Minha caixa de Pandora

Há milênios, Zeus e os deuses do Olimpo entregaram uma caixa fechada à guarda de Pandora, com a recomendação de nunca abri-la. Entretanto a curiosidade feminina não resistiu, e um belo dia a tentação sucumbiu à obediência, libertando todos os males da humanidade. Arrependida, Pandora tratou de fechá-la, mas era tarde, restou no fundo da caixa apenas a esperança, até hoje encerrada e perdida na névoa do tempo…

Pois é, pessoal, todos nós, pescadores, temos nossas caixas de Pandora, onde depositamos todas as esperanças de capturar o peixe dos sonhos.

A grande vantagem é que não são os deuses que selecionam e determinam quais iscas devem ficar em nossas caixas, mas sim a experiência acumulada nas pescarias, mas mesmo assim nunca temos certeza absoluta do que funcionará, sempre estará faltando alguma coisa, dependendo do dia, local, hora ou dos acontecimentos da  ocasião. Por isso é que, após racionalizar ao máximo as iscas preferidas, reunidas em apenas uma caixa, voltei atrás e preparei três caixas que acredito atenderão a maior parte de minhas necessidades nas pescarias de mangues, pelo menos até a próxima, quando novamente serão reformuladas. Afinal, todo dia aprendemos alguma coisa e esse aprendizado não tem fim…

A caixa número 001 contém algumas de minhas iscas favoritas na pesca do robalo em mangue, e normalmente as mais usadas são as Long A 15, para os robalos maiores,  e as Long A 13 e 14 para o geral. No mesmo nível de preferência estão as iscas da Mirrolure, tanto as 7MR quanto as 44 MR, Provoker  e Sticks. No banco de reservas  mantenho outras que uso menos, apenas eventualmente, como as Lelé e Trick da Borboleta, The FIRST, Rapalas CD 9 e uma Suspending da Smithwick.

Já na caixa número 002 estão outras campeãs de audiência, as Red Fin 800, para robalos menores, e as Red Fin 900, para os bitelos. Nessa caixa as esperanças são também depositadas nas Soft Baits, em iscas como grubs, shads e camarões artificiais, além de jigs. Fica na reserva minha isca favorita para a pesca de tucunarés, a Jumpin’Minnow.

A caixinha número 003 é a responsável pelos snaps (presilhas), argolas, garatéias para substituição, se preciso, e o inseparável TRIM para cortar as aparas das linhas. Nessa caixinha guardo uma preciosidade que ganhei de presente do Alexandre, uma isca da Mirrolure desenvolvida para a pesca do tarpon, a 65M. Ainda não usei, estou guardando para quando topar de frente com a patota deles…

Nela ficam ainda outras reservas,  Tan Tan e Sticks da Borboleta,  e uma que era muito usada na pesca do Black Bass, a Hellbender. O bom dessa isca é que ela nada bastante fundo, e chegará o dia em que terá que entrar em campo, certamente. Completando o time, jumping jigs, colheres e Krill, que não podem faltar na caixa quando os predadores estão entrando e subindo o rio atrás dos cardumes de arenques e/ou sardinhas.

Essas são as minhas caixas de Pandora para o rio Cunhaú… Dentro delas estão minhas  esperanças toda vez que saio  para uma pescaria…

O turismo e a pesca esportiva no Rio Grande do Norte

O Rio Grande do Norte ainda não despertou para uma nova modalidade de turismo que vem crescendo em algumas regiões do Brasil, mas que em muitos países das Américas como: Estados Unidos, Costa Rica, Argentina, Chile ou Venezuela já é uma realidade. Esses países já aboliram a prática da pesca comercial e predatória, pois viram que os peixes (muitos deles bastante esportivos) valeriam muito mais vivos, servindo a pescadores dispostos a gastar algumas centenas de dólares para fisgá-los alugando barcos apropriados e contratando guias especializados do que os míseros tostões que eles valem numa banca de feira ou supermercado.

Ao lado e ilustrando a abertura da matéria, o Tucunaré é um dos vários peixes de interesse para os pescadores esportivos. De olho nesse mercado, empresários tem contribuído para a preservação ambiental, gerado empregos mais rentáveis às populações locais de várias regiões e obtido crescente retorno de seus investimentos no turismo voltado à pesca esportiva!

No Brasil, um bom exemplo de que este mercado pode dar certo, está na Amazônia, onde vários empresários do setor turístico montaram toda estrutura necessária para atender turistas pescadores do Brasil ou de fora que queiram travar belas lutas com uns de nossos melhores peixes para pesca esportiva, o Tucunaré, que na Amazônia pode atingir até mais de 12 quilos. Muitos pescadores que antes matavam esses peixes para vender nas feiras e o ganho na venda do peixe muitas vezes não era satisfatório, viram que trabalhar como guia de pesca para esses empreendimentos do ramo de turismo lhe rendiam muito mais dividendos e hoje, em muitos rios da Amazônia, a pesca profissional é totalmente proibida, sendo permitido apenas a pesca artesanal de subsistência ou a pesca esportiva onde não é permitido levar peixe. Atualmente a qualidade de vida das famílias dos guias que trabalham com pesca esportiva é bem superior do que no tempo que eles trabalhavam como pescadores profissionais. No Rio Grande do Norte já começou uma pequena mobilização a favor do turismo de pesca. Em Tibáu do Sul, por exemplo, alguns hotéis já oferecem a seus hóspedes a pesca esportiva como uma de suas atividades aos turistas (na grande maioria estrangeiros) dispostos a pagar uma boa quantia para fisgar o Camurupim, um dos peixes mais esportivos do mundo que pode atingir até 150 quilos e “ainda” bastante abundante em nossa costa.

Em nossa sociedade, moldou-se o cenário geográfico gerando o nascimento de cidades litorâneas em função da economia pesqueira. Surgiram os núcleos pesqueiros. Como em regiões do Norte do país, comunidades agruparam-se em função dos afluentes de rios.

Exemplo da muitas espécies que podemos explorar no turismo voltado à pesca esportiva: o Pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do mundo (cresce até três metros de comprimento e pesa quase 250 kg). No estado do Pará obteve-se incentivos para sua preservação e crescimento. Como mostra a foto no alto, também crescem os investimentos em confortáveis barcos-hotéis.

São contratados serviços de guias que um dia foram pescadores profissionais e que hoje faturam bem mais apenas para levar os turistas para pescar. Cidades do interior banhadas por grandes barragens como: Armando Ribeiro Gonçalvez, Trairi, Santa Cruz do Apodi, etc, ou lagoas como a do Extremoz, poderiam também seguir o exemplo de Tibaú do Sul e atrair “turistas pescadores” para pescar outro peixe também bastante esportivo do Brasil, o Tucunaré, que hoje, povoam todas as grandes barragens do Estado. Porém, em pouco tempo, a pesca esportiva poderá se tornar uma atividade inviável devido à intensa pesca predatória que acontece em praticamente todos os cursos d’água existentes no Estado. Está na hora das autoridades ligadas ao turismo a ao meio ambiente abrirem os olhos para esse grande filão que a pesca esportiva poderá se tornar a exemplo de vários países que faturam milhões de dólares ao ano com essa atividade.

Alexandre Cardoso 

Um rio chamado Sibaúma

Há algum tempo atrás, em passeio pelo litoral sul do estado do Rio Grande do Norte, conhecemos um riozinho de nome Sibaúma que nos chamou atenção por parecer uma excelente opção para pesca de Robalo (aqui conhecido como Camurim), precisamos pescar algumas vezes nesse rio para “pegar a manha” e conseguir decifra-lo, fizemos boas pescarias, desde então, o “roteiro Sibaúma” já faz parte de nosso roteiro de pesca.

Distante aproximadamente 90 quilômetros da capital Natal, para chegar ao rio, seguimos pela BR-101 onde entramos na cidade de Goianinha e passamos em Tibáu do sul e Pipa até chegar a pequena cidade de Sibaúma.

Recentemente voltamos ao rio para gravar um vídeo (DVD) do grande amigo Marcos Réia sobre a pesca no Nordeste.

Escolhemos duas marés para a pescaria, dia 07 e 18 de setembro respectivamente. Subimos o rio com uma embarcação de 4 metros dotado de motor de popa de 8 Hp, levamos cerca de 40 minutos até o ponto onde começamos a descer e realizar nossos arremessos.

No trecho que vai da pequena foz até aproximadamente 1 quilômetro, o rio é um pouco raso, dificilmente ultrapassando 1,5 m de profundidade e dependendo da maré, nos obriga a descer da embarcação e arrasta-la por alguns trechos. Acredito que uma das causas do assoreamento do rio nesses trechos deve-se à construção de inúmeros viveiros de criação de camarões onde não foi respeitada a legislação que obriga em rios de pequeno porte como esse manter pelo menos 30 metros de mata ciliar em suas margens.

Mesmo assim, o consideramos um rio com bastante vida ainda, pois podemos ver cardumes de peixes subindo e descendo o rio constantemente. Dentre eles identificamos Saúnas, Carapebas, Tilápias além de uma enorme quantidade de lambaris.

O Sibaúma é um rio de água limpa e praticamente doce (excetuando sua foz nas marés cheias) com bastante vegetação aquática submersa onde podemos claramente ver os Robalos saírem de dentro para atacar nossas iscas e para onde retornam na tentativa de escaparem do anzol.

Além do Robalo, outra espécie que fisgamos com freqüência são os Jacundás, principalmente quando usamos iscas menores, mas há relatos também da existência de Tarpons (Camurupins), porém, ainda não tivemos a sorte de encontrá-los.

Em nossa pescaria, fisgamos Robalos Flechas (centropomus undecimalis), e o Robalo Trick (centropomus ensiferus). Não houve estranhamente captura de Pevas (centropomus parallelus), pois é a espécie de Robalo mais abundante em cursos de rios de água doce.

O maior Robalo fisgado na pescaria (um flechinha) pesou exatos 2 quilos, mas sabemos que sobem Robalos bem maiores, porém não são residentes, poderíamos afirmar que são peixes de passagem que eventualmente sobem para alimentar-se ou mesmo desovar.

Não há necessidade de uso de material muito pesado como, por exemplo, se estivermos pescando em canais de mangue mais largos e profundos onde há realmente a probabilidade (mesmo que remota) de fisgarmos grandes Robalões de 10 quilos ou mais até porque é um rio com poucas estruturas como galhadas submersas ou cracas que não desenvolvem na água doce. Para tanto, recomendamos varas de 8 a 14 lbs. Ou no máximo 8 a 17 lbs e carretilhas compatíveis carregadas com linha 0,28 a 0,33mm. Levamos também varas para molinete de 6 a 12 lbs munido com linha 0,23mm. Para arremesso de iscas bem leves de 5 centímetros. Usamos iscas de no máximo de 9 centímetros.

Particularmente prefiro o uso de iscas de superfície imprimindo um trabalho mais lento que julgo ideal para atrair os Robalos que são peixes bastante manhosos. Usei nessa pescaria iscas AICAS modelos: Bororó, Bom-Bom, Paca entre outras, mas sem dúvida uma isca que é um sucesso na pesca do Robalo é a Samurai, por se assemelhar bastante com um pequeno Lambari. Principalmente em cores brilhantes ou transparentes. Outro fato é que o acabamento cromado dessas iscas é bastante resistente, ao contrário de muitas iscas famosas no mercado que no primeiro contato com a boca áspera do peixe começam a descascar como se estivesse caindo o reboco de uma parede.

Por ser um Rio de água muito limpa, dá para ver o cardume vir atrás da isca, a pesca é praticamente no visual e quando um exemplar é fisgado os outros indivíduos do cardume o acompanham proporcionando ao parceiro de pesca arremessar e fisgar o seu também (duble). Em um desses cardumes chegamos a pegar praticamente todos os peixes (cinco no total) que obviamente foram liberados para que continuasse seu ciclo de vida.

Para finalizar, foi bastante prazeroso a pesca nesse pequeno rio, foi uma pescaria bastante produtiva com imagens incríveis de ataque de peixes e que esperamos em breve voltar e quem sabe, com um pouco de sorte fisgar Robalos bem maiores. E torcer também que as criações de camarões em viveiros não venham a prejudicar irreversivelmente este pequeno, mas belo curso d’água.

Alexandre Cardoso 

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