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Camurupim em rios e lagos

Apesar de ser um dos peixes esportivos mais abundantes no Nordeste, o camurupim ainda é um espaço a completar no álbum das espécies almejadas por grande parte dos que arremessam suas linhas nessa região do país. Chega a ser surpreendente perceber quantos pescadores ainda não experimentaram o prazer de duelar com esse animal maravilhoso, que proporciona um verdadeiro espetáculo com seus saltos e nos faz sentir um misto de adrenalina e contemplação. Por isso, ao final dessa matéria, esperamos trazer aos nossos leitores as informações necessárias para deixá-los um pouco mais próximos do momento da fisgada e do clique que eterniza em foto a lembrança da emoção vivida.

Nícolas Sato e seu pim capturado na lagoa do Araçá

A princípio, é importante saber que o camurupim pode ser capturado tanto em rios e lagoas como em água salgada. Na verdade, é possível encontrar esse tipo de peixe virtualmente em qualquer rio que tenha ligação com o mar. O interessante, como em qualquer pescaria a ser feita em local que ainda não conhecemos, ou cujas espécies de peixe não temos certeza de habitar, é perguntar aos que freqüentam o pesqueiro. Alias, um ponto que deve ser levado em conta, é a resistência do camurupim às agressões do homem. Por isso, conseguimos pescá-lo mesmo em rios urbanos com elevado índice de poluição.

Camurupim capturado na bacia do Pina

Um exemplo disso pode ser observado no Recife, onde encontramos camurupins tanto no rio Capibaribe quanto na Bacia do Pina, locais fortemente marcados pela presença humana e a seqüelas ambientais decorrentes dela. Nesse tipo de pescaria, apesar da grande quantidade de peixes, nos deparamos com sacos plásticos, lixo doméstico, e todo tipo de desperdício lançados pela população diretamente nas águas ribeirinhas. Sem dúvida um ponto negativo para a prática do nosso hobby. Mas vamos à pescaria propriamente dita.

Fora da água salgada os camurupins geralmente não chegam ao seu tamanho máximo (que pode superar os 150kg) e é mais comum capturar exemplares entre dois e 10kg. O que não quer dizer que não seja possível se deparar com um peixe muito maior do que a média. O “rei prateado” pode ser fisgado com uso de iscas artificiais, Fly, iscas naturais vivas e, mais raramente, com iscas naturais mortas. Nas linhas abaixo falaremos das modalidades com artificiais e iscas vivas, visto serem as mais eficientes para este espécime.

 

Iscas Naturais Vivas

O engodo que vai na ponta do anzol pode variar de um lugar para outro em nossa região e depende muito do alimento que o peixe está acostumado a encontrar. Por isso vamos resumir a duas opções que nos servem, tanto pela facilidade em obter quanto pela eficiência em atrair esse peixe: o camarão vivo e o guarú – que nada mais é do que a denominação geral para pequenos peixes presentes na margem do próprio local de pesca. O guarú pode ser adquirido com uso do gererê – artefato que consiste de um aro geralmente metálico atrelado a uma rede de malha fina – ou até mesmo por meio dos caiçaras locais.

O sistema utilizado é o de arremesso com bóia montado com um girador amarrado a linha que sai do molinete ou carretilha, uma bóia com chumbo para lastro e uma pernada de comprimento variável com um anzol na ponta. O modelo depende da preferência de cada pescador, mas é extremamente importante que esteja bem afiado, pois a boca do camurupim é muito dura e um anzol velho certamente resultará em uma diminuição das capturas. Recomendamos os tamanhos 2/0, 3/0 ou de acordo com a dimensão da isca que se vai utilizar. Outro ponto vital é utilizar um anzol resistente, já que não é incomum perder o peixe pela abertura de material de qualidade inferior.

Dito isso, é só colocar a isca, o camarão fisgado pelo chifre e o guarú pelo dorso ou pela parte superior da boca e realizar o arremesso. Deixe a bóia ser levada pela correnteza, recolha e arremesse novamente de tempos em tempos de modo que a isca percorra uma quantidade significativa do pesqueiro em busca do troféu. Mas fique atento. Quando o peixe ataca, a bóia some repentinamente da flor d”água e o pescador dever realizar a fisgada rapidamente sob pena de perder o peixe num momento de descuido.

 

Iscas Artificiais

Talvez seja a modalidade mais prazerosa para fisgar o “rei de prata” porque permite arremessar a isca “na cara do peixe” quando ele sobe a superfície. Sim, muitas vezes é possível visualizar a nadadeira dorsal do camurupim cortar a água, denunciando sua presença e a direção em que está seguindo. É nesse momento os pescadores de artificial arremessam as iscas imediatamente à frente de onde o camurupim aflorou e realizam o trabalho na expectativa de sentir o ataque do torpedo prateado.

Para os que nunca tiveram a oportunidade de digladiar com esse espécime, vale uma regra geral, procure escolher iscas pequenas, entre seis e nove centímetros, pois são as mais efetivas. Evidentemente, é possível fisgar o peixe com outros tamanhos de plugs, mas as ações tendem a aumentar dentro dessa faixa de comprimento. Em alguns locais o camurupim ataca bem na superfície e torna possível uma pescaria quase que exclusiva com esse tipo de isca. Em outras localidades as iscas de meia água são mais indicadas. Por isso vale a sensibilidade do pescador para encontrar a profundidade onde os peixes estão mais ativos.

Se tivéssemos que optar por apenas dois tipos de iscas para capturar os camurupins certamente a escolha mais indicada para nossa caixa seria o Popper e o conjunto de shad acoplado ao jig head. O popper, entre seis e oito centímetros, na maioria das vezes é a escolha inicial da pescaria por favorecer os ataques na superfície que tornam a briga com o peixe ainda mais interessante. Apenas para servir de referencia, citamos as iscas Vulcan 70 (7cms e 12g) e Speed Pop 80 (8cms e 9,5g), ambas da Marine Sports. Os poppers devem ser trabalhados com um toque curto e firme de ponta de vara fazendo a isca espalhar água pela superfície. Para o camurupim o trabalho deve ser lento, algo como um toque a cada dois segundos.

Já os shads mais indicados medem 3”, ou seja, 7cms, preferencialmente na cor branca. O peixinho de silicone pode ser acoplado a jig heads de pesos variáveis, entretanto uma boa medida são as cabeças de chumbo com 14gr e anzol 3/0. Assim como com os poppers, o recolhimento deve ser lento, combinado com um ou dois toques ocasionais.

Tenha nervos de aço, pois o camurupim erra com bastante freqüência o ataque a isca. Isso, muitas vezes, nos faz dar uma ferrada prematura, tirando, literalmente, o plug da boca do peixe. Não é incomum ver o peixe errar quatro, cinco, seis vezes o ataque ao peixinho de plástico e, ainda assim, continuar a perseguir a presa. Uma idéia que deve ficar na mente de quem pretende capturar essa espécie é o fato de vermos o peixe estourar a água enquanto fazemos o recolhimento de linha, inclusive tocando a isca, mas sem colocá-la na boca. Por isso é possível sentir pequenas pancadas enquanto o camurupim persegue nosso engodo. O ideal é realizar a fisgada na hora em que se sente a linha “pesar”. Entretanto, infelizmente, só a pratica ensina o momento correto.

Por falar em fisgada, esse é outro ponto fundamental para conseguir posar com o camurupim na foto. Sua boca é formada por placas ósseas que dificultam bastante a penetração do anzol. Por isso, além de contar com o equipamento o mais afiado possível, como já foi mencionado, devemos realizar uma ferrada vigorosa, tanto para a pescaria com artificiais quanto no caso das iscas vivas. E não apenas isso. Outro detalhe importante é realizar uma segunda e, até mesmo uma terceira, ferrada para confirmar o peixe na linha.

Entretanto, isso não deve ver feito de maneira aleatória. Quase sempre após a primeira fisgada, o “rei prateado” salta da água tentando se desvencilhar do anzol. É nessa hora que a maioria dos exemplares escapa. Porém, se o peixe deu seu primeiro salto ou mesmo se não saltou após a fisgada inicial, dê uma nova puxada firme para diminuir a probabilidade de fuga do torpedo. Vale lembrar que, mesmo usando todas as técnicas listadas acima, até o mais experiente dos pescadores ainda perde uma quantidade considerável de peixes dessa espécie em meio às piruetas que o camurupim performa sobre a água durante a briga.

 

Iscas naturais – Corrupto

Geralmente, quando começamos a nos aventurar no universo da pesca, sobretudo nos primeiros arremessos em praia, somos impelidos a usar camarão como isca.  A facilidade na obtenção desse crustáceo e o baixo custo de aquisição certamente tornam seu uso atrativo. Entretanto, apesar de ser uma boa isca e proporcionar belas capturas, existe uma isca ainda melhor: o corrupto.

Coloquem dois pescadores usando exatamente o mesmo equipamento, arremessando as chumbadas à mesma distância, diferindo apenas na isca utilizada, um com camarão e outro com corrupto. É perceptível o aumento na produtividade do pescador que utiliza a isca da qual versa essa matéria.

O corrupto é um crustáceo de 10 patas que visualmente parece uma mistura de lagosta e camarão. Ele pode chegar a atingir 30 cms de comprimento, porém é mais comum encontrar indivíduos na faixa dos 10 cms. O nome popular pode soar estranho, mas denota uma particularidade desse animal e a criatividade brasileira. A alcunha foi atribuída por existirem muitos desses bichinhos nas praias e por serem difíceis de capturar, algo muito parecido com o que acontece em Brasília em relação aos nossos representantes públicos.

Os corruptos (isca) vivem em pequenos buracos que podem ser vistos durante as marés mais baixas do mês na areia molhada da praia. Para capturá-los é imprescindível o uso de uma bomba de sucção feita com canos de PVC (cujo tutorial para manufatura será postado em breve) e encontradas à venda nas lojas de pesca. Não adianta cavar com as mãos, nem com pás e nem com outra invenção mirabolante. Para retirar o corrupto você deve localizar o buraco que denuncia a existência do anima ali, posicionar a bomba sobre o lugar e num movimento rápido, puxar a alça de sucção para extrair a terra do local. É importante que a bomba não penetre muito na areia e sim puxe para dentro de si o material. Caso o exemplar não seja retirado até a segunda investida, opte por fazer uma nova tentativa em outro buraco. As melhores marés para a captura são as abaixo de 0,3m.

Nem todas as praias são habitadas por esses animais, por isso fique atento aos locais mais indicados para sua captura. A praia de Boa Viagem é a opção mais prática e oferece um bom número desses indivíduos, principalmente entre o clube dos oficiais da aeronáutica e a igrejinha de Piedade, localizada no bairro de mesmo nome. No Paiva também é possível retirar essa isca caminhando em direção ao pontal (saída do rio que separa a praia de Barra de Jangada. Outros dois bons pontos para a coleta são Olinda e Maria Farinha. Nesta última localidade vale levar em conta que os corruptos residem mais profundamente na areia e demandam maior esforço para serem retirados.

Outra coisa que o pescador deve ter em mente é que, por mais que a maré esteja ideal para apanhar esta isca, nem sempre haverá quantidade significativa para ser coletado no mesmo local onde foram capturados da vez anterior. Assim como tudo em termos de pescaria, há essa dose de incerteza que deve ser considerada na hora de se programar.

Com isso em mente, fica uma última dica para tornar sustentável o uso desse crustáceo como isca. Devolva os indivíduos “ovados” ao buraco de onde foram retirados. É muito freqüente ver pescadores coletando os corruptos sem nenhuma distinção de tamanho ou repletos de ovas, uma atitude predatória que tem forte impacto na população do animal.

Colocação no anzol e conservação

Com os corruptos em mãos é hora de partir para a pescaria. Se forem utilizados no mesmo dia da captura convém usá-los vivos e realizar trocas periódicas da água para assegurar que mantenham um bom nível de oxigenação o que prolonga sua durabilidade.

Cada pescador desenvolve seu método para colocar o corrupto. Alguns transpassam o anzol pelo corpo do bicho, como se iscassem uma minhoca. Outros fazem pequenas bolas e depois as prendem. Independente da forma que você escolher, o uso do elastricot é indispensável. O corrupto é uma isca extremamente mole e, se não for bem fixado com o elástico destinado para esse fim, certamente cairá durante o arremesso.

Para quem ainda não usou essa isca ou para quem tem dificuldades de utilizá-la, sugerimos uma forma simples, mas eficiente de afixar o animal. O meio do corpo do animal é gelatinoso e se dobra perfeitamente em qualquer direção, por isso recomendamos que essa parte seja colocada sobre a curvatura do anzol de modo que fique pendurada, em seguida, junte a cabeça e a cauda, que são mais duros, entre o dedo indicador e o polegar e as prenda ao olho do anzol (ou pata) usando o elástico para fixar. Depois dê várias voltas ao longo do corrupto deixando-o preso bem firme.

Se a intenção não é utilizar a isca no dia, ou mesmo para guardar os que sobraram, é recomendado salgá-los com uma quantidade generosa de sal, e congela-los em potes com quantidade suficiente para uma pescaria. Dessa forma a isca fica viável por vários meses, o que evita o desperdício e a captura demasiada de exemplares.

Existe ainda a opção de fazer a compra dos corruptos. Nesse caso, a maneira mais interessante é ligar para um caiçara que captura exemplares de bom tamanho na praia do Paiva e os vende em garrafas ao valor de R$ 5,00 e R$ 10,00. A pessoa em questão é o Fernando, conhecido pelo pessoal com Boquinha. Ele aceita encomendas e entrega em toda região de Boa Viagem ou outro ponto a combinar. O telefone é o 9158 3156. A embalagem de menor preço contém cerca de 40 corruptos, mais do que suficiente para uma boa pescaria. Já a segunda embalagem tem mais que o dobro desse número e serve bem até três pescadores.

Recifes do Nordeste

Por Victor Cedro*

Segundo Aurélio Buarque de Holanda, um recife ou arrecife é um “rochedo ou série de rochedos à flor da água, nas proximidades das costas”. No nordeste brasileiro geralmente ocorrem dois tipos básicos formação os recifes de arenito e os de coral.

O primeiro tipo, o arenítico, nada mais é do que uma antiga praia fossilizada, cujas partículas se cimentam devido à ação da água marinha, sol e ácidos provenientes do húmus do solo, o que faz com que eles ocorram próximos a foz de rios e lagunas. Também existem corais, mas a composição básica desses recifes consiste em areia e fragmentos de conchas e algas calcárias. A forma geral é a de uma barreira, geralmente paralela a linha de praia, como no caso da famosa praia de Boa Viagem, no Recife. Em termos de pesca, são muito apreciados para a modalidade de arremesso, quer seja no lado exposto ao mar ou no canal que o separa da praia. Durante a noite o canal interior, de separação com a praia, costuma ser freqüentado por espécies de peixes esportivos, como Camurins, Camurupins, e Caranhas, além outros tipos de peixes passagem, que usam o canal como acesso ao estuário mais próximo, de acordo com o ciclo da maré. Durante o dia, o lado exposto ao mar costuma ser o mais rico em espécies esportivas.

Recife de arenito em Barra de São Miguel, litoral central de Alagoas

A outra formação encontrado com frequencia em nossa costa é o recife de coral. Ele é composto basicamente pelo esqueleto calcário de certos animais coloniais ou solitários do grupo dos Cnidários, o mesmo das águas-vivas e flores-das-pedras. Possuem forma irregular, circular ou de barreira, com ou sem um canal/laguna que os separe das praias. Os atóis, cabeços ou parceis geralmente são recifes de coral. Formam um substrato que serve de fixação e abrigo para diversas espécies de peixes esportivos, como Camurins, Camurupins, Xaréus, Arraias, Vermelhos, Pampos,  e.t.c.

Foto: A. G. A. Borba Jr.
Foto: A. G. A. Borba Jr.

Recife de Coral no Litoral Urbano de Maceió. Notem que não há uma separação clara entre o recife e a praia

Fatos interessantes sobre os ecossistemas recifais:
– Águas tropicais, como as do nordeste brasileiro seriam pobres em peixes e outros animais, se não fosse pelos recifes de coral e arenito. Nordeste brasileiro sem peixes, difícil de acreditar não é?
– A diversidade em alguns recifes chega a ser superior à das florestas tropicais, esses ecossistemas estão entre os mais importantes e os mais ameaçados do mundo!
– Eles formam uma barreira natural, que protege a linha de costa contra a força do mar, algumas décadas atrás foram dinamitados para uso na agricultura e construção civil, favorecendo continuamente a erosão das praias em diversos locais.
– A maiores ameaças aos recifes de coral são: o aquecimento global, o lançamento excessivo de sedimentos e aditivos em estuários, que sufocam os recifes de coral, além das práticas predatórias humanas.
– A grande barreira de coral australiana possui cerca de 2300 km de extensão, sendo a maior do mundo.

Foto: A. G. A. Borba Jr.

Recife de Coral da Ponta do Prego, litoral norte de Maceió, um recife com separação em relação à praia

* Victor Cedro é Biólogo e Mestrando em Diversidade Biológica e Conservação nos trópicos

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