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Iniciação às iscas artificiais
Há algum tempo atrás já tinha mandado um e-mail aos participantes do Pesca-NE sobre o assunto, uma vez que alguns dos companheiros (não gosto dessa palavra, por motivos óbvios) eram iniciantes na pesca com iscas artificiais. Na ocasião éramos muito poucos e não cogitávamos que a criação de um portal dirigido ao nordeste já estava nos pensamentos de seu criador.
No RN é grande a dificuldade de adquirir esses brinquedinhos maravilhosos, e mesmo com a chegada da Centauro em nossa capital as dificuldades continuaram. Talvez por ser um mercado pequeno, apesar de solicitarmos determinados tipos de materiais, nunca fomos atendidos pela direção. Fiquei esperando por mais de seis meses uma linha Triumph de monofilamento na bitola de 20 lbs e nunca chegou. Tive que adquirir em São Paulo, através de amigos. O mesmo caso serve para iscas artificiais.
Outra prova de nossa exclusão frente ao mercado foi quando estava gravando um DVD sobre a pesca no nordeste e solicitei para um fabricante de iscas artificiais ajuda no sentido de nos fornecerem algumas iscas para teste na pesca do tarpon, devido não só as dificuldades de se obter iscas por aqui, mas também devido ao fator financeiro. Apesar de confirmarem, até hoje estou aguardando, há mais de um ano, apesar de ter cobrado algumas vezes, até ficar com vergonha. Adianto que não se trata da Borboleta.
Em tempo, não fizemos o DVD e estamos parados com o projeto.
Durante todos esses anos que estive em campo, pesquei muito menos do que deveria e gostaria.
Entretanto, presenciei e observei muitos estilos e idéias diferentes, o que foi um aprendizado para mim.
Tenho amigos que conhecem profundamente os diversos tipos de iscas artificiais. Não é o meu caso. Confesso que os invejo e admiro.
Mas o que quero colocar ao pessoal que está se iniciando, é uma idéia do que usar, pois hoje em dia existe uma infinidade de marcas e modelos à disposição do pescador, e os novos lançamentos não param. Essa é apenas uma sugestão que permitirá pescar a maioria dos nossos peixes, é somente um ponto de partida, pois a estrada não tem fim.
Vamos pensar primeiramente num dos mais cobiçados peixes de mangue, praias, e rios que tem ligação com o mar, o robalo, que agora com a criação de uma estrutura em Barra do Cunhaú para a pesca esportiva, torna acessível aos pescadores do RN e estados vizinhos essa modalidade.
Existe uma infinidade de iscas utilizadas em sua pesca, mas há alguns tipos que são imprescindíveis na caixa de pesca de qualquer pescador:
- Long A da Bomber, nos tamanhos 13 a 15. O tamanho 16 sómente quando estamos à procura de robalões, em locais sabidamente freqüentados por eles. Mas robalões mesmo, entre 10 a 25 quilos…
- Red Fin – Os tamanhos ideais são a Red Fin 800 e a Red Fin 900, sendo a 900 para robalões. Mesmo critério usado com as Long A.
- Mirrolure 7MR – Essa não pode faltar… Compatível com as Long A 13/14 e Red Fin 800… Na mesma linha, um modelo Provoker vai bem…
- Mirrolure 44MR – Também muito eficiente e não pode faltar…
- Stick da Mirrolure – Não sei o nome do modelo. Ideais para quando os robalos estão manhosos, trabalho lento…
- Camarões artificiais, jigs, shads e grubs. Os robalos adoram… Iscas preferidas pelo Blatt…
Outra preferência nacional é o tucunaré. Para tucunarés de represa, cujo peso pode ir até 5 quilos, essas iscas atendem qualquer necessidade:
- Long A 13 a 15 (foto acima, vide robalo).
- Red Fin 800 para a maioria dos casos, mas em Itumbiara usamos por diversas vezes o modelo 900 com sucesso, em busca dos maiores. Lá foi onde vi os maiores tucunarés de represas (até 5,5 quilos) (foto acima, vide robalo).
- Jumpin’Minnow – Pode parecer grande, mas não é. Lembrem-se que o tucunaré não tem pescoço e portanto não conhece seu tamanho, atacando iscas as vezes maiores do que ele. Essa isca é tão versátil que é a minha preferida e mais usada para os grandes tucunarés da Amazônia.
- Devil’s Horse da Smithwick – Isca de hélice, muito eficiente, mas também muito fraca. É necessário dar um reforço com Araldite nos pitões, senão o tucunaré arranca tudo (mesmo os pequenos).
- Colher Johnson Silver Minnow – Eu prefiro o tamanho ¾, mas é conveniente ter também o tamanho ½. É muito útil no sudeste quando tem frente fria (o que não é o caso por aqui), pois o tucunaré vai para o fundo e você pode deixar a colher afundar antes de trabalhar, mas sua principal virtude é que você pode joga-la no capim (ela tem proteção anti-enrosco), em enroscos, etc, onde o tucunaré está batendo, sem o problema de enroscar a isca (as vezes acontece, claro) e que normalmente não seria alcançado por outro tipo de isca.
- Rapalas CD7 e CD9 – São iscas que vale a pena ter algumas em sua caixa, mas não estão em minhas preferências… A vantagem é que ao arremessar, pode deixar ir à profundidade desejada, pois são iscas “sinking”, não flutuam.
- Mirrolure 44MR – Usei também muito tempo para o tucunaré. Bastante eficiente… (foto acima, vide robalo).
Para aqueles que pretendem pescar no Amazonas, em busca dos grandes tucunarés, as iscas que não podem faltar são:
- Jumpin’Minnow – Em minha opinião a campeã, pois pode ser trabalhada de várias maneiras, inclusive como Stick. Trocamos as garatéias e argolas originais por outras mais reforçadas (foto acima, vide tucunaré de represa).
- Zara Excalibur (Super Spook) – A segunda na minha preferência. Isca espetacular, mas só faz o trabalho de zara, e as amplitudes de movimentos são mais largos. Não trabalha como stick. Costumamos trocar as garatéias e argolas originais por outras mais fortes, retirando a garatéia do meio. Um eventual aumento no tamanho das novas garatéias é compensado pela retirada da do meio.
- Top Dog – A terceira na minha preferência. Além do barulho (sêco) e trabalho característico (amplitude curta), arremessa muito bem, melhor que as duas anteriores.
- Iscas de Hélice – Apesar de funcionarem muito bem, levantando tucunarés, cansei um pouco delas (opinião pessoal), mas são obrigatórias em sua caixa. Uma isca bastante eficiente é o da Deconto modelo Bicuda – 130. Não há necessidade de se usar aquelas iscas monstruosas que os americanos tanto gostam que mais parecem garrafas de Coca-Cola com uma hélice atrás… O trabalho é extenuante e a vara tem que ser parruda…
- Long A 16 – Ideal para grandes tucunarés. Isca de meia água (foto acima, vide robalo).
- Red Fin 900 – Idem (foto acima, vide robalo).
- Yo-Zure – Não sei o modelo, mas a Cristal Minnow é uma das opções.
- Juana da Borboleta – Idem.
Voltando para nossa terrinha (nordeste), seja para pesca embarcada (no mar), de pedras ou praia, temos as seguintes considerações:
As iscas artificiais que uso na pesca de xaréus e tarpons são adaptadas, de fabricação nacional ou importadas, por falta de opção, como já disse. Nessas iscas faço um furo na barriga e introduzo grãos de chumbo de caça, até ficarem com peso entre 45 e 50 gramas. Tapo depois com Araldite ou Durepox. O inconveniente é que perdem sua flutuabilidade, mas como o trabalho é feito com recolhimento rápido e surfando as ondas, o problema não é tão grave. São fabricadas em Natal dois modelos de iscas artificiais (pelo Dinho), artesanais, com o mesmo design, mas de tamanhos diferentes, com 50 e 60 gramas de peso. São as iscas artificiais mais usadas por aqui para a pesca do xaréu e do camurupim, sendo extremamente eficientes.
Dessas iscas modificadas, umas das que deram bons resultados foram as iscas da Borboleta, modelos Big Bob, Little Bob e Ballyhoo. Esses modelos também se mostraram excelentes sem nenhuma modificação para os dias de vento fraco.
Mas qual o porquê da necessidade dessas iscas serem tão pesadas, que compense inclusive a impossibilidade de um trabalho mais esmerado? O vento, meus amigos.
Durante duas temporadas pesquei camurupim e xaréu na boca da barra de Tibau, embarcado, e pude constatar a necessidade de uma isca pesada para se conseguir uma boa distancia de arremesso, pois lá você pesca todo o tempo com o vento na cara, vindo do mar para a terra, sempre. Você tem que arremessar sua isca o mais longe possível, na arrebentação, que é onde os peixes estão comendo, e a embarcação, por motivos óbvios, não pode ficar muito perto das ondas, onde é pouca a profundidade. Uma isca com pouco peso, contra o vento, dificilmente atingirá o ponto ideal.
Em dias com pouco vento, o ideal é a utilização de iscas sem adaptação, com o peso e trabalho originais e que flutuem, pois permitirão um trabalho mais esmerado, aumentando as chances de uma fisgada. Aqui em Natal é mais difícil o leque de opções disponível, mas sabemos que existem iscas com pesos de fabrica suficientes para utilização tanto em dias com ou sem vento.
Essas considerações servem tanto para pesca embarcada como desembarcada. Como última consideração, acho conveniente levarmos iscas modelo Krill, tipo jumping jig, quando a pescaria for embarcada. Não tenho experiência nem nunca usei esse tipo de isca, mas pelo que falam deve ser bastante eficaz.
Com relação à Jumping Jigs (pesca vertical), não temos experiência aqui no RN, e tampouco esse tipo de pesca é praticado, mas temos certeza que com a quantidade de “cabeços” que temos, é sucesso garantido. Vamos aguardar e torcer para que venha para cá algum especialista no assunto, para ensinar como se pesca e qual o material necessário, pois o que sabemos é só por revistas e programas de televisão, mas nada como na prática.
Complementando a matéria, finalmente finalizamos o DVD “O MUNDO DAS ISCAS ARTIFICAIS”, segue abaixo 10 partes:
A pesca nas pedras no Rio Grande do Norte
O Rio Grande do Norte apresenta uma costa com grande potencial para a pratica da pesca esportiva, além de ter na pesca de praia sua maior vocação. Quando falamos em pesca de praia, estamos nos referindo à pesca desembarcada, com os pés na areia ou nas pedras. Um amigo meu do Rio de Janeiro, em passagem pelo nordeste, foi convidado a pescar na Paraíba. Lá chegando, encontrou uma praia cheia de pedras, e foi logo dizendo que aquilo não era pesca de praia. Também não era de costão, mas eu não soube como definir.
Em toda a extensão de seu litoral, aproximadamente 381 km, as espécies encontradas são praticamente as mesmas, com maior ou menor incidência por espécie, dependendo da região. São mais de 53 praias, abrangendo desde Tibau (norte) até Sagi (divisa com a Paraíba), no sul.
Pouco explorada, a região norte (a partir de Natal) apresenta praias belíssimas e selvagens, que certamente merecem uma exploração detalhada, escondendo sem dúvida agradáveis surpresas.
Já o litoral sul, não menos belo, porém mais urbanizado, apresenta maiores facilidades para a pesca amadora, além de já ter uma grande gama de pontos mapeados.
Praias como Búzios, Tabatinga, Camurupim, Barreta, Malembar e Tibau do Sul, além de Barra do Cunhaú e Sagi, já na divisa com a Paraíba, são bem conhecidas e freqüentadas por todos os pescadores do estado.
Nessas praias as vedetes são o tarpon (camurupim), o xaréu, a ubarana, o robalo (camorim) e o tibiro (guaivira ou salteira), além dos peixes comuns de beira de praia. Todos eles podem ser pescados com os pés no chão, nos paredões rochosos que formam cinturões de pedras acompanhando as praias, responsáveis pelas piscinas naturais formadas pelo movimento de subida e descida das marés, locais seguros para o banho de mar dos turistas e bons até para um pincho ocasional, para o lado do mar aberto. O xaréu e o robalo estão presentes o ano todo, o restante mais no verão, de outubro a março.
Se essas pescarias fossem realizadas a bordo de embarcações, arremessando em direção às pedras e dos cabeços submersos, com certeza seriam bem mais produtivas, mas infelizmente não existem para aluguel lanchas adaptadas para essa prática, a exemplo do que acontece na região sudeste do país. Devido essa dificuldade é que a maioria das pescarias são feitas mesmo com os pés na areia.
Hoje iremos conhecer a Praia do Giz, em Tibau do Sul, localizada entre a Pedra do Cachorro e o Pontal do Pirambú, sentido Natal/Pipa. Pela beira-mar está a 50 km de Natal, e pela BR-101, passando por Goianinha, fica em 75 km.
Como nessa praia a pescaria é feita em cima das pedras, é importantíssima a escolha das marés. É bem verdade que as pedras onde pescamos estão no mesmo nível da praia, não é uma pescaria de costão, mas mesmo assim oferecem perigo quando a maré está enchendo, expulsando os pescadores à medida que sobem as águas. Por isso pescamos sempre nas vazantes das marés de lançamento, que oferecem bons resultados.
As marés de lançamento são aquelas marés de quarto crescente ou minguante, quando estão crescendo para marés de lua cheia ou nova. Basta olhar nas tábuas de marés e observar que de dia para dia crescem em amplitude, até estabilizar e começar a cair. Esse período entre o primeiro crescimento de amplitude e a queda é o que chamamos por aqui de maré de lançamento.
Outra variável é o horário. Como o sol é muito forte na região, observamos, pelo menos nesse tipo de pescaria, nas praias, que o peixe pega melhor até umas 9:00 horas da manhã, mais ou menos, depois escasseia. A condição ideal de pesca é quando a vazante coincide com as primeiras horas da manhã, ou seja, a maré acaba de secar até as oito ou 9 horas na manhã. A partir desse horário é melhor dar uma pausa para descanso do peixe e do pescador, que vai repor suas energias à sombra de uma barraquinha, lutando contra uma porção de camarões fritos e uma cervejinha, ou água de coco, se preferir. Novos pinchos só mais para o fim da tarde, quando novamente os peixes ficam mais ativos.
Resumindo, escolhemos uma maré de lançamento cuja vazante vá até umas 8:00/9:00 horas da manhã. A enchente pode ser também uma boa opção, mas é descartada pelos motivos já expostos.
Às quatro da manhã toca o alarme do celular previamente programado e nos acorda no melhor do sono. Fazer o quê? Mas logo nos recordamos que estamos indo pescar e o sono vai embora.
Depois de 90 minutos de viagem pela BR-101 chegamos a Tibau do Sul. Procuramos um lugar para tomar um cafezinho, mas logo desistimos. Tudo fechado a esta hora, embora o sol já esteja trabalhando a algum tempo.
Após dez a quinze minutos de caminhada na areia chegamos à Praia do Giz, dentro do horário previsto. Agora é arrumar a tralha, escolher a suposta isca matadeira e começar a pescaria, expectativas lá em cima, para variar…
O tipo da pescaria é o de lançamentos com iscas artificiais, e os peixes alvo são o robalo e o xaréu, embora nessa busca entrem com facilidade a ubarana, o tibiro e o galo, dependendo do tipo de material utilizado. Com sorte, até o tarpon, mas sua pescaria mais eficaz certamente é a embarcada, pois os pesqueiros não são alcançados facilmente de terra e os que eventualmente são fisgados são peixes de passagem. É bem verdade que em alguns pontos existem os moradores, aqui mesmo na Praia do Giz tem um, mas devido seu tamanho, todas as vezes que é fisgado dá um show e vai embora. Já o vi ser fisgado duas vezes, e vale só pela emoção.
Para a pesca do xaréu, varas de 6,6 a 7 pés, carretilhas ou molinetes que comportem por volta de 200 metros de linha 0,40mm, monofilamento, de 20 a 25 libras, por aí. Já para o robalo, linhas até 17 libras já são suficientes, que armazenem por volta de 150 metros de linha monofilamento. Para os adeptos de multifilamento, podem reforçar tanto a resistência quanto a quantidade de linha.
Usamos iscas de 12 a 15 cm, de 30 a 50 gramas, tipo Little Bob e Big Bob, por exemplo, modificadas ou não para pesar mais, como adiante explicaremos, e efetuamos os lançamentos o mais longe possível, onde as ondas estão quebrando, ou na espumeira, na frente deles, pois os xaréus são verdadeiros surfistas de tubos, e quando a água está limpa podemos vê-los cruzando a parede das ondas, no sentido contrário de onde estão quebrando, como se fugindo do túnel, como fazem os surfistas. É um belo espetáculo, e às vezes na sua contemplação nos esquecemos de pinchar… Já o tarpon pega na “quebradeira”, no reboliço das ondas e espumas, e mesmo o xaréu gostando de “surfar” nas ondas, também frequenta o mesmo tipo de pesqueiro. O trabalho consiste em arremessar e recolher com velocidade, sem se preocupar com a ação da isca. Um recolhimento rápido é suficiente para desencadear o ataque. Aqui em Natal usam-se muito as iscas artesanais do Dinho, bastante eficientes.
O ataque do xaréu não deixa margem a dúvida de quem está do outro lado. A partir daí é tentar segurar o bicho e confiar no equipamento, esperando que não esgote a linha do carretel e negociando metro a metro o recolhimento, cuidando também para desviá-lo das pedras, que é onde se desenrola a pescaria. No mar aberto seria mais fácil, mas nem por isso menos emocionante. Já vi muito pitão reforçado de isca ser arrancado pelo peixe. O roçar nas pedras aconselha um bom líder, por volta de uns dois metros, para ajudar no recolhimento final, mas mesmo se não conseguir captura-lo, já terá valido a pena o dia de pesca.
Já o robalo é mais manhoso, come no pé da pedra e é mais exigente com a apresentação do cardápio. Aqui usamos mais iscas de meia água, embora as de superfície também sejam eficientes. O trabalho deve ser lento e com variações de velocidade, ação e recolhimento. Como não precisamos dar longos arremessos, usamos iscas artificiais sem modificações mais profundas, apenas em alguns casos com reforços nas garatéias e argolas. Outras iscas bastante usadas e eficientes na pesca do robalo são os grubs, shads e afins, além de capturar outros peixes, principalmente os galos, fãs desse tipo de isca.
A diferença básica na pesca entre o robalo e o xaréu é que para este um recolhimento rápido é suficiente para desencadear o ataque, pois ele ataca na espuma, onde o “pau está quebrando”, e normalmente a distancia de arremesso é longa, e para aquele o movimento é mais lento, bem trabalhado. É nesse tipo de pescaria e iscas (xaréus e robalos) que costumam entrar também os tibiros e ubaranas, bastante esportivos, mas muito inconvenientes, pois atrapalham a pescaria dos pesos pesados com sua intromissão.
Aqui no nordeste os ventos são uma constante, ocorrendo na maior parte do ano, e como sempre o vento vem do mar em direção à terra, os arremessos longos são dificultados, pois arremessamos sempre contra ele, e para isso precisamos dar peso às iscas. Para isso turbinamos algumas delas, fazendo um furo na barriga e colocando chumbinhos de caça, até alcançar o peso desejado, às vezes até por volta de 60/70 gramas para os dias de muito vento, mas via de regra entre 45 e 50 gramas. Tapamos o furo com Araldite ou Durepox, trocamos as argolas e garatéias por outras mais fortes e estamos prontos. Isso significa que essas iscas modificadas perdem sua ação original, tornando-se modelos “sinking”, cuja finalidade é vencer o vento e alcançar o pesqueiro lá longe. Por isso o trabalho empregado não é importante e sim a velocidade de recolhimento sobre a espuma. Esse trabalho e essas iscas nessas circunstancias são as mesmas utilizadas para a pesca do tarpon, mas eles entram nessa história como Pilatos no credo, dão alguns pulos, algumas corridas, debocham da gente e vão embora. Até hoje só conseguimos captura-los pescando embarcados. Na temporada de ventos fracos, normalmente no verão, não há necessidade de modificarmos as iscas, deixando-as, portanto com seu peso e trabalho originais, apenas não descuidando do reforço das argolas e garatéias, tornando bem mais prazeirosa a pescaria.
O período de ventos anda um pouco descontrolado por aqui, como tudo na natureza. A tendência de diminuição deles é entre outubro e março, limpando as águas, mas esse ano (2006) os ventos só pararam em fevereiro, e não sabemos como se comportarão até o fim de 2006. É o preço que pagamos por tanto desmando na natureza…
Completando o material, usamos em ambos os casos snaps de boa procedência, para uma troca rápida de iscas, atados ao líder por nó Palomar ou nó Único. Se o líder for mono, o nó será Palomar, e se for de flúorcarbono usamos o nó único, para maior facilidade na confecção, devido a dureza da linha.
Quanto à união do lider com a linha da carretilha ou molinete, se o lider for de monofilamento costumamos colar o nó, pois facilita nos arremessos, evitando aqueles trancos desagradáveis quando o nó passa pelos passadores da vara. Já se for de flúorcarbono, usamos o nó Albright.
Normalmente usamos líder 0,52 mm para o robalo e 0,62 mm para o xaréu, tanto mono como de fluorcabono. Quando a pesca é direcionada ao tarpon (embarcada), aumentamos o líder para 0,80 mm (flúor ou mono).
Expedição sertão 2 – O acampamento
O sertão oferece inúmeras opções para pesca esportiva do Tucunaré, em grandes e médias barragens que estão espalhadas pelo interior do estado, e praticamente todas possuem muitos peixes e também grandes exemplares do cultuado “Cichla monoculus”, nome científico do bocudo.
Mas uma vez organizamos uma expedição em busca dos grandes exemplares. Foi escolhida a barragem de São João do Sabugí, interior do RN, cerca de 350 km de Natal. A proposta foi um montar um rancho em uma determinada margem, nas proximidades da represa e passarmos o sábado e o domingo.
Pois bem, por volta das 7:00 da manhã pegamos a estrada, partindo da Cidade de Patos, que dista uns 270 km de João Pessoa – PB, com destino a pequena São João do Sabugi, cerca de 350 km de Natal-RN, cujo nome, nomeou a barragem. Em torno das 9:30 chegamos no local, após alguns percalços. Inicialmente, ficamos surpresos com o nível da água da barragem, que se apresentava em sua capacidade máxima, com muitas áreas alagadas.
Outro fator que rapidamente chamou nossa atenção foi a força do vento, que causava ondulações que poderiam até lembrar uma praia em dias de verão. Alem disso, a natureza não se demonstrava muito a favor dos pescadores, o dia estava nublado e ameno, fazendo com que a água estivesse fria.
Pela nossa experiência, não tínhamos nada ao nosso favor. Todos os fatores apontavam para um dia pouco produtivo em termos de pesca esportiva. Mas, como somos nordestinos e “cabra da peste”, nunca desistimos.
Então, pela na manhã do sábado, apenas 3 pescadores foram tentar a sorte, eu fui sozinho em um barco, enquanto que Aníbal e Virgulino, que não é o “Lampião”, em outra embarcação. Enquanto isso, o nosso amigo Martins se ocupava de organizar o rancho.
Em fim, barcos na água, rapidamente Aníbal desaparece na imensidão da água, enquanto que eu fico me acertando com o motor elétrico. Perdi muito tempo aprendendo a dominar a embarcação em meio a um forte vento, que sempre teimava em empurrar o barco sobre as estruturas.
Após uns 40 minutos de luta brava contra o motor elétrico, consegui chegar à margem de uma pequena serra que tinha sua base coberta pelo avanço das águas. Lugar perfeito, com muita estrutura e principalmente rochedos para tudo que é lado. Certamente, um local ideal para se perder algumas iscas. Mas, nada disso aconteceu, apenas obtive um ataque de um Tucunaré extremamente tímido, que rapidamente voltou ao seu esconderijo. Ainda tentei várias vezes em locais diferentes, mas não obtive nenhuma ação.
Cansado e faminto, me dirigi de volta ao rancho, onde nosso amigo Martins preparava um arroz carreteiro com tudo que tinha direito. Enquanto isso, nem sinal de Aníbal e seu parceiro.
Ao chegar ao rancho, comuniquei ao amigo Martins os acontecimentos e concluímos que não estávamos em um bom dia de pesca. Nesse momento, o calor já estava mostrando que apesar do tempo nebuloso o sol ainda castiga os filhos do sertão. Achei por bem, tomar um banho para relaxar um pouco. Por precaução, levei meu equipamento básico, vara 20 lbs e carretilha Shimano Curado, com uma isca Marine Sports Flash Minnow. Pois, o mais improvável aconteceu. Pinchei próximo a um arbusto seco que se encontrava a cerca de uns 10 m da margem. E para minha surpresa, ele resolveu mostrar a cara, e com a violência de sempre atacou a isca, fincando as duas garatéias em seu corpo. Com um grito de guerra, comemorei o feito. Era um exemplar de uns 1,5 kg, que é o padrão do local. Voltei ao rancho ainda com o bocudo na linha festejei euforicamente com o amigo Martins. Pelo menos o peixe do jantar já estava garantido.
Logo mais, Aníbal e Virgulino chegaram, e exibiam um semblante de desapontamento e apenas 4 tucunarés na faixa de 3 kg, que é muito fraco para os padrões locais.
Reunimos-nos para o almoço, e após meia dúzia de piadas já estávamos renovados e determinados a encontrar bons exemplares no período da tarde.
Para variar, o incansável Aníbal sumiu novamente em meio aos alagados. Alguns minutos depois, eu e Martins fomos à busca do nosso objetivo. Arremessos para todos os lados, em formações rochosas, cercas velhas, próximo às galhadas. Mas, parecia que nada adiantaria, nem alevinos se atreviam a olhar para nossas iscas. Isso desmotivou Martins, que resolveu apenas guiar o barco para que eu tentar-se encontrar algum Tucuna. Cruzamos a barragem no sentido norte, encontrando uma enseada abrigada do vento, ou seja, a água estava um espelho, além disso na margem esquerda tinha uma formação rochosa formando uma grande parede, que certamente abrigaria bons exemplares. Mas, tudo continuava com antes, nada de ação. Com muita insistência, arremessei perto às estruturas do paredão, e um bocudo tentou pegar minha isca, sem sucesso. Repeti o arremesso umas 5 vezes, até que recebi outro ataque na isca, que dessa vez senti firmeza, resultando num Tucunaré de aproximadamente 1 Kg. Que dediquei a todos os brasileiros de nunca desistem.
Com o humor renovado, resolvemos dar a volta e passar mais uma vez pelo mesmo local. Resultando em mais um exemplar, sendo de menor porte, que logo foi solto. A essa altura, o sol já começava a demonstrar a falta de paciência com o dia, e começava a despedir-se.
Voltamos ao rancho, e mais alguns minutos depois, Aníbal chegou ainda mais desapontado, pois, durante a tarde apenas Virgulino conseguiu pegar um exemplar, configurando a única ação do período vespertino.
Para nós, restavam apenas as piadas e brincadeiras típicas dos pescadores. Entre uma conversa e outra, concordamos que no dia seguinte iríamos tentar uma outra barragem próxima ou mesmo um outro setor da mesma barragem.
Dormimos bem, apesar do frio da madrugada. Ao amanhecer, percebemos que o dia e o tempo não tinham melhorado, e sim piorado, o vento estava mais forte, e o céu com mais nuvens.
Rapidamente preparamos o café da manhã, arrumamos as tralhas e levantamos acampamento rumo a barragem de Carnaúbas, que fica à cerca de uns 15 km do local. Ao chegarmos ao local, surpresa, a barragem estava quase sangrando, encontrava-se em seu nível máximo. Realizamos alguns arremessos pela margem próxima, mas achamos prudente não por os barcos na água e seguir de volta para a outra, mas dessa vez tentaríamos nas proximidades do sangradouro, pois existe muita estrutura de pedras.
De cara, o lugar nos deixou com motivação renovada, pois conseguimos perceber locais com água abrigada do vento e com menor profundidade que os outros locais do dia anterior.
Com animação colocamos os barcos na água e iniciamos mais uma jornada. Seguimos em direção a um serrote onde havia uma margem com muitas pedras e galhadas. Mas logo percebemos que nosso maior inimigo nos seguia, implacável, o vento, que soprava com tamanha força que obrigava muita atenção por parte do companheiro que controlava o motor elétrico, pois qualquer descuido, o barco poderia colidir com pedras.
Não precisa nem falar que foi mais um dia de pescaria frustrante. Com muito esforço e dedicação, apenas dois peixes foram capturados, um belo exemplar de 2 kg, pego por Aníbal e outro menor de 1 kg que comemorei como quem ganha um prêmio.
Por volta das 12h, já estávamos de volta ao local de partida, onde fizemos uma refeição rápida e arrumamos tudo e decidimos dar por encerrada essa aventura.
Para nós, restou apenas o aprendizado proporcionado pela natureza. Sempre respeitar as estações do ano. Pois, para cada modalidade de pesca, existe a época propícia para sua prática. Com relação ao nosso amigo Tucunaré, a experiência indica que os fatores naturais, como vento e temperatura da água, são potenciais inibidores da sua ação. Portanto, deixo aos amigos pescadores a lição de que, planejamento e racionalidade devem fazer parte do aparato de pesca do pescador esportivo, que muitas vezes age por pura emoção, esquecendo experiências do passado e repetindo os mesmos erros.