mardita”.
— Péga lá enrriba da mesa!

Chico Chaga ainda não tinha relaxado e ficou escorado na porta da frente esperando notícias.

— Vixê nossa Sinhora, que arrumação é essa?

Chico reconheceu a voz de D. Raimundinha, a sogra. Foi tomado por um impulso que quase o fez adentrar ao quarto.

— O qui é qui foi D. Raimundinha?
— Nada não Chico! Se assussegue homi!

A sogra dissimuladamente começou a falar com a filha enquanto D. Antera dava o primeiro banho do recém nascido. Ao sair na pequena ante sala do rancho Chico perguntou:

— É o que D. Antera?
— Mininu homi! Mais um prá mulestá as menina de famía!

Só assim conseguiu se acalmar e voltar ao meio da turma que continuava fazendo farra a pretexto de comemoração.

— Chico, cuma é qui é! Acabou a tiquira! — gritou Nonatinho balançando a garrafa vazia no ar.
— Vá lá na quitanda de seu Mané Cacinba e pega mais duas garrafas.

Não tinha tomado nem um gole ainda por conta da ansiedade e agora ia à forra. E certamente duas garrafas eram coisa só prá começo, porém, não se preocupava muito visto que nessas ocasiões nunca falta alguém prá dividir despesas dessa natureza.

Brejeira, capenga de um pé por conta de uma picada de cobra mal benzida e já melado de tiquira, apareceu com uns foguetes “três tiros” que guardava em casa desde a última visita de uns políticos em campanha. Conseguiu surrupiar alguns e danou a soltá-los na frente da casa.

D. Antera saiu prá fora como uma fera. Soltava fogo pelas ventas e foi logo descarregando:

— Quem é fio de uma égua que tá espocando fuguete aí? Num tão vendo que tem mininu novo drumindo? Ceis enfiam essas p… no cú e param de fazer zuada. O mininu já nasceu, oceis já tumaram o “mijo e tá bão pegá o rumo de casa! — a austeridade de D. Antera impressionava. Logo era muito respeitada na região e o melhor mesmo era atender a parteira. Sabe-se lá quando um deles iria precisar de seus préstimos novamente.

A farra da Rodada de tiquira foi dada por encerrada naquela noite.

Ficou no alpendre da porta até todos dispersarem-se. Encarou Chico Chaga com olhar suspeito e o intimou:

— Agora tu póde entrá e vê teu fio!

Chico Chaga não escutou.

— Tu num vai vê teu mininu não homi? — esbravejou Dona Antera reiterando a ordem.

Chico Chaga, absorto que estava ainda pensando na observação que fizera Dona Raimundinha, a sogra, logo que nascera o menino, sobressaltou-se.

— Vô sim sinhôra! — saiu ligeiro acompanhado Dona Antera.

Entrou no quarto e deparou-se com Gracinha, agora deitada na rede armada com o filho no colo envolto a panos limpos e mamando com entusiasmo. Dona Raimundinha passava a mão de leve nos cabelos da filha.

— Oiá aqui Chico o nosso fio! — Gracinha descobriu levemente a cabeça do recém nato para o marido olhar.
— É macho num é?
— E num e?! Espia isso, benza Deus! Isso que é um macho fogoso!
— Num tá muito esbranquiçado naum Dona a Antera?
— Tá naum homi. Quando nasci é assim mesmo!
— A senhora agarante?
— Agaranto sim sinhô! — respondeu Dona Antera sem se preocupar como seria resolvia, futuramente, essa questão de paternidade duvidosa.
— É a luz do candieiro que clareia muito — adiantou-se Dona Raimundinha tentando desfazer a dúvida.
— Posso pegá?
— Ainda não! Tá com o espinhaço muito molinho, só quando tivé mais espertinho! — precavida Dona Antera estabelecia suas regras.

Chico Chaga ficou escorado na rede um pouco e logo saiu prá fora. Olhou para o céu estrelado e suspirou fundo.

O silêncio reinava novamente no povoado. Dava para ouvir as ondas da maré alta batendo no nos pilares do trapiche e esborrifando nos cascos dos barcos. O vento salgava o ar misturando o cheiro agradável do mar que refletia a luz prateada da lua já caindo no horizonte. Paragens remotas assim inebriam nossa alma e conseguem aflorar a sensibilidade e nos remetem à realidade do País, desconhecida pela maioria dos brasileiros. A vida serena e acomodada que passa lentamente sem nenhuma objetividade, privada com naturalidade das necessidades básicas do ser humano, nos leva a refletir sobre uma possível inversão de valores. Serão eles os miseráveis excluídos e desassistidos pelas autoridades constituídas, que trabalham duro, sob sol, chuva e vento, sem conforto, escolas, saúde, vivendo alheios ao resto do mundo ou nós que pagamos altos tributos para desfrutar das benesses da sociedade moderna, induzidos que somos pelo consumismo? Não se comprometem com carnês, cartões, financiamentos, impostos, empregos ou qualquer outro compromisso que possa tirar-lhes aquela alegria que é marca registrada estampada nas faces curtidas pelo tempo e pelo sol. Sempre que convivo com essas comunidades de pescadores, pondero sobre isso.

No dia seguinte, ainda escuro, Chico Chaga é acordado aos gritos pelo companheiro de pesca Mundico. Tinha dormido mal a noite na pequena sala. Dona Raimundinha e Dona Antera armaram suas redes no quarto com Gracinha. Parteira que se preze leva a própria rede e acompanha a parida por vários dias, cuidando incondicionalmente de tudo.

— Qui qui é Mundico? — respondeu Chico Chaga sonolento.
— Simbora homi que a maré num ispera pescadô não!
— Mais assim nu cagá dos pinto?
— Hum hum tu tá leso é, já vai é amanhice! Ou tu vai ficá babando mininu novo?

Meio grogue pulou da rede vestiu a bermuda e uma camisa velha e rasgada e seguiram até o porto.
Já com a caçoeira na água e o dia claro comentou com o companheiro:

— É Mundico, agora tenho que trabaiá o drobo. A famia aumentô, vai aumentá tumém a dispesa!
— Tu nem sabe da dispesa Chico. Mininu novo num é como nóis naum que passa só no xibéu! Si bem que naum demora muito logo logo póde tumá papinha de farinha e caldo de peixe.

Mundico sabia do que estava falando. Tinha quatro filhos e a esposa já estava prenha outra vez.
Houve alguns minutos de silêncio e enquanto Chico Chaga secava o fundo da canoa com uma caneca feita de Pet cortada ao meio, Mundico perguntou indiscreto:

— Ritinha de Zé Preá disse que o mininu é branquinho feito uma galça!
— Num sei disso não! Dona Antera disse que quando nasce é assim mesmo a despois vai tumando cor. —

Chico Chaga tentava disfarçar a observação, contudo, era visível a sua contrariedade.

— Tô aqui matutando Mundico, fio de Camurim parece Camurim, fio jegue parece jegue, fio de bode parece bode, fio de mero é igualzinho o mero, que diabo que esse mininu é tão diferente os bicho tudo qui quando nasce são paricido com os pai?
— Dona Antera tá certa homi! Vai crescendo vai pegando cor — completou Mundico percebendo a bobagem que fizera. — Tu tá é pensando besteira. Tu já viste fióte de urubu?
— Naum!
— E de guará?
— Tumem naum!
Então siô… nenhum é parecido com o pai. Deixa de história. Isso vai sê um pescadô dos bão! Tali quali o pai!

A amizade de longos anos desfrutada com recíproca lealdade e confiança fazia Chico Chaga, do alto de sua ingenuidade, confiar nas palavras do amigo o que o deixava mais calmo e relaxado.

— Óia Chico, lá naquela siribeira! — gritou Mundico apontando o dedo para o manguezal.
— O qui qui é?
— Tu naum tá vendo naum? O fióte de guará, branquinho branquinho?
— Óxente! Num é que é!
— Num ti falei! Óia lá dois… ainda nem avua!
— Mundico tu acabou de tirá um peso da minha consciência, num é que é verdade! Marrapá, eles nasci bem alvinho num é?
— É Chico! Si bem que tem uns qui naum muda a cor naum! Deve ser coisa de Deus! Chico meu cumpanheiro, vô ti dizê uma coisa, ás veis a gente tem que aceitá essas encomenda de Deus! É graças a ele que nóis véve nesse mundo — Mundico filosofava parecendo saber de alguma coisa que fugia à compreensão de Chico Chaga, entretanto, parecia satisfeito com a missão de ludibriar o amigo e principalmente com a condescendência do amigo.
— Tu tá certo Mundico, o que Deus dá prá nóis é sagrado.

A maré fora boa e o pescado farto. Venderam um bocado no porto e levaram um côfo cheio de guribús, uritingas, bandeirados e corvinas para casa, cada qual com sua partilha.
Chico Chaga chegou à casa alegre e fazendo muita zuada. Sentia-se muito melhor desde que saíra para a pescaria.

— Dona Antera, Dona Raimundinha, óia os pêxe mode fazê o cuzido! E a senhora Dona Antera, tire logo uma muchiada mode mandá lá prá sua casa. Pode tirá quanto quizé da marca que quizé!

O côfo de peixe fresco exalava cheiro forte que impregnava o interior do humilde rancho, como deve ser mesmo o rancho de um pescador. Fora mesmo um dia de sorte!

— E Dona Antera, cuma é que tá meu mininu?
— Tá muito bem! Inté parece um anjinho.
— Vô lá vê meu bichinho!
— Então lave essas mão primeiro — ordenou a parteira cuidadosa.

Chico Chaga pegou uma cuia e tirando água da cacimba rasa, banhou-se rapidamente. Entrou no quarto numa carreira desenfreada e foi logo falando baixinho:

— Cadê meu fióte de guará? Cadê meu fióte de guará? Papai já chegô!
— Tá com a mulesta Chico, que diabo é isso de fióte de guará?
— É o meu fiótinho de guará Gracinha. — encostou os lábios na testa do menino e o beijou carinhosamente.

Crônica de um pedestre

Bati meu carro há alguns dias atrás e só ontem levei à oficina. Fiz um esquema de carona casa para o trabalho e vice versa. Mas a de hoje de manhã furou. Resolvi vir ao escritório de ônibus. Fui para a parada mais próxima já com o sol castigando. Depois de uns 10 minutos encosta o coletivo lotado. Cheguei a pensar que não ia dar para entrar, era muita gente, fiquei indeciso, mas logo imaginei que o próximo coletivo poderia demorar mais de uma hora. Boto o pé no primeiro degrau com acara esfregando as costas de um outro passageiro e sinto um empurrão medonho me jogando prá dentro. Era uma mocréia com uma bolsa velha de buriti a tira colo. Só sossegou quando cheguei à catraca congestionada por uma gracinha que resolveu procurar um passe perdido num enorme sacola. O motorista acho que, percebendo a lentidão, deu uma arrancada daquelas, passei de uma vez pela roleta levando junto a empata fogo. Esbarrei num negão que de maldade pisou no meu pé enquanto voltava para pagar a cobradeira. Dei o dinheiro e fiquei esperando o troco.
– Não tenho troco prá dois real.
– Quanto é a passagem?
– R$1,75. Se quizé o troco espera aí.

Tá bom. Fiquei ali segurando um daqueles monte de ferro pregado no teto. À medida que ia entrando gente, a coisa ia espremendo e eu cada vez mais para o fundo do corredor. Meus 0,25 cents já eram. Fui parar entre duas pipirinhas bonitinhas embutidas em calças jeans num esfrega esfrega de pernas danado. Uma de cabelos loiros com óculos escuros que cobria quase todo o rosto e a outra pretinha de cabelos molhados escorridos pelo cangote e com as costas da blusa toda molhada que estava de meia bunda roçando minha coxa. Pelo menos havia me dando bem ali entre as duas. O odor era uma mistura química terrível. Fundiam-se perfumes e desodorantes de todo o tipo. Alguns vencidos e nauseantes. Acho que tinha até banho vencido.

A coisa melhorou um pouco após uma velhinha pedir para segurar minha pasta de trabalho. Relutei um pouco, mas a sua aparência era acima de qualquer suspeita. Pude segurar aquelas barras de ferro com as duas mãos e aproveitei para chegar bem o braço junto ao da loira.

Pensei, agora essa merda não vai mais parar. Não tem como entrar mais ninguém. Fiquei nas pontas dos pés e dei uma olha lá fundo. Parecia arenque no côfo. Certamente não haveria como entrar uma criança sequer. Mas qual o quê! Quando menos esperava, outra freada violenta. Despreguei-me das pipirinhas e fui parar encima de um sujeito de camiseta “Deus é Fiel” com o sovaco à mostra quase se esfregando na minha cara com aquele cheiro horroroso. O calor estava insuportável.

– p…! Esse cara é maluco!? Protestei indignado com a falta de respeito do motorista.
– Isso é “freada do arruma” resmungou o sujeito do suvaco.

Deve ter sido mesmo, pois acabou ficando mais folgado, embora tenha perdido a posição confortável entre a loira e a moreninha. Tentei dissimuladamente voltar junto delas, mas era impossível. Minha pasta ficou lá na frente no colo da velhinha. Tinha que ficar de olho. Vai que essa maluca desça antes que eu.

Já tava puto da vida, as “freadas de arruma” se sucediam e eu cada vez mais lá pro fundo, arrastando o cara do suvaco comigo. De vez enquanto usava os cotovelos prá ver se ele se distanciava um pouco. Consegui me ajeitar com a barriga escorada naquela alça de ferro de uma poltrona e de olho na velhinha. Nisso sinto uma pressão violenta no espinhaço e sou exprimindo com a barriga da p… do apoio de ferro que quase boto os fato prá fora. Respirando com dificuldade olhei prá trás e vi o saliente com cara de quem estava de ressaca com uma enorme mochila pirata dessas de marca presa no tórax Joguei o corpo por cima do passageiro sentado à minha frente para facilitar o trânsito do cara me espremendo ainda mais. O qualira ao invés de passar ficou ali parado. Olhei bem prá ele:

– Tu vais passar ou vai ficar aí embaçando?
– Num tem prá onde ir não!
– Se vira cara! Tu não tá vendo que estou todo exprimido aqui?
– Ô tio, num qué andá de ônibus compra um carro!

Ah sacana! Quase mandei o cara prá aquelelugar. Tinha um pircing de argola no nariz e tive que me conter para não arrancá-lo lembrando de um filme, acho, que do Steven Seagal. Mas ali era o pior lugar para arrumar uma confusão. Minha sorte que logo veio outro “freio de arruma”. Acabei me livrando do babaca.

Fui parar na porta dupla de saída preocupado com minha pasta que ainda estava em poder da velhinha. Uma morena gostosa com um decote generoso estava sentada na poltrona do corredor lendo um panfleto desses de promoção de super mercados. Olhando de cima o cenário era agradável e amenizava o estresse, embora disfarçasse de vez enquando. afinal não queria ser acusao em público de voyerismo. Segurei firme no apoio da poltrona no caso de outra freada. Dali ninguém ia me tirar. Não era como estar entre aquelas duas pipiras que agora estavam distantes, porém, melhor do que exprimido entre os machos fedorentos. Queria que a velhinha olhasse prá mim. Poderia pegar minha pasta e simulando um pouco de dificuldade e sofrimento quem sabe a morena da poltrona não pedisse pra segurar? Seria o máximo. Mas nada, a velhinha estava lá frente sentadinha quase cochilando. O espaço folgou um pouco e consegui encostar um dos joelhos na coxa da morena. Agora ia nessa até a minha parada final. Quando o coletivo parava parecia bode embarcado. Desciam 5 subiam 6 e era aquela agonia. Sentia o suor descendo pelos costados e pela testa e tomando cuidado prá neguinho não ficar roçando a minha bunda. Numa das paradas já próximo ao escritório, subiu um cego pela porta de trás, apoiando ao braço de um menino. Não acreditei! –Dê uma ajuda pro ceguinho, pelo amor de Deus! Dê uma ajuda pro ceguinho!

E foi o ceguinho levando o povo no peito tendo a criança como guia. Não sei se na prática, essa situação funciona para o deficiente coletar algumas moedas. Ali ninguém tem nenhuma condição de enfiar a mão nos bolsos ou bolsas. Em alguns momentos mal se respira.

Olhei pela janela e percebi que já estava mais próximo da minha parada. Agora tinha que traçar uma estratégia para voltar à velhinha lá da frente para recuperar a pasta. Mas para isso era obrigado me afastar da morena e daquele decote. Quando parecia que o corredor estava mais folgado, encosta uma figura do meu lado esquerdo, barbudo mal cheiroso, de bermuda, chinelo de dedo uma camisa desbotada do Corinthians com a inscrição no peito Kalunga! PQP onde esse cara arrumou isso? Só me faltava essa! Tentou segurar na alça da poltrona onde eu também estava seguro, mas dei um arruma nele com o cotovelo. O cara tinha o braço todo peludo e suava qual tal tampa de papeiro.

Ah chegou à parada! É de frente a um Shopping e percebi que o movimento da grande maioria era para desembarcar ali. Fiquei aliviado vendo a velhota vindo em minha direção com a pasta. A morena do decote levantou-se também e como eu estava esperando a velhinha, teve que passar entre eu e a poltrona. Aproveitei para dar um esfrega. Peguei a pasta agradeci e fui em direção aquele monte de gente querendo descer de uma só vez. Ainda tinha um gaiato que não ia desembarcar, atrapalhando a saída. O corintiano começou a gritar no meu cangote: arrócha, arrócha.

– Calma aí cara!
– Sai, sai que tô avexado! Fiquei puto mas retruquei:
– Tá avexado? Não quer andar de ônibus compre um carro! He he me vinguei!

Meu carro sai da oficina só na quinta feira! Tô fudido.

O dossiê Camurupim (Tarpon)

Pescamos Camurupins há mais de quinze anos no litoral do Maranhão. Tempo suficiente para cultivarmos grande fascínio e admiração pelo “reide prata”. Um oponente formidável, valente, astuto, perspicaz que quase sempre leva vantagem na batalha com o pescador. De troféu cobiçado, passou a nos representar o símbolo da bravura e intrepidez. Experiências com incontáveis embates memoráveis em pescaria com meus dois filhos, nos levaram a dedicarmos muito tempo às observações e pesquisas sobre seu comportamento. Pesquisas científicas publicadas são poucas e restritas quase que exclusivamente à costa leste americana, México e Costa Rica. Reunimos dados desses estudos junto com nossas anotações e observações durante um longo período e produzimos esse trabalho que poderá ajudar mais na compreensão da anatomia, biologia e estado comportamental do Megalops Atlanticus, ainda muito pouco estudado.

Nosso trabalho de pesquisa com pescadores, observações pessoais e relatos, não tem caráter científico, por questões óbvias, apesar de meu filho Alessandro Menks ser biólogo. Entretanto o material reunido durante todos esses anos nos deu uma base de dados das mais interessantes e poderá, certamente, ser usado para entendermos de forma mais consistente o nosso surpreendente e tão desejado Camurupim.

A adaptação do texto com nossas inserções foi realizada usando uma abordagem mais simples a fim de facilitar a concepção das informações a todos os pescadores esportivos, de um modo geral aos admiradores desse peixe espetacular. Esse trabalho não encerra nossas pesquisas de observações. Vamos continuar estudando seu comportamento ainda que tenhamos que repetir ( o que para nós é um deleite) as viagens percorrendo milhas e milhas seguindo seus cardumes pelas águas do litoral do Maranhão.

Descrição:
Ordem Elopiformes
Família: Megalopidae
Gênero Megalops
Nome científico: Megalops Atlanticus

Conhecido no norte e nordeste brasileiro como Camurupim, pema, pirapema e Camurupim nos Estados Unidos, pertence à família Megalopidae é um grande peixe com uma coloração entre o azul profundo a preta na parte dorsal e prata brilhante na parte ventral. Entretanto, esta cor pode ser alterada nos indivíduos que habitam águas litorâneas e também os mantidos em cativeiro. Suas escamas são enormes tanto quanto seus olhos (megalops). A mandíbula inferior é posicionada à frente da superior. As barbatanas são compostas de raios macios. O Camurupim tem uma barbatana caudal simétrica. A única barbatana dorsal é pequena e composta de 13 a 15 raios moles; o último desses raios é alongado com um filamento raiado. A barbatana anal é um triângulo e compõe-se de 22 a 25 raios moles; o último desses raios é também alongado e menor do que a nadadeira dorsal. Tem grandes barbatanas pélvicas ao longo do abdômen composta de 13 a 15 raios moles. Variam muito em dimensão com as fêmeas em geral maiores que os machos. É relatado que os adultos podem atingir até 2,50m e chegar a um peso de 161 kg. As fêmeas, em média são maiores que os machos. Mas estudos indicam que existe uma variação de peso e tamanho principalmente entre os espécimes da Flórida e Costa Rica. Podem viver entre 43 anos (macho) e 55 anos (fêmeas). A maturidade sexual por volta dos 10 anos entre 117 cm nos machos e 128 cm nas fêmeas. Andam em cardumes de 12 a 20 indivíduos, mas já foram vistos em grupos com cerca de 100 espécimes. É um predador eficiente e tem hábitos alimentares diuturno, porém em geral, caça mais à noite.

O maxilar inferior é grande e protuberante. Os dentes são pequenos e em grande quantidade posicionados em camadas circulares por toda a sua boca. Sua língua áspera a partir da base inferior do crânio e tem minúsculas garras que o ajuda a segurar a presa. A mandíbula é poderosa e composta de um opérculo ósseo extremamente afiado que o ajuda no ataque e o torna especialmente difícil de capturar, visto que a linha de pesca é sempre cortada pela chapa óssea. Uma modificação anatômica evoluiu para uma adaptação de tolerância física que ajuda na respiração. Um tecido alveolar na bexiga natatória é ligado a um duto que por sua vez é ligado ao esôfago para permitir a respiração do ar atmosférico, funcionado como um pulmão auxiliar. Estudos demonstraram que mesmo em ambientes de águas ricas em oxigênio, ainda assim o Camurupim respira o ar partir da superfície. Acompanham o ciclo das marés quando entram em baias e estuários acompanhando cardumes de presas. É um peixe pelágico que quando adulto prefere águas costeiras mais profundas.

Desconhece-se algum estudo para avaliar o tamanho da população e a saúde dos cardumes de Camurupins ao longo da costa do nordeste brasileiro.

Todos os estudos e pesquisas de caráter científico conhecidos são limitados à costa da Flórida, Costa Rica, e Golfo do México pelos autores abaixo creditados.

Faixa Geográfica:
Sua ocorrência é notada principalmente nas águas quentes, das regiões tropicais do leste a oeste do Oceano Atlântico. Maiores ocorrências são registradas a leste dos Estados Unidos, nordeste do Brasil, oeste da Africana ( Senegal, Congo) Caribe, Golfo do México, Panamá Costa Rica e ocasionalmente na Argentina, no oeste do Atlântico, ao longo da costa de Portugal, Açores, sul da França, no leste do Atlântico.

Habitat:
Os Camurupim são encontrados em estuários, baías, lagoas e até mesmo ser conhecida suas incursões em rios de água doce. Tem a capacidade de tolerar ambientes pobres em O2. A única restrição ambiental em seu habitat é temperatura. Súbitas mudanças climáticas podem levá-los à morte em grande número. Chegam aos estuários em seu segundo estágio da metamorfose acompanhando as marés altas. O Camurupim Juvenil é membro comum da ictofauna encontrada em ambientes acima citados.

Reprodução e Embriologia:
O Camurupim macho alcança uma maturidade sexual entre 0,90cm a 117,5 m, enquanto as fêmeas amadurecem sexualmente entre 1,28 m. A idade da maturidade sexual é estimada a partir dos10 anos de idade. Entretanto, na Costa-Rica, a maturidade sexual do Camurupim é alcançada em uma idade mais precoce do que o Camurupim da Florida e aparentemente não atinge tamanho considerado adulto. O Camurupim é altamente fecundo, é estimado que as fêmeas adultas produzam cerca de 12 milhões de ovos sempre dependendo do tamanho e da idade do espécime. A ovulação é proporcional à idade. No Brasil, na costa norte e nordeste a desova é entre os meses de março a maio. Na Florida, Costa Rica e do golfo de México oriental fazem migrações para a desova extensiva em águas mais profundas nos períodos de maio a julho.

Estudos sugerem que as desovas do Camurupim sazonalmente são múltiplas. Na Costa-Rica, a desova não parece ser sazonal, e as fêmeas maduras são podem desovar em qualquer época do ano. Sugeriu-se que a fase lunar pode ser um componente importante para a atividade de desova. A eclosão ocorre entre 2 a 3 dias em estado larval.

Os ovos têm em média de 0,7 mm de diâmetro ovos eclodidos em águas profundas são de forma larval e após aproximadamente 2 a 3 dias. São os Leptocephalus (larvas planas e transparentes de cabeça pequena) distinguidos por seu corpo plano e transparente, que consistem primeiramente em uma matriz acelular, mucinose também delgado, como os dentes, que são proeminentes na região principal. Os Leptocephalus variam no tamanho de um comprimento padrão de aproximadamente 5.5 – 24.4 m O estágio do leptocephalus persiste por 2 – 3 meses Durante este período, os leptocephalus são transportados pelas correntes das águas profundas para as águas litorâneas incluindo mangues, e eventualmente nos estuários onde procuram abrigo e alimentação e terminam o desenvolvimento. As larvas Metamórficas são encontradas mais freqüentemente em estuários e manguezais de água salgada. Não se reproduzem em cativeiro.

Estágios de desenvolvimento:
A. Estágio I – leptocephalus, 9,4 milímetros SL.
B. Estágio II – leptocephalus, 17,5 milímetros SL.
C. Estágio III – leptocephalus, 23,0 milímetros SL.
D. Estágio IV – 14,0 mm
E. Estágio V – 13,0 mm (diminui de tamanho)
F. Estágio VI – 13.8mm -barbatanas dorsais e anais continuar a mover-se anteriormente; a bexiga do gás estende para frente.
G. Estágio VII – 15,9 mm. a pigmentação aumenta no corpo e desenvolve a bexiga auxiliar da respiração.
H. Estágio VIII – 16,9 mm. Aparecem as barbatanas.
I. Estágio IX – 23,0 mm TL, 19,6 mm. Barbatanas dorsais e anais tornam-se mais proeminentes.
J. Estágio X – 31,5mm a 25,5 mm. Ponto na barbatana dorsal distinta; pigmentação do corpo mais profusa
K. Juvenil XI – 41.0 mm
L. Juvenil 38,60 cm

Hábitos alimentares:
A dieta varia durante todo o seu desenvolvimento. Na primeira etapa do seu desenvolvimento, o Camurupim obtém nutriente diretamente a partir da água. Como juvenis, eles alimentam de zoplâncton, pequenos peixes, crustáceos e insetos. Na fase adulta, têm como principais fontes de alimento as sardinhas, arenques, tainhas, guaraviras (Maranhão) e crustáceos.

Utilidade econômica:
A pesca do Camurupim é considerada altamente esportiva devido a sua extrema força, velocidade e a grande dificuldade de ser fisgado. Seus saltos extraordinários bem acima da linha dágua o tornam um oponente de muito respeito e admiração e o tornam um troféu cobiçado. Todavia, não é considerado um peixe apreciado para a alimentação com exceção da América do Sul. No Brasil (o maior consumidor), Panamá e África(em menor escala) são encontrados facilmente em mercados de peixe. A sua carne não é consumida nos Estados Unidos e na Florida, a venda comercial do Camurupim é proibida. A pesca esportiva tem grande relevância econômica, principalmente na Flórida onde gera aproximadamente 731 milhões dólares anualmente. Destes, 465 milhões dólares são oriundos diretamente das atividades da pesca esportiva e o restante captado pela enorme indústria turística da pescaria esportiva, envolvendo embarcações de alta tecnologia, guias, hotéis, aluguel de equipamentos, licença de pesca, ecoturismo etc.etc.

Desde 1989, o estado da Flórida adotou regras severas para a sua pescaria incluindo a obrigatoriedade de uma licença exclusiva no valor de $50.00, para cada pescaria. Este processo e a fiscalização rigorosa e permanente favoreceram o um aumento considerável do pesca e solte e como conseqüência a preservação e proliferação dos cardumes. Os peixes segurados desse modo foram mostrados para recuperar rapidamente e recomeçar atividades normais dentro de um período de tempo curto.

Conservação da espécie:
A prática do pesque e solte por pescadores esportivos sem as devidas precauções, pode ser uma causa da mortalidade do Camurupim do adulto. Entretanto, encontrou uma taxa elevada da sobrevivência entre 26 a 27 peixes estudados depois de fisgados e liberados na Florida. Isto indicaria uma mortalidade pequena para a pesca esportiva. Essa baixa mortalidade é baixa quando os peixes são fisgados na maxila, trazidos ao barco e liberados dentro de um período de tempo relativamente curto e não são removidos da água para serem liberados. Ainda assim, esse processo é a maior causa das mortes no pesque e solte.

A qualidade do Habitat e de água é reconhecida como especialmente importante no estágio adiantado da vida dos peixes marinhos encontrados nos estuários. Toda a degradação do ecossistema com impacto de poluentes em áreas estuarinas e de manguezal altera ciclo de desenvolvimento e sobrevivência dos Camurupins juvenis que utilizam estes ambientes com berçário. A poluição da águas afeta negativamente o Camurupim. Sua permanência em estuários, baias e lagos é considerado um indicador da saúde desses ecos sistemas.

Na Carolina do Sul o Camurupim foi declarado um peixe esportivo através de Lei estadual em 1991. Esta lei proíbe a venda e o comércio do Camurupim e limitou a sua pesca, (exclusivamente esportiva) de um peixe por pescador, por dia.

A pesca predatória no litoral norte nordeste, contribui para a diminuição dos cardumes que às vezes são quase dizimados por barcos pesqueiros que utilizam grandes redes de especialmente confeccionadas para a sua pesca (Maranhão). Relatos de pescadores dão conta de serem abatidos de 60 a 70 Camurupins adultos em apenas uma pescaria em águas maranhenses.

Predadores:
Os peixes pequenos rapinam os ovos e alevinos ainda em água de desova. Em águas litorâneas os pássaros piscívoros são predadores preliminares do Camurupim juvenil uma vez que incorporam áreas do berçário em mangues, estuários, lagos e lagoas. Os tubarões, touro e o cabeça de martelo, são os predadores principais do Camurupim adulto. A maioria de mortes atribuída à atividade pesqueira ocorre dos ferimentos ao ser embarcado e ainda de ataques de tubarões que aproveitam de sua vulnerabilidade durante a pescaria quando fisgados. Embora os pescadores conscienciosos tentem cortar a linha para liberar o Camurupim das garras dos tubarões, esses deixam, ocasionalmente, o pescador com somente a metade do peixe.

Parasitas como o micróstomo (metazoários) causam a digenetite infecção provocada pelo Lecithochirium, que ocorre no intestino do Camurupim. Os parasitas externos incluem o acuminata de nerocila e o oestrum de cymothoa que causam infecções entre as escama causando muitas vezes a morte. Embora não parasítico, as rêmoras freqüentemente juntam-se ao Camurupim adulto. O Camurupim não é listado atualmente como espécime ameaçado de extinção graças aos esforços de agências governamentais, ONGs e outros organismos de proteção e conservação que em parceria estabelecem regras para as pescarias esportivas principalmente nos Estados Unidos.

Criação em cativeiro:
(Roberto Menks)
No Maranhão em áreas litorâneas é comum pescadores escavarem nos quintais de casa pequenos tanques onde são criados os Camurupins. Dependendo da localização ligam os diminutos açudes até o mangue através de tubos de PVC que captam a água das marés altas repondo e renovando o volume do criadouro. Quando isso não é possível a captação é feita de água doce mesmo a exemplo de alguns açudes de dimensões bem maiores mantidos exclusivamente pelas precipitações pluviométricas em algumas fazendas da região. Os pequenos peixes entre 10 a 15 cm são capturados com facilidade em berçários, principalmente em lagos formados pelas águas das grandes marés que são mantidas durante meses pelas intensas chuvas do inverno maranhense. Usam pequenas redes de nylon com pequenas malhas para não serem presos pela cabeça e preservar suas condições de sobrevivência e transportados em caixas de isopor ou tonéis de plástico. As distâncias entre os locais de captura e o cativeiro não podem ser grande devido o alto estresse provocado pela agitação da água, a perda da mucilagem (aquela gosma protetora das escamas) descameamento e o choque térmico entre outros fatores que implicam na sua mortalidade.

Durante muitos anos temos estudado e feito observações genéricas sobre esse processo antigo de criação doméstica. Constatamos que a sua capacidade de adaptação em água salobra ou doce, com alta tolerância ao ambiente de baixo O2, faz com que se desenvolvam muito rapidamente e podem atingir cerca de 3 kg por ano se bem alimentados. Após 5/6 anos começa a se desenvolver em menor escala. Observações in loco, e pesquisas, e conversas com pescadores/criadores nos foi relatado o caso de um Camurupim chegou a pesar 40 kg. A sua idade ou tempo de cativeiro não são precisos, mas, supostamente, não por mais de 8 anos. A densidade populacional não é um fator que iniba o seu crescimento visto que já foram pesados espécimes de até 25 kg em pequenos criadouros com aproximadamente 80m2, entre uma população de 20 exemplares. Em uma área de 200 m2, foram colocados 180 alevinos que após um ano de cativeiro, atingiram o peso de 1,80 a 2,50 kg sem alimentação abundante.

São alimentados regularmente com camarões, sardinhas e outros peixes que são presas de seu habitat natural, mas habituam-se a toda sorte de alimentos de origem animal: entranhas de peixes, aves, carnes, casca de camarão e ração para peixes. Ficam dóceis e percebem a presença do tratador na hora da alimentação e é possível dar-lhes um peixe diretamente à boca. No período logo após ser colocado em cativeiros, o alimento é triturado ou picado deforma a facilitar a sua ingestão. Ao atingirem 20/25 cm começam atacar o alimento mais sólido engolindo pequenas sardinhas e camarões inteiros.

Uma experiência interessante foi observamos seus ataques violentos e espetaculares em criação consorciada onde peixes como a piaba, tilápias e carás (forrageiros) quando alimentados com ração acabam, com o movimento frenético na superfície, atraindo, os Camurupins até as margens do açude onde aproveitam o seu instinto de exímio predador para caçar. Isso desenvolve uma interessante adaptação no hábito alimentar visto que os levam a consumirem a ração. No entanto, desconhecemos uma criação doméstica que faça o uso sistemático da ração. Mas sem dúvida pelas nossas observações, concluímos que é possível a dieta ser exclusivamente do alimento industrial.

Contudo, mesmo com esse interessante desempenho de adaptabilidade, não perdem seu instinto de grandes lutadores na hora da fisgada e a sua conhecida habilidade dos saltos e das fugas. A pesca de exemplares em cativeiro acaba tornando mais desafiador visto que após o primeiro peixe fisgado há um estresse generalizado e pode levar horas para um novo ataque. Em açudes de grandes dimensões a ação é mais localizada e há evidentemente menos estresse. Dependendo de alguns componentes que possam afetar seu comportamento como condições climáticas (preferem a água mais quente), alimentação abundante, estresse do ambiente, pode-se passar o dia todo sem uma única ação. Em algumas experiências com plugs de superfície sem garatéia pudemos observar que muitas vezes perseguem a isca várias vezes e por longo tempo sem que, porém, ataquem-na diretamente, isso um dia após demonstrarem grande voracidade à mesma metodologia. Com o uso de iscas naturais percebe-se que aumentam os ataques, contudo não as capturas.

Via de regra é reconhecidamente um troféu de difícil captura seja na natureza ou em cativeiro.

A maioria dos criadouros domésticos de fundo de quintal comercializa sua produção regularmente para o consumo quando atingem cerva de 3 a 5 kg, como forma de incremento à renda familiar.

Autores consultados:
(Crabtree e outros 1995, 1997)
(Crabtree e outros. 1992).
(Hill, 2002; Luna, Reyes, e Froese, 2005)
(Morey, 2000)
(Garcia e Solano 1995)
(Whitehead e Vergara 1978)
(Zerbi e outros. 2001)
(Edwards (1998)
(Menks 1993; 2008)

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