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Pesquisas de novos pontos

Quando o turista desembarca no aeroporto de Manaus, sua maior expectativa é ir logo para o barco e dar início à viagem que o levará ao encontro dos tucunarés, esquecendo o desconforto e cansaço da viagem. Se a pescaria for bem sucedida, o barco é maravilhoso, os guias fantásticos, e por aí afora…Caso contrário, a organização foi deficiente, a comida péssima, o comandante não conhecia nada da região, etc.

Uma das coisas que o pescador desconhece é o esforço que está por trás dessa estrutura. Além da manutenção do barco, tripulação, abastecimento da embarcação e logística necessária para o negócio funcionar, está um item de suma importância : A preocupação em descobrir novos pontos. Isso porque a cada temporada mais barcos entram no mercado do turismo da pesca esportiva, além da depredação que parece não ter solução em nosso país.

Mas mesmo essas pesquisas são problemáticas de fazer, pois quando as águas estão na altura ideal para pesca, é época de sair em campo com o turista, não sobrando tempo para prospecções. Assim sendo, a maior parte das informações são colhidas na baixa temporada, na cheia, quando não há pesca de tucunaré. Eventualmente, na alta temporada, quando existe uma lacuna entre um grupo e outro, aproveita-se para fazer esse trabalho.

Numa dessas janelas, saímos o Sabá, o Nonato, o Marcelo, o Guila e eu, com destino a um rio relativamente perto de Manaus, o Mutuca. Íamos numa lancha de 19 pés, com motor de 140hp  e bastante gasolina. Eram 9.00hs e tínhamos à reboque um barco ICOMA de 6ms. Após 15 minutos de viagem resolvemos voltar e deixar o barco, pois estava atrapalhando a navegação.

Comida e bebida tínhamos à vontade, apenas paramos para pegar gelo na feira da Panair (o pessoal de Manaus pronuncia como está escrito). Até os anos 50 só existia nesse porto o bairro Educandos, e não havia aeroporto na região, motivo pelo qual os aviões da PANAIR pousavam na água. Vem daí a origem do nome da feira da Panair.

Geladeira abastecida, ligamos o motor e mal tínhamos percorrido 10ms quando fomos quase  abalroados por um  barco pesqueiro que chegava para descarregar. Descemos o rio Amazonas algum  tempo, talvez umas 2 horas, e por indicação do guia (Marcelo), entramos num furo estreito e com bastante correnteza, que liga o rio ao município de Altazes Mirim. Navegando com cautela, esse trecho pode ser percorrido em uns 20 minutos, mas levamos bem mais por conta de muitos  cajueiros que encontramos nas margens e a operação para escolher e catar os mais maduros.

Saindo do furo, pegamos um igarapé majestoso que nos levaria até a comunidade de Novo Céu, onde nosso guia possuía alguns parentes que nos ajudariam com algumas informações. Inexplicavelmente, percebemos que a gasolina do tanque estava quase no fim, e já havíamos feito um reabastecimento quando estávamos catando caju. Ficamos assustados e nos perguntamos: – Será que erramos tanto assim nos cálculos? Sem ter outra saída, tocamos em frente.

No Amazonas é comum encontrarmos flutuantes que funcionam como  postos de venda, onde encontramos mantimentos, bebidas e até gasolina. Por sorte topamos logo com um deles, a TABERNA DO DIM-DIM, que por azar, não tinha  combustível. Mas temos que aproveitar todas as ocasiões para do limão fazermos a limonada, e fomos conhecer o tal do DIM-DIM, que nada mais é que um tipo de sorvete em saquinho plástico, chamado em São Paulo de geladinho.

Com marcha reduzida, levamos o barco na ponta dos dedos. Ao avistarmos Altazes, acabou nossa preocupação e também nossa gasolina. Faltava uns 500ms, que consumiu parte da bateria do motor elétrico e parte de nossa energia, mas o oásis estava à vista, e a expectativa de encontrarmos grandes tucunarés também. Reabastecemos na vila de Novo Céu, e após conversa com os parentes do Marcelo, subimos em busca do Mutuca e de seus espetaculares tucunarés, era o que esperávamos. Na realidade o rio nos causou uma boa impressão, mas nada saiu de especial, só um exemplar calculado acima de 6kg, que explodiu em cima da minha isca e tchau… Explosão maior ficou por conta do dono da isca, o velho Guila, o mais sutil dos representantes do homem de Neanderthal.

Pescamos por aproximadamente uma hora, não mais do que isso, e resolvemos voltar, pois a experiência com a gasolina nos tinha deixado preocupados com a volta. Fomos checar o combustível e a situação ficou alarmante. Tinha ido já quase outro tanque. 

Voltamos a Novo Céu e nova parada para reabastecermos. Mais uma vez completamos todas as reservas e “pau na máquina”. Eram aproximadamente 3hs da tarde.

Já perto do furo que nos levaria de volta ao rio Amazonas, uma concentração de galhadas atiçou o desejo da turma de tentar alguns pinchos, apesar da profundidade ser bastante pequena. De nada adiantou os protestos da minoria. Pincho daqui, pincho dali, e nada, nem traíra. Quando o bom senso prevaleceu, os primeiros sinais do anoitecer chegaram junto. O motor teimava em não pegar. Segundo o Nonato era coisa simples, era o carburador, e ele como bom mecânico resolveria logo. Pega, não pega, finalmente pegou.

Ao entrarmos no furo, uma batida seca e o motor parou. Parecia que a rabeta tinha batido em algum pau submerso. Novo exame e a constatação que a vela tinha quebrado (como não entendo de mecânica, não me pergunte como, só sei que foi assim, parodiando Xicó), além da suspeita de hélice empenada. Entre liga e desliga, com muita dificuldade, saímos do furo e chegamos ao rio Amazonas. Eram 19:30hs e os mosquitos começavam a incomodar. A partir daí o motor pifou de vez e veio o veredicto final: rabeta quebrada ! As 20:00hs  o Nonato avisou que não tinha jeito.

Ficamos à deriva no Amazonas, sem rádio nem celular, à noite, um pouco afastados da margem para fugir dos mosquitos, mas o bom senso nos obrigou a amarrar o barco no barranco, para escapar de algum abalroamento. Sem solução, nos ajeitamos da melhor maneira dentro do barco e esperamos um eventual socorro. Tínhamos uma lanterna, e quando víamos alguma luz ao longe se movimentando, fazíamos sinais para chamar a atenção. Às 21:00hs passou um grande barco de passageiros (gaiola), parou, olhou e se mandou. Gritamos com todas as forças, mas de nada adiantou. Com mais calma, o Sabá explicou a atitude do comandante, dizendo que a falta de socorro foi devido medo de assalto, freqüentes na região. Não sabíamos que existiam piratas também no rio Amazonas.

Às 21:30hs passou um barco regional menor, que após alguma hesitação aceitou dar socorro. Amarramos o barco à reboque e depois que embarcamos soubemos que eles quase não pararam devido ao medo.  Carregavam um grande estoque de melancia e iam para Manaus.

A embarcação era uma sujeira só. Nos acomodamos da melhor maneira possível no chão imundo e tentamos dormir. De vez em quando éramos incomodados por algum tipo de insetos, como besouros e afins, o que nos permitia dar apenas alguns pequenos cochilos. Como travesseiro usamos uma garrafa de Coca-Cola vazia (de plástico), que revezávamos de tempos em tempos. Um martírio!

Finalmente chegamos às 3:00hs da manhã, num local chamado de Manaus Moderno, que nada faz jus ao nome, devido à sujeira e aglomeração de embarcações. Foi uma dificuldade acharmos um local para ancorar. Deixamos dois companheiros tomando conta do barco e fomos procurar socorro.

Apesar do horário, conseguimos pegar um táxi e fomos à casa do Sabá para pegar seu carro, de onde fomos à marina e embarcamos no Miss Bebel rumo à Manaus Moderno, para resgatar nosso barco. Essa operação durou aproximadamente 2 horas, e chegamos de volta à marina às 6:00hs da manhã. Quase 24 horas de aventura tinham se passado.

Essas atribulações fazem parte do dia a dia de quem pretende prestar um bom serviço aos seus clientes em busca de novos pontos. É evidente que existe uma estrutura em Manaus que está constantemente em contato com pescadores das diversas  regiões e comunidades,  em busca de informações de novos pesqueiros. Essa é apenas uma das inúmeras facetas que fazem parte da logística de uma bem sucedida pescaria no Amazonas.

Minha caixa de Pandora

Há milênios, Zeus e os deuses do Olimpo entregaram uma caixa fechada à guarda de Pandora, com a recomendação de nunca abri-la. Entretanto a curiosidade feminina não resistiu, e um belo dia a tentação sucumbiu à obediência, libertando todos os males da humanidade. Arrependida, Pandora tratou de fechá-la, mas era tarde, restou no fundo da caixa apenas a esperança, até hoje encerrada e perdida na névoa do tempo…

Pois é, pessoal, todos nós, pescadores, temos nossas caixas de Pandora, onde depositamos todas as esperanças de capturar o peixe dos sonhos.

A grande vantagem é que não são os deuses que selecionam e determinam quais iscas devem ficar em nossas caixas, mas sim a experiência acumulada nas pescarias, mas mesmo assim nunca temos certeza absoluta do que funcionará, sempre estará faltando alguma coisa, dependendo do dia, local, hora ou dos acontecimentos da  ocasião. Por isso é que, após racionalizar ao máximo as iscas preferidas, reunidas em apenas uma caixa, voltei atrás e preparei três caixas que acredito atenderão a maior parte de minhas necessidades nas pescarias de mangues, pelo menos até a próxima, quando novamente serão reformuladas. Afinal, todo dia aprendemos alguma coisa e esse aprendizado não tem fim…

A caixa número 001 contém algumas de minhas iscas favoritas na pesca do robalo em mangue, e normalmente as mais usadas são as Long A 15, para os robalos maiores,  e as Long A 13 e 14 para o geral. No mesmo nível de preferência estão as iscas da Mirrolure, tanto as 7MR quanto as 44 MR, Provoker  e Sticks. No banco de reservas  mantenho outras que uso menos, apenas eventualmente, como as Lelé e Trick da Borboleta, The FIRST, Rapalas CD 9 e uma Suspending da Smithwick.

Já na caixa número 002 estão outras campeãs de audiência, as Red Fin 800, para robalos menores, e as Red Fin 900, para os bitelos. Nessa caixa as esperanças são também depositadas nas Soft Baits, em iscas como grubs, shads e camarões artificiais, além de jigs. Fica na reserva minha isca favorita para a pesca de tucunarés, a Jumpin’Minnow.

A caixinha número 003 é a responsável pelos snaps (presilhas), argolas, garatéias para substituição, se preciso, e o inseparável TRIM para cortar as aparas das linhas. Nessa caixinha guardo uma preciosidade que ganhei de presente do Alexandre, uma isca da Mirrolure desenvolvida para a pesca do tarpon, a 65M. Ainda não usei, estou guardando para quando topar de frente com a patota deles…

Nela ficam ainda outras reservas,  Tan Tan e Sticks da Borboleta,  e uma que era muito usada na pesca do Black Bass, a Hellbender. O bom dessa isca é que ela nada bastante fundo, e chegará o dia em que terá que entrar em campo, certamente. Completando o time, jumping jigs, colheres e Krill, que não podem faltar na caixa quando os predadores estão entrando e subindo o rio atrás dos cardumes de arenques e/ou sardinhas.

Essas são as minhas caixas de Pandora para o rio Cunhaú… Dentro delas estão minhas  esperanças toda vez que saio  para uma pescaria…

O turismo e a pesca esportiva no Rio Grande do Norte

O Rio Grande do Norte ainda não despertou para uma nova modalidade de turismo que vem crescendo em algumas regiões do Brasil, mas que em muitos países das Américas como: Estados Unidos, Costa Rica, Argentina, Chile ou Venezuela já é uma realidade. Esses países já aboliram a prática da pesca comercial e predatória, pois viram que os peixes (muitos deles bastante esportivos) valeriam muito mais vivos, servindo a pescadores dispostos a gastar algumas centenas de dólares para fisgá-los alugando barcos apropriados e contratando guias especializados do que os míseros tostões que eles valem numa banca de feira ou supermercado.

Ao lado e ilustrando a abertura da matéria, o Tucunaré é um dos vários peixes de interesse para os pescadores esportivos. De olho nesse mercado, empresários tem contribuído para a preservação ambiental, gerado empregos mais rentáveis às populações locais de várias regiões e obtido crescente retorno de seus investimentos no turismo voltado à pesca esportiva!

No Brasil, um bom exemplo de que este mercado pode dar certo, está na Amazônia, onde vários empresários do setor turístico montaram toda estrutura necessária para atender turistas pescadores do Brasil ou de fora que queiram travar belas lutas com uns de nossos melhores peixes para pesca esportiva, o Tucunaré, que na Amazônia pode atingir até mais de 12 quilos. Muitos pescadores que antes matavam esses peixes para vender nas feiras e o ganho na venda do peixe muitas vezes não era satisfatório, viram que trabalhar como guia de pesca para esses empreendimentos do ramo de turismo lhe rendiam muito mais dividendos e hoje, em muitos rios da Amazônia, a pesca profissional é totalmente proibida, sendo permitido apenas a pesca artesanal de subsistência ou a pesca esportiva onde não é permitido levar peixe. Atualmente a qualidade de vida das famílias dos guias que trabalham com pesca esportiva é bem superior do que no tempo que eles trabalhavam como pescadores profissionais. No Rio Grande do Norte já começou uma pequena mobilização a favor do turismo de pesca. Em Tibáu do Sul, por exemplo, alguns hotéis já oferecem a seus hóspedes a pesca esportiva como uma de suas atividades aos turistas (na grande maioria estrangeiros) dispostos a pagar uma boa quantia para fisgar o Camurupim, um dos peixes mais esportivos do mundo que pode atingir até 150 quilos e “ainda” bastante abundante em nossa costa.

Em nossa sociedade, moldou-se o cenário geográfico gerando o nascimento de cidades litorâneas em função da economia pesqueira. Surgiram os núcleos pesqueiros. Como em regiões do Norte do país, comunidades agruparam-se em função dos afluentes de rios.

Exemplo da muitas espécies que podemos explorar no turismo voltado à pesca esportiva: o Pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do mundo (cresce até três metros de comprimento e pesa quase 250 kg). No estado do Pará obteve-se incentivos para sua preservação e crescimento. Como mostra a foto no alto, também crescem os investimentos em confortáveis barcos-hotéis.

São contratados serviços de guias que um dia foram pescadores profissionais e que hoje faturam bem mais apenas para levar os turistas para pescar. Cidades do interior banhadas por grandes barragens como: Armando Ribeiro Gonçalvez, Trairi, Santa Cruz do Apodi, etc, ou lagoas como a do Extremoz, poderiam também seguir o exemplo de Tibaú do Sul e atrair “turistas pescadores” para pescar outro peixe também bastante esportivo do Brasil, o Tucunaré, que hoje, povoam todas as grandes barragens do Estado. Porém, em pouco tempo, a pesca esportiva poderá se tornar uma atividade inviável devido à intensa pesca predatória que acontece em praticamente todos os cursos d’água existentes no Estado. Está na hora das autoridades ligadas ao turismo a ao meio ambiente abrirem os olhos para esse grande filão que a pesca esportiva poderá se tornar a exemplo de vários países que faturam milhões de dólares ao ano com essa atividade.

Alexandre Cardoso 

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