Pescando na Paraíba

Há muito tempo pescaria para mim deixou de ser sinônimo de grandes peixes. A satisfação primária passou a ser as companhias e os novos locais a serem descobertos, principalmente nesse nosso nordeste tão pouco divulgado.

Pensando assim resolvemos ir conhecer um pequeno rio na Paraíba, reduto de nosso amigo Auricélio antes de instalar sua estrutura em Barra do Cunhaú.

Esse rio, o rio Sinimbú, deve ser velho conhecido de outro especialista de pesca na Paraíba, o nosso amigo Max, que deveria nos brindar com mais informações de sua região. Falou em pesca na Paraíba, falou em Max!

Pois bem, saímos eu e o Alexandre para conhecer o tal rio, marcando encontro com o Auricélio e o Hércules no meio do caminho. Apesar de pequeno em extensão e largura, é grande nas emoções que oferece.

No GoogleEarth nosso amigo Chrony calculou ter uns  10km o rio Sinimbú, e, como ponto de apoio, contávamos com a hospitalidade e o apoio do pescador José Fidelis, com seu barco à vela,  morador da Aldeia Camurupim, perto da foz e do local conhecido como Boca da Barra ou Barreta Funda (Bacia do Coqueirinho), excelente ponto para a pesca do tarpon (camurupim), e um dos pontos turísticos da Baía da Traição. Aliás, ao ouvir pela primeira vez esse nome, não me caiu bem, mas confesso que hoje já acho até que tem certo charme…

A Baia da Traição conta com praias paradisíacas, muitas delas totalmente desertas, porém muito visitadas por turistas do mundo todo. O IBAMA desenvolve o projeto Peixe Boi-Marinho na Barra de Mamanguape, passeio indispensável para quem apoia os trabalhos de proteção à natureza.

Dentre todas as versões sobre a origem do nome Baía da Traição, é fato que no início do século XVI essa região era habitada e dominada pelos índios Potiguaras, uma das mais aguerridas tribos do litoral brasileiro. Uma das hipóteses é que o nome esteja vinculado à primeira expedição exploradora de 1501, quando três marinheiros portugueses foram mortos e devorados pelos nativos, depois de serem recebidos amistosamente, no primeiro porto onde a flotilha ancorou, no dia 17 de agosto. Fazia parte da expedição o famoso navegador Américo Vespúcio.

Voltando à pescaria, segundo informações do Zé Fidelis, as melhores marés são as marés de quarto, no reponto para a enchente. Apesar de pescarmos com artificiais, nos informou que com camarão vivo só se for da Baía, camarão de viveiro não presta. Outra boa isca é a sauna, visto que os tarpons também fazem suas incursões por esse rio.

As melhores épocas de pesca, ainda segundo ele, são no final do verão para o inverno, quando existe a troca de águas. Pescamos só uma vez por lá, objeto dessa matéria, mas acreditamos que a pescaria é boa durante todo o ano, preferencialmente no verão, pelo que vimos nos rios do Rio Grande do Norte.

Chamamos de verão a época que vai de agosto a março, e as melhores marés são, para variar, as “Marés de Lançamento”. Como sempre acontece, não fizemos essa pescaria na maré certa, e sim na que foi possível, mas mesmo assim foi gratificante pela companhia e por conhecermos um novo local.

As fotos de peixes maiores com o Auricélio foi na maré correta, mas não estávamos presente, infelizmente.

Temos que deixar bem claro outra coisa. Como o Miudinho (Alexandre) é ligeiramente avantajado, com 1,96m e 130 kg, qualquer peixe capturado por ele torna-se insignificante, minimizando nossas conquistas. EMAGRECE, MIUDINHO!!!

Ah!… E não se esqueçam… Pratiquem o Pesque & Solte…

Há gosto pro Capibaribe

Participe do evento intitulado: “HÁ GOSTO PRO CAPIBARIBE” o qual será realizado no dia 27/08/06 onde haverá uma grande caiacada (passeio de caiaque). Este evento tem como parceiro uma entidade que tem um projeto chamado RECAPIBARIBE sediada no Capibar à Rua Tapacurá, 101 Casa Forte (Poço da Panela) às margens do Rio Capibaribe.

Para mais informações clique aqui.

Um rio chamado Mutuca

Existem pescarias que nos marcam e que sabemos jamais se repetirão. Por mais que voltemos ao mesmo local, na mesma época, com o mesmo nível de água, etc., a natureza só nos privilegia uma vez. Isso aconteceu conosco, num rio chamado Mutuca.

À primeira vista não conquista o pescador, devido a grande quantidade de casas de ribeirinhos, uma após a outra. Além disso, até os pontos de pesca mais distantes, passa-se por quatro comunidades, cada qual com interesses próprios e comportamento diferente. Mas isso é outra estória, que já foi contada na matéria “EM NOME DE DEUS”. Esse é um dos pontos descobertos nas aventuras vividas quando “EM PESQUISA DE NOVOS PONTOS”.

Quando se vai pela primeira vez ao Amazonas e é levado para esse rio, fica-se a princípio um pouco decepcionado, pois vai achar um local bastante habitado, e normalmente associa-se pescaria abundante com regiões distantes e solitárias, selvagens mesmo. Afinal, não é o que se esperava encontrar no que é hoje considerada a última fronteira de vida selvagem no Brasil.

Relativamente próximo de Manaus, a 14 horas de viagem em Barco-Hotel, mais ou menos, é um rio estreito na maior parte do tempo, principalmente na época da seca, coincidindo por isso mesmo com a pesca do tucunaré.

Já na cheia engole barrancos e mata ciliar, expandindo suas fronteiras e criando armadilhas para os navegantes, escondendo seu leito como joia preciosa. É quando reina o igapó, refúgio para todas as espécies. 

Em uma de nossas últimas viagens para esse rio, levando um grupo de Santa Catarina, mais precisamente de Jaraguá do Sul, em 1999, tivemos a expressão máxima do que é pescar tucunarés no Amazonas. Esse grupo foi organizado por nossos amigos Romeu Konell e Gildo Hornburg, o arquivo vivo, como se autodenomina.

Saímos de Manaus num Sábado pela manhã, e no Domingo bem cedo já estávamos pescando.

Como é natural, os primeiros arremessos e pontos escolhidos serviram para o pessoal se integrar ao ambiente. É interessante como os pinchos iniciais são tímidos, como se tivéssemos medo, e, ao mesmo tempo, desejo de sermos surpreendidos com um ataque assustador. Passada essa fase, começa realmente a pescaria.

Por volta das 7 horas da manhã começou o bombardeio. Ao passarmos por um igarapé, largo de uns 30/40 metros, avistamos na entrada pontas de barranco que afundavam abruptamente, uma de cada lado. Paramos imediatamente, e após cessar o banzeiro e posicionarmos o barco com o motor elétrico, começou a festa. Não descreveremos a pescaria, pois não temos competência para isso, além do que é uma visão muito pessoal, vivenciada diferentemente por cada pescador. 

O rio estava ainda um pouco cheio, quase chegando ao nível ideal. Assim sendo, os pontos de arremesso eram aqueles convencionais, que todo pescador de tucunaré conhece. Procurávamos barrancos, entrada de lagos, ilhotas semi-submersas, concentração de tocos, galhadas, etc, e em todos esses pontos os ataques se faziam presente, mas o que nos chamava a atenção era que a maior parte das ações era de tucunarés de bom porte. Chegávamos a brincar perguntando: Será que nesse rio não tem peixe pequeno?

Mas o melhor de tudo ainda estava por vir. Independentemente da fartura de peixes em qualquer pescaria, nunca estamos satisfeitos com o ponto onde estamos, e o espírito de aventura e curiosidade fazem com que sejamos impelidos a gastar gasolina em busca do Eldorado. Assim fizemos e tocamos em frente em busca de novidades.

Sempre desprezamos como pesqueiros barrancos altos e que afundassem abruptamente, principalmente não havendo qualquer tipo de estrutura na água, como tocos ou outra vegetação qualquer. São locais normalmente muito fundos, e como não sabemos o que está submerso evitamos perder tempo. Ao passarmos por um desses barrancos, vimos uma tempestade localizada, num espaço de uns dois metros, e na sequência um peixe que calculamos em mais de um quilo pular e tentar subir desesperadamente pela encosta, inutilmente. Tornou a cair na água e daí para frente desconhecemos seu destino. Afobadamente duas iscas caíram na água e nada aconteceu. Estávamos em três pescadores, e o primeiro e mais afoito tinha arremessado no barranco, que era liso e sem enrosco para prender a isca. Foi ela deslizar para a água e o estrondo comeu! Resultado: Açu de 10 kg!

Isso foi o começo para tornar essa pescaria inesquecível. A partir daí os pontos – chave eram os barrancos íngremes e sem estrutura aparente, porém com a condição que as iscas caíssem no máximo a um palmo, e olhe lá, do encontro do barranco com a água. Maiores distâncias ficavam sem resposta, por incrível que pareça. Nos barrancos tipo praia sem enrosco podia-se jogar as iscas na areia e deixar deslizar para a água, sem necessidade de caprichar nos arremessos.

Houve dias que saíram mais de 10 peixes entre 8 e 10 kg entre todas as embarcações, sendo o recorde de Romeu Konell, um Açu de 10.800 kg, secundado pelo açu do Iran Vicente de Paula, de 10.500 kg. Chegamos ao cúmulo de passar a considerar tucunarés de 6 kg pequenos.

Por graças dos céus, esse grupo de Jaraguá do Sul era constituído por amantes da pesca esportiva, acostumados ao uso de iscas artificiais e com senso bem desenvolvido de preservação ambiental, pois todos os peixes eram devolvidos às águas, independente do tamanho, com as exceções de praxe para consumo no barco, mas respeitando-se os limites entre dois e quatro kg para abate, mas somente nos dias de sashimi ou uma caldeirada à moda. Falamos graças aos céus porque, independente das normas de nosso barco, não tínhamos condições de fiscalizar todos os pescadores que estavam no rio, e a partir do momento que um tucunaré grande chegar morto à embarcação, o mal já foi feito. Por outro lado, o papel de agenciadores de excursões de pesca não é o de fiscalização, e sim de orientação, pois a saída para os problemas de depredação está na educação e não na repressão, embora muitas vezes seja necessária, infelizmente.

Esse paraíso descrito não é ficção nem estória de pescador. Ele existe, mas os acontecimentos narrados tiveram como pano de fundo uma situação excepcional de fatores positivos convergentes, que dificilmente voltarão a se reunir novamente de uma só vez. É possível, mas improvável.

Como toda moeda tem duas faces, existem fatores negativos também. O primeiro deles é que é uma região endêmica de malária, principalmente na temporada da pesca do tucunaré, na seca, e precauções tem que ser tomadas. O mosquito da malária ataca ao amanhecer e ao entardecer, no horário das cinco até sete horas, mais ou menos, nos dois casos. Fora desse horário podem alimentá-los sem receio. Conhecemos num dos lagos um pescador de pirarucu, o Sr. Veríssimo, que há dois dias estava na espera pacientemente para tocaiar o bicho, sem sucesso.

Contou-nos que era a décima malária que pegava, e estava aproveitando uma pausa entre as crises agudas para prover o sustento da família com a captura do peixe. Sua tralha consistia de uma fisga fixada em uma haste e uma boia feita de molongó, tipo de madeira dura, porém leve como balsa. Após atingir o peixe, a fisga fica presa por uma corda e a haste é descartada, como se fosse uma pesca com linha de mão. Ficamos condoídos sem saber para quem torcer, para ele ou para o pirarucu, ambos em extinção. No terceiro dia fomos embora, e ao longe avistamos o Sr. Veríssimo na sua canoinha, pacientemente remando no lago em busca do rival e salvador, retrato triste da maior parte dos ribeirinhos do Amazonas, entregues à própria sorte, sem esperanças e sem ninguém que olhe por eles.

Outro fator negativo é que já em 2000 a pesca esportiva estava proibida nesse rio. Não uma proibição legal, pois pela lei oficial não há impedimento, mas uma proibição local, praticada pelos moradores, manipulados por interesses de aproveitadores, que levantam a bandeira da preservação, mas às escondidas pescam e fornecem o pescado para atravessadores e donos de frigoríficos.

Hoje, 2006, não sabemos a realidade desse rio.

Existem pescarias que nos marcam e que sabemos que jamais se repetirão. Isso aconteceu conosco, NUM RIO CHAMADO MUTUCA.

Em tempo: Pratique o pesque & solte. Não é uma obrigação, é uma necessidade!

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