Museu da Pesca 21 – Motel do Severino 03

Interessante como as coisas mudam. Quando comecei a acompanhar as novidades da pesca amadora semanalmente, através das colunas nos jornais de Irineu Fabichak e Antonio Lopes, o nome do pesqueiro do Severino era “Motel do Severino”. Os motéis não existiam nem tinham a finalidade atual. Se fosse nos dias de hoje, não me arriscaria em falar para minha mulher que iria pescar no “Motel do Severino”, teria que dar muitas explicações…

No final acabou sendo conhecido como “Paraíso do Dourados”, não dando margem a nenhuma desconfiança de nossa cara metade.

Brincadeiras à parte, tinha três maneiras de viajar de São Paulo para lá. A primeira era por carro, uma viagem longa e cansativa, mas cansativa só na volta. Na ida a ansiedade e expectativa do pescador acabava com qualquer inconveniente, Era só festa. Hoje em dia está tudo asfaltado, mas quando eu ia o asfalto era só até Miranda, a partir dali estrada de terra. Eu preferia como era, o sabor de aventura era maior, e a expectativa de contemplar a fauna local era maior ainda. Não existia ponte no Porto da Manga, a travessia do Paraguai era feita por balsa. E ali perto estava a desembocadura do lendário rio Taquari. Eu achava obrigatório conhecer essa estrada, também conhecida como transpantaneira, mal sabia que a de Poconé a Porto Jofre era muito mais selvagem e bonita. Tempos depois tive a felicidade de conhecer e fazer o percurso diversas vezes.

A segunda maneira e mais prática era ir de avião até Corumbá, onde os receptivos nos aguardavam para fazer o traslado até os hotéis, na época o “Motel do Severino” e a “Pousada Tarumã”.

A terceira e preferida pela turma era ir de trem, embarcando em Bauru. Viagem demorada mas fantástica, um belo visual. Fomos e voltamos assim algumas vezes, mas o ideal era ir de trem e voltar de avião, a curtida era só na ida, na volta o cansaço recomendava essa prática. Na ida não precisávamos ir até Corumbá, os receptivos nos aguardavam em Albuquerque, logo depois de Porto Esperança. O trem parava, jogávamos nossa tralha para fora, inclusive isopores (na época imprescindíveis), e mais uma etapa vencida. As pousadas ficavam relativamente perto dali.

Fizemos amizades e pescarias incríveis por lá. Quando escrevo essas notas, imagens mil passam por minha cabeça. Muitos amigos se foram, outros perdi o endereço, mas as memórias permanecem. Algumas se perdem devido desgaste do equipamento, mas no fundo estão lá.

Só para não esquecer, tempos depois o amigo Jaime Corá construiu o “Hotel Porto Morrinho”, bem em frente da entrada (do outro lado da estrada) do “Motel do Severino”, nessa época acho que já era “Paraiso dos Dourados”. Não sei se o hotel ainda opera. O amigo Jaime já não está entre nós.

Outra coisa, um dos piloteiros (chamávamos assim naquele tempo) que aparece em algumas pescarias nessas cenas era o famoso “Mario Gordo”, um dos mais requisitados por todos os clientes do “Motel do Severino”. Muitos anos depois, fazendo um trabalho para a revista “Troféu Pesca”, juntamente com o Eduardo Morgado, que mostraremos mais para a frente, viajamos em dois barcos do Severino até as “Palmeiras”, um ponto no rio Taquari. Viagem longa mas maravilhosa. Num barco ia o Morgado e o guia Carlos, e no outro eu e o Mario Gordo. Qual não foi minha surpresa ao ver o Mario mais uma vez, e guiando para mim. Comecei a conversar, e logo ele falou que lembrava de mim. Sempre me dei bem com meus guias e companheiros de pesca. Meus olhos umedeceram, escondidos pelos óculos escuros…

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Sobre o autor

Marco Antônio Guerreiro Ferreira

 
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