Esse último final de semana, como sempre, viajei ao interior para passar o natal em família, na propriedade dos meus avós maternos. O local fica à cerca de 550 Km de João Pessoa, próximo ao município de Cajazeiras.
Sempre aproveito o momento para realizar alguma pescaria pelo sertão, com objetivo de capturar grandes exemplares de Tucunaré. Esse ano, o alvo escolhido foi a barragem de São Gonçalo, que fica uns 5 Km do município de Sousa, que dista cerca de uns 440 Km de João Pessoa.
Escolhi São Gonçalo por alguns motivos, essa barragem tem mais de 30 anos de existência, na sua construção, foi populada por Tucunarés da espécime, Paca e Açu. Alem disso, é uma barragem extremamente irregular, com relação ao seu curso, que delineia algumas ilhas e pequenas serras e muitas estruturas pedregosas, formando assim um perfeito ambiente para o pescador esportivo.
Observem a quantidade de formações rochosas:

Pesqueiro em detalhe:

O planejado foi realizar duas pescarias, uma à tarde da sexta-feira, outra na manhã do sábado.
Nessa pescaria, não pude contar com os parceiros de pesca do sertão, Anibal e Martins. Portanto, resolvi radicalizar um pouco, e levei um caiaque Lontras, para servir de meio de transporte para chegar aos pesqueiros.

Cheguei à barragem na sexta-feira, por volta das 11:00 hrs da manhã, paramos próximo a parede, em um barzinho, pusemos a mesa em uma sombra nas margens do açude, e pedimos uma cerveja para relaxar um pouco.
Mas, como um verdadeiro pescador esportivo, rapidamente saquei uma vara com carretilha e linha multi 40 Lbs, com uma isca MS Flash Minnow de 9 cm. E em 10 minutos já tinha capturado 2 tucunares, sendo um paca e outro Açu, ambos com cerca de 600g. Bom sinal, fiquei muito motivado.
Como ninguém é de ferro, relaxei um pouco a sombra de alguns coqueiros que margeavam a barragem, tomei umas 2 cervejas e saboreei alguns Tucunarés fritos. É claro que não foram os meus, porque eu os soltei.
Após um breve descanso, chegou a hora da verdade, caiaque devidamente pronto, já na água, e pescador alimentado e com muita vontade de rebocar alguns bons Tucunas. A guerra começaria.
Durante a tarde de pesca, percorri muitas ilhas, muitas estruturas de rochas. Potenciais pesqueiros, onde temia perder iscas. Utilizava a técnica de remar até uma ilha e pescava de barranco.
O resultado não foi frustrante nem tão pouco decepcionante, mas, para o potencial do lugar, foram poucas ações, porem, sempre ação de grandes exemplares, sempre escapando das garatéias. Ainda tive muitas perseguições de tucunarés um tanto tímidos e lentos. Pus isca de superfície, pois o sol já dava sinais de queda, hora ideal para explosões na superfície. Ainda tive umas duas ações sem sucesso.
No primeiro embate, senti que os peixes levaram vantagem. Mas, nem só de fisgadas vive um pescador esportivo. E, em momento de contemplação, pude apreciar uma bola de fogo que se preparava para afundar ao horizonte, mais uma vez iniciava-se a dança do por do sol.
Pude observar o mais belo por do sol que meus olhos já viram.


A noite chegou, e com ela, o cansaço físico tomava meu corpo. Fui a pousada para tomar um banho e rapidamente repor as energias num jantar reforçado com Tucunaré e Baião de Dois como complemento.
Após um longa noite, em que travei uma sangrenta batalha com os pernilongos gigantes de são gonçalo, deixei a pousada em direção a barragem. Imaginem a cena!
O sol já anunciava sua chegada, enquanto o caiaque e seu dono já se preparavam para mais uma jornada em busca dos grandes troféus.
Optei por seguir por outros setores da barragem, os quais ainda não conhecia e que, pela aparência, me deixava muito esperançoso. Mas, nem sinal de peixe, nem se quer um pequeno alevino aparecia para, pelo menos, me desejar um bom dia.
Encontrei um pescador local, que utilizava uma canoa rústica e pescava, utilizando como iscas, Lambaris vivos. Tive uma rápida conversa com o ribeirinho, que desabafou sua insatisfação com a situação atual da barragem. Ele relatou que, pescadores fazem uso indiscriminado de redes e também que muitas embarcações, como lanchas jet-skies, provocam a evasão dos peixes.
Mas, entre uma palavra e outra, ele indicou alguns pesqueiros próximos, onde já tinha capturado bons exemplares. Segui seu conselho e rapidamente tomei o rumo em direção a uma estrutura rochosa com muitas pedras submersas. Pense numa boca abençoada !
Ao chegar ao local, arremessei entre duas grandes rochas, que formavam um pequeno canal entre si. O coração bateu forte, e a emoção tomou conta de mim. Um belo exemplar de Tucunaré Paca arrebatou minha isca Flash Minnow de 11cm. Após um show de saltos o nobre guerreiro de barbatanas entregou-se.
3 Kg de pura emoção

Com o animo renovado, fui em busca de outros pesqueiros. Mas, sem sucesso. As horas passavam-se e o sol iniciava o castigo diário de assolar, sem piedade, o sertão. Resolvi voltar, tinha que seguir viagem para a fazenda dos meus avós, onde meus familiares me aguardavam.
Após arrumar o caiaque e toda parafernália de pesca dentro do carro, um atrevido Tucunaré resolveu bater na superfície, bem a minha frente. Saquei a carretilha do carro, pus uma isca de meia água e rapidamente efetuei um arremesso, que foi certeiro, pois o atrevido atacou de imediato minha isca, e um belo Açu juvenil foi capturado e fotografado.

E assim findou-se mais uma aventura do vosso amigo, em que reforcei o conceito que o Tucunaré é muito sensível a vibrações e agressões ao seu ambiente, tornando-o extremamente desconfiado.
Um feliz 2007 para todos.