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Dourado do mar
Aproveitando o clima de nostalgia ao recordar antigas pescarias de matrinchã, vamos falar sobre dourados no mar, com o auxílio de velhas fotos e sem a qualidade ideal, mas pelo menos servindo para ilustrar em parte o que for dito. Para não ficar só no passado, faremos alguns contrapontos com as pescarias de hoje. O que for atual estará em azul, ajudando o entendimento.
Comecei a pescar em beira de praia… Mais ou menos em 1970…
Naquela época, tudo o que fazia era preocupar-me com o tamanho do caniço e arremessar o mais longe possível. Achava que era o bastante para garantir o peixe. Depois vi que não era bem assim…
Tempos depois comecei a travar conhecimento com minhas primeiras iscas artificiais, tentando pescar Bass. Entre uma pescaria e outra na cachoeira do França, ficava ouvindo meu amigo Ismar falar das maravilhas que era a pescaria no mar aberto, no litoral do Rio de Janeiro, mais precisamente em Arraial do Cabo.
De tanto ouvir suas histórias, comecei a me entusiasmar e a me programar para acompanhá-lo em sua próxima viagem.
Arraial do Cabo fica a 600 Km aproximadamente de São Paulo e na época era vinculada ao município de Cabo Frio, tendo emancipado-se em 13 de Maio de 1985 e possuindo hoje vida própria.
Tem uma grande vocação turística e a cada dia toma-se mais conhecida devido às suas belezas e à sua hospitalidade.
Foi um dos primeiros núcleos de povoação do Brasil, com a chegada de Américo Vespúcio em 1503, e no fundo de suas águas encontram-se dezenas de naufrágios, constituindo-se numa grande atração para o pessoal do mergulho.
As saídas para as pescarias são efetuadas no Porto do Forno, na Praia dos Anjos, em embarcações tipo baleeiras.
É um dos pontos mais piscosos do Brasil devido ao fenômeno da ressurgência, que ocorre em raros pontos dos oceanos da terra, provocado em Arraial do Cabo pelos movimentos entre a Corrente do Brasil (águas quentes) que descem no sentido Nordeste/Sul e a Corrente das Malvinas ( águas frias) que sobem no sentido Sul/Norte, trazendo à tona grande quantidade de nutrientes, motivo da piscosidade local.
Nos meses de verão, notadamente em janeiro, a corrente do Brasil se aproxima bastante de Arraial do Cabo, em função dos ventos que empurram suas camadas superficiais para a costa, trazendo junto um dos mais belos e esportivos peixes de água salgada, o Dourado (Coryphaena hippurus).
É extremamente saboroso e um grande lutador, além de ter grande resistência. Quando menos se espera, ao se errar o passaguá para embarcá-lo, sai em disparada novamente, traçando uma reta perfeita na superfície da água, levando embora toda a linha que o pescador pacientemente recolheu, recomeçando tudo novamente. São muito velozes.
Costuma circundar o barco depois de fisgado, chegando às vezes a completar 360° em seu passeio, traçando uma circunferência perfeita. Briga no fundo, à meia-água, na superfície, de todas as maneiras, dando saltos espetaculares sem se entregar. Atende todas as expectativas de um pescador esportivo.
Essas considerações referem-se a pescarias efetuadas em barcos pequenos, baleeiras ou congêneres, usando-se material leve e compatível com esse tipo de pesca.
Normalmente em pescas oceânicas a bordo de grandes lanchas, equipadas para a pesca de sails e marlins, o dourado é considerado um intrujão e sua briga não é tão emocionante como em uma embarcação menor, mas sempre dá seu show e mostra a que veio.
Enquanto vivo, tem cores maravilhosas que variam do dourado ao prateado, passando pelo verde, amarelo, azul metálico, um verdadeiro arco-íris. Após sua morte e ao ser retirado da água, suas cores desaparecem rapidamente, ficando entre um amarelo e um marrom esmaecido. É como se retirassem o brilho de seu espírito, que voltou às profundezas.
Distingue-se o macho da fêmea pelo formato da cabeça, sendo a da fêmea arredondada e do macho chanfrado, como se tivesse sido cortado da testa para baixo com um só golpe. São conhecidos os grandes machos por Cartola.
São peixes que atingem mais de 30 kg e mais de 1,50 m. de comprimento, ocorrendo em todos os mares tropicais e subtropicais do mundo.
Nadam sempre perto da superfície e no alto mar, nas águas azuis, motivo pelo qual no sudeste vamos ao seu encontro em pequenas embarcações e com material leve na época apropriada, no verão, aproveitando a proximidade dos limites da Corrente do Brasil.
No Rio Grande do Norte o mar azul está bem mais próximo da costa, antes das 14 milhas, mas o grande problema é o vento, e assim temos que esperar pelas condições propícias. A temporada do dourado aqui começa a partir de abril, quando tem início a “safra” do peixe-voador, e vai até setembro. Na realidade o dourado dá o ano todo, mas esse intervalo é o melhor para sua pescaria, “o pico”. A partir daí já fica mais fraco. Acreditamos que é devido às altas temperaturas do oceano na superfície, pois à medida que o verão vai chegando com força, vai esquentando as águas. Talvez em profundidades maiores sejam encontrados, mas por aqui ainda não se pratica a “pesca vertical”, com jumping jigs. Voltando ao problema do vento, em agosto ele começa a soprar com gosto, indo até outubro, mais ou menos, mas aí já perdemos dois bons meses de pescaria, agosto e setembro. Isso é regra geral, mas pode antecipar e/ou retardar. Ultimamente a natureza não está fazendo muita questão de nos respeitar, dando o troco às agressões que vem recebendo.
Na Praia dos Anjos há duas saídas para o alto mar. A mais usada é pelo Boqueirão, situado entre a Ilha de Cabo Frio (Ilha do Farol) e o continente (Pontal do Atalaia), e a outra saída é pela Ponta Leste.
Saindo-se pelo Boqueirão, vira-se à esquerda em direção à Ponta do Focinho, onde está localizado o farol. Da Ponta do Focinho até a Ponta Leste temos sempre um mar bastante “picado”, batendo de frente nas rochas, em função dos ventos e das correntes.
Se você vai pescar com iscas naturais e ainda não as providenciou, ai é o lugar. Basta soltar um “penacho” no corrico e esperar a ferrada de um bonito, normalmente na faixa de 1 a 3 quilos.
Há duas espécies de bonitos que podem ser encontradas nessas águas, o Bonito comum (Little Tuna ou False Albacore), na média de 1 a 3 kg, embora tenhamos capturado espécies entre 6 e 10 kg, e o Bonito Serra (Atlantic Bonito), na média de 1 a 2 kg. Nunca pegamos nenhum maior na região. Uma terceira espécie, o Bonito Oceânico (Oceanic Bonito ou Skip Jack) somente é encontrada em água azul. Já capturamos na faixa de 8 kg.
Além da boa briga, principalmente se você estiver usando material leve, há sempre a possibilidade de se fisgar um peixe de maior porte. Isso sempre acontece. É tamanha a piscosidade do local que a cada passada é quase certo uma ferrada. O penacho usado deve ser de preferência na cor amarela, é o que os pescadores da região usam. Esses penachos podem ser adquiridos em Arraial do Cabo e Cabo Frio.
Outras opções são os plugs de barbela, principalmente as Rapala Magnum CD tamanho 9 a 11. As cores ficam a critério do pescador que verificará na prática a que melhor está funcionando para aquele local e hora. Sugerimos como base as brancas com cabeça vermelha, douradas com lombo verde e prateadas com lombo azul ou preto.
A vara utilizada deve ser para duas mãos e medir entre 6 e 7 pés, além de permitir linhas entre 12 e 20 libras e a linha propriamente dita deve ficar entre 12 e 17 libras.
Entretanto a melhor isca natural para o dourado, na região leste, é a lula, que deve ser colocada no anzol inteira. Caso sejam poucas iscas, podem ser usadas em filés, assim como os bonitos, que devem ser iscados em tiras. O barqueiro providenciará e ensinará a maneira correta de se iscar. Não estamos levando em consideração peixes-voadores, nem farnangaios, devido à dificuldade de aquisição para o pescador comum, pelo menos na região.
Já no Rio Grande do Norte é comum o corrico usando-se farnangaio, pois é uma isca de fácil aquisição.
Há uma maneira correta de se empatar o anzol para que a isca (lula ou bonito) não escorregue para sua curva quando corricamos. A isca deve permanecer cobrindo todo o anzol, do olho à curva, caso contrário perde sua eficiência. Nunca devemos deixar para arrumar a tralha no barco. Trabalhos manuais e fixação da vista não combinam com o balanço das ondas, a não ser que você seja um velho lobo do mar…
Antes de mostrarmos como se faz esse empate, vamos falar de alguns modos de se pescar o dourado.
Primeiramente temos que procurar a água azul. Em Arraial, a partir da Ponta do Focinho, em direção ao alto mar, em velocidade de cruzeiro (6 nós) e sem lançar as iscas n’água, navegamos em média uma hora até acharmos o ponto. Às vezes, em ocasiões bem propicias, com meia hora já estamos em posição de iniciar a pesca. Por outro lado, às vezes só com duas horas de viagem chegamos na água azul.
É impressionante e bela a passagem da água verde para a azul. Não é uma coisa que aconteça de repente, vai escurecendo gradativamente, e, quando você menos espera, é um pequeno ponto na imensidão do azul escuro, subindo e descendo montanhas d’água como se estivesse em gangorra gigante. Se estiver acompanhado de outro barco a uma distância de 50 metros, só o verá por breves instantes ao se cruzarem na mesma altura, enquanto uma onda sobe e outra desce. Não sei se é por causa dos ventos constantes, mas nessa região o mar normalmente é pesado, e embora não ofereça perigo me dá sempre uma sensação de pequenez.
No Rio Grande do Norte o mar é mais quebrado, as vagas são menores em extensão mas são mais revoltas, quebram mais, oferecendo maior risco às pequenas embarcações.
Por questões de segurança seria aconselhável, sempre que possível, pescar acompanhado por outro barco, pois as baleeiras só tem um motor e não possuem rádio. A mesma observação vale para o RN.
Durante a viagem, devemos ficar atentos a detritos que estejam boiando ao sabor das ondas, como pedaços de madeira, por exemplo, e também sargaços. Fatalmente o dourado estará por perto, por ser um viveiro natural de pequenos peixes e crustáceos que ali buscam proteção. Se encontrar detritos, encontrou o dourado.
É um peixe tão voraz e persegue sua presa a tamanha velocidade, que várias vezes observamos peixes-voadores em sua “planagem”, fazendo sombra na superfície da água, e só depois percebemos que é o dourado acompanhando sua presa próximo à superfície, esperando que ela caia direto “na panela”.
Uma vez na água azul, é tempo de iniciarmos a pescaria. Temos várias opções.
O corrico é uma delas. A uma velocidade em tomo de 4 nós, solta-se as iscas a uma distância aproximada de 30 metros, variando para mais ou para menos as outras linhas lançadas à água. Pescando-se nessas baleeiras, 3 linhadas é o número ideal, uma a boreste, uma a bombordo e outra no meio da popa. No máximo 4 linhadas, ficando nesse caso 2 na popa. Pode-se usar tanto isca natural quanto artificial. Se usarmos isca artificial a velocidade de corrico deve ficar em tomo de 6 nós.
As iscas artificiais mais indicadas são as Rapala Magnum Floating com barbela de plástico, uma vez que o dourado pega mais na superfície, nos tamanhos 14 a 18. Quanto às cores, deve ficar ao critério do pescador, que verificará na prática qual o melhor para aquele dia e local, substituindo as mesmas no decorrer da pescaria. Como orientação. sugerimos as brancas com cabeça vermelha e as prateadas com lombo azul ou preto. Na água azul as amarelas e suas variações são bastante eficazes. Outra opção de isca é a Long A 16 da Bomber, observando os mesmos critérios para as cores.
A vara utilizada deve ser para duas mãos e medir entre 6 e 7 pés, além de permitir usar linhas até 30 libras, como por exemplo, uma de 14-30 libras, e a linha propriamente dita deve variar entre 14 e 20 libras. Como na água azul não existe enroscos, uma linha de 14 libras estaria de bom tamanho.
Entretanto, se pretendemos devolver o peixe às águas, com uma linha fina para um peixe na faixa de seus 10 kg, por exemplo, demoraria muito para embarcá-lo, provocando sua total exaustão, comprometendo sua sobrevivência.
Não precisamos, portanto, ser muito exagerados. Uma linha de 20 libras já será fina o suficiente para um peixe desse porte. Se a intenção for soltar todos os peixes, pode até aumentar a resistência de sua linha que ainda assim terá uma bela e honesta briga.
Pescando com iscas artificiais, a linha da carretilha ou molinete poderá ser atada diretamente a um snap (grampo), com ou sem girador, e o snap diretamente a um leader 0,60mm, por exemplo, para facilitar o embarque do peixe. Não é necessário usar encastoamento, uma vez que o dourado não possui dentes e sim serrilhas.
Se a pescaria for no RN, haverá a necessidade do uso de encastoamento, pois por aqui é grande a incidência de Wahoos.
Quando pescamos com iscas naturais, as iscas mais usadas, lula ou filé de bonito, encontradas facilmente em Arraial do Cabo, se não iscadas corretamente “escorregam” para a curva do anzol diminuindo sua eficiência.
Nesse caso a linha (20 libras) da carretilha ou molinete é fixada num girador com snap (grampo) e confeccionamos vários chicotes que serão utilizados no decorrer da pescaria. Esses chicotes consistem de aproximadamente 1 metro de linha 0,90mm (podem variar de 0,80mm a 1,00 mm) tendo numa extremidade um girador e na outra extremidade o anzol, tipo 3407 da Mustad, tamanho 6/0 ou 7/0. Outras opções de anzol são os tipos 7731 e 7766, também da Mustad, nos tamanhos 6/0 e 7/0.
É importante ficar atento para o fato que os anzóis da série Big Game, como no caso o tipo 7731 da Mustad, não obedecem ao mesmo padrão de tamanho dos anzóis normais, como o tipo 3407. por exemplo. Assim sendo, ao comprar um modelo “Big Game”, utilize como padrão de tamanho o modelo 3407.
Outro aspecto importante a considerar é que devemos sempre optar pelos modelos de mais fácil corrosão, uma vez que se tivermos que cortar a linha para liberação do peixe com o anzol, ou mesmo se a linha se romper durante a briga, o peixe terá mais chance de sobrevivência e menos tempo de agonia para se livrar do anzol. Nas lojas de pesca normalmente você achará o tipo 34007, de aço inox, de mais difícil corrosão. Opte, portanto, pelo modelo 3407, que é estanhado e de mais fácil corrosão, como os modelos 7731 e 7766, já mencionados. Outro alerta é quanto às semelhanças de modelos. O modelo 7731, já sugerido, é semelhante ao 7731 A. No entanto, o modelo 7731 possui o olho soldado, ao passo que o 7731 A possui o olho tipo fundo de agulha. Para o presente caso, é essencial que o modelo adquirido seja o 7731, por possuir o olho maior e dar maior apoio ao tipo de nó que necessitamos fazer.
Voltando ao chicote, se o mar estiver “batido”, é aconselhável usar entre uma extremidade (girador) e outra (anzol) um pequeno chumbo correndo livre, limitado por um nó de retenção ou parada. Esse nó é confeccionado da mesma maneira que o nó usado para empatar o anzol. Isso permite que a isca nade mais suavemente, evitando ficar “pulando” sobre as ondas. O detalhe mais importante do chicote está no nó. Deve ser usado o tipo para anzol de pata (sem olho), e uma vez fixado bem apertado, a linha de náilon deve ficar na parte interna do anzol, sem passar por dentro do olho. Isso fará toda a diferença ao colocarmos a isca, pois a camada ficará presa entre a linha e o olho do anzol, impedindo que corra para a curva do anzol. Vejam como fica.
Vários chicotes devem ser montados, com e sem chumbo, para se ter opções de acordo com as condições do mar.
Se a pescaria for no Rio Grande do Norte, o esquema é outro, visto que por aqui usamos o farnangaio, embora possa ser utilizado o mesmo sistema e iscas mencionados acima.
Agora é só engatar o chicote na linha principal e mãos à obra!
Outra maneira de se pescar o dourado é na “caída”, como dizem os caiçaras. Na realidade consiste em deixar o barco na “rodada”, ao sabor do mar, e ir cevando, atirando às águas pedaços de peixes, lulas, “caldo” de peixe, restos, tudo em pequenos pedaços. Nesse caso deve-se utilizar o chicote sem chumbo. Outra alternativa é usar bóias, que podem ser presas ao girador do chicote ou mesmo ajustável pelo nó de retenção na linha principal da carretilha ou molinete.
Como “dica” final, em qualquer modalidade de pesca, seja no corrico com iscas artificiais ou naturais, seja na rodada, verifique quando o dourado estiver próximo ao barco se não existem outros peixes ao redor. As vezes eles costumam “encachorrar” (encardumar), na linguagem dos pescadores, e aí é aquela festa. Se você mantiver sempre um dourado fisgado dentro d’água, enquanto o parceiro retira o seu, o cardume ficará encostado no barco. É nessas horas que você terá oportunidade de “pinchar” iscas artificiais com equipamento diferente e mais leve, como varas para uma mão (pistol grip) e até mesmo fIy.
Outra coisa. No corrico, assim que alguém fisgar, pare o barco. Não reboque o peixe.
Curta o jogo, cada qual no seu lado do campo.
Matrinchã
Recordar é viver… Eu ontem sonhei com você…
Pois é, pessoal, apesar de antiga, essa música não perdeu a atualidade…
Quando não estamos pescando, estamos pensando em pesca. Em São Paulo, é comum aos sábados, quando não tem pescaria, o pessoal freqüentar as lojas do ramo em busca de parceiros de hobby para bate papos desinteressados, onde sempre acabam aprendendo alguma coisa, se não de pesca, pelo menos da natureza humana. Por aqui não existe esse costume, mesmo porque não existem lojas com essa mentalidade.
Lembrei-me disso porque foi numa dessas pescarias “no seco”, na loja do Quico Guarnieri, em Santo Amaro, onde conhecemos o amigo Padilha, proprietário da Fazenda Matrinchã, localizada entre os rios Arinos e Claro, no estado de Mato Grosso, mas pertencente à bacia amazônica, no município de São José do Rio Claro, aproximadamente 330 km de Cuiabá.
Daí para combinarmos uma viagem à região foi um pulo. Fiquei freguês e o resultado foi um de meus primeiros vídeos de pesca, “Matrinchã – Uma Aventura na Amazônia”.
A bacia amazônica é constituída pela maior rede hidrográfica do planeta, ocupando uma área de 7.000.000 km2, dos quais 5.400.000 em território brasileiro, sendo seus cursos fluviais classificados como rios de planície.
Possui a mais rica fauna de água doce do mundo, e seu representante mais conhecido e de maior prestígio já na época era o tucunaré. Pouco se conhecia e se falava na matrinchã, não era peixe comum na época e nem existia em Pesque & Pagues. Estamos falando do ano de 1991, quando a pesca esportiva começava a dar seus primeiros passos graças a Rubens de Almeida Prado, o pioneiro que deu o ponta-pé inicial ao processo.
Na natureza, poucos eram os pescadores que tinham tido o prazer de cruzar o caminho da matrinchã, pois era espécie circunscrita exclusivamente à bacia amazônica.
A matrinchã nos deixa a impressão, ao vê-la pela primeira vez, de ser um lambari crescido e mais carnudo, com dentes pequenos, mas fortes, aguçadíssimos. Pertence à família dos salmonídeos e caracídeos, como os dourados, segundo alguns, e são parentes próximos das piracanjubas, segundo outros. Essas eram as informações que tínhamos na época.
Independentes dessas questões são excelentes lutadoras e saltadoras, oferecendo um emocionante combate quando fisgadas, prolongando a satisfação do pescador, pois não se entregam facilmente, são boas de fôlego, superando facilmente o tucunaré nesse quesito.
Não sei com está hoje o rio Arinos e seus afluentes, mas na época era um dos melhores rios para sua pesca, devido à quantidade e tamanho de seus exemplares, na média entre 2 e 3 kg, embora não raro capturássemos exemplares de 4 kg. Chega a 5 kg e 50 cm de comprimento.
São peixes que freqüentam águas limpas e rápidas, corredeiras, onde ficam escondidos atrás de obstáculos como paus, pedras, tocos, etc, à espreita de sua futura vítima, que atacam com espantosa velocidade, dando pouca margem à fuga.
Apesar desse espírito caçador, alimenta-se também de pedaços de carnes, coração de boi, além de frutas da região como caju, jenipapos, etc. Não despreza insetos, répteis e pequenas aves. O que vier ela traça. Uma ocasião, ao limparmos a barrigada de uma matrinchã na faixa dos dois kg, encontramos em seu interior um pequeno nhambu. Não imaginamos como foi parar ali.
Em função de seus hábitos alimentares ataca muito bem qualquer tipo de isca artificial, tanto de superfície quanto de meia-água ou profundidade, como pode ser observado em nosso vídeo sobre matrinchã. Não é propaganda do vídeo porque hoje não tenho mais nem para remédio. Estou falando da pesca da matrinchã em seu ambiente natural, passando longe de qualquer Pesque & Pague, onde a ração é seu alimento principal e predileto.
Existem, entretanto aquelas iscas que são mais eficientes, e destacamos pela ordem as mais efetivas no “ranking” de sua pesca:
- Spinner (Blue Fox ou Meps). As garatéias (se for o caso) devem ser trocadas por um único anzol, do tipo utilizado para pacu. O número 5 é uma boa pedida.
- Colher Jonhson ¾ e ½ OZ. Podem ser usadas prateadas ou douradas, mas minha preferência recai na prateada para os dias de sol.
- Plugs de barbela. São vários os modelos eficientes. Para se ter uma idéia, na época as mais efetivas eram as Long A 15 da Bomber e a Red Fin 900 da Cotton Cordell. Já para superfície as mais indicadas eram as Jumpin’Minnow e as Zaras Spook. Estamos falando de 1991, minha gente.
- Jigs. São ideais para pesca de fundo, nas cores brancas e amarelas.
Os pescadores profissionais da região utilizavam um macete interessante. Como pescavam exclusivamente com spinners (lá chamados spinas), colocavam na ponta do anzol um pedaço de peixe ou de carne, que não atrapalhava a ação da isca. Segundo eles, isso assegurava que o peixe não refugava se não pegasse a isca no primeiro ataque, insistindo até ser fisgado. Essa tática só pode ser utilizada com spinners, não utilizar com plugs ou colheres.
Já as iscas naturais eram mais utilizadas nas pescarias noturnas. Eram pedaços de frutas ou peixes, mas normalmente optávamos pelo peixe ou carne, como pedaços de traíra, lambari, coração de boi, etc.
Como a pesca era feita em águas rápidas e corredeiras, não utilizávamos o motor elétrico, pois não tinha força para vencer a correnteza. Assim, nada substituía a habilidade dos piloteiros com o remo. Era uma pescaria “de rodada” e de “arremesso com iscas artificiais”.
Nesse tipo de pesca o ideal era utilizar carretilhas ou molinetes com boa velocidade de recolhimento, de 5 para 1 em diante, devido a rapidez das águas e consequentemente a passagem rápida pelos pontos. Dificilmente conseguia-se bater duas vezes o mesmo local.
As varas eram de ação medium heavy, com ponta dura, com comprimento entre 5.6 a 6 pés.
Quanto à linha empregada, a de 17 lbs era suficiente. Na época não achávamos necessária a utilização de leader, opinião modificada ao longo dos anos. Um leader de 0,50 a 0,60mm ajudaria no embarque do peixe e na briga nas galhadas, pois para a dentição da matrinchã só encastoamento.
A regulagem da fricção deveria ficar em volta de 1/3 da resistência da linha, para tentar segurar a matrinchã na hora da fisgada, pois a exemplo do tucunaré, sua primeira arrancada é em direção dos enroscos.
Já na pescaria noturna o peixe procura as águas calmas dos barrancos e praias, atacando o que cair ao seu alcance. Utilizávamos pedaço de peixe ou coração de boi, como já dissemos, e os arremessos eram feitos nas sombras dos barrancos, fora da claridade da lua, se houvesse. Nesse caso, devido a forte dentição do peixe, era necessária a utilização de um encastoamento de aço de 10 cm aproximadamente, empatado com anzol de boa qualidade número 5 ou 6. Era opcional a utilização de uma pequena chumbada, para facilitar os arremessos. O restante do material e procedimento era o mesmo utilizado na pesca com iscas artificiais.
Como já disse antes, a fazenda está localizada entre os rios Arinos e Claro, e tínhamos duas maneiras possíveis de realizar uma pescaria na região. A primeira era descer o rio Arinos pinchando, praticamente sem a utilização dos motores de popa, ao sabor da correnteza, até chegar próximo à embocadura dos rios Alegre e Marape, onde era montado um acampamento mais estruturado, e base para ficar alguns dias em contato com a maravilhosa selva amazônica, usufruindo seus sons, cheiros, sabores e pescarias. Dois dias nesse ponto, acrescido do tempo de descida, era mais que suficiente.
Essa viagem até esse ponto, desde a fazenda, durava 3 dias de viagem, só parando para o almoço, e pescando o resto do dia na descida. À noite, em acampamentos improvisados, armávamos as redes e adormecíamos contemplando maravilhados o céu estrelado que só longe dos grandes centros podemos observar.
A volta à fazenda, subindo o rio, podia ser feita em viagem ininterrupta de aproximadamente 6 horas a todo motor (15HP).
A outra opção era pescar no rio Claro, um dos mais bonitos que já vi, cercado por floresta exuberante e piscosidade sem par. É rio estreito e de fortes corredeiras, perigoso para quem não o conhece devido ao seu fundo de pedras, apesar de poder ser observado quase todo o tempo devido à limpidez de suas águas. Era a melhor opção para quem não gostava de aventuras ou era mais comodista, pois podia gozar do conforto da fazenda e das pescarias em idas e vindas todos os dias para os pesqueiros. Com paradas para almoço na sede e descanso na rede.
Não sei hoje em dia, mas naqueles tempos o que nos surpreendia é que quase não existia pesca predatória na região. Os profissionais da pesca apenas a exerciam no período de julho a outubro, época ideal para a pesca da matrinchã, e a faziam em barcos de madeira, sem motor de popa, que eram soltos no rio Claro, próximo a São José do Rio Claro, descendo ao sabor da correnteza até a desembocadura no rio Arinos, onde continuavam descendo ao sabor da correnteza até uma localidade chamada Vaca Branca, depois dos rios Alegre e Marape, já citados, com pausas somente para almoço e pernoite, em viagem total de aproximadamente quatro dias, onde eram recolhidos e trasladados para a cidade (São José do Rio Claro). O rio Alegre é também chamado Parecis (assim aparecia nos mapas)
O restante do ano os pescadores exerciam outras atividades, e no período da pesca não utilizavam redes ou tarrafas, apenas um spinner artesanal a que chamavam de spina, como já foi dito, e que arremessavam e recolhiam com linha de mão.
O máximo que vimos naquela época em pesca predatória foi a utilização de espinhéis, mesmo assim armados por amadores de fins de semana, moradores da cidade e fazendas marginais.
Nessa região da bacia amazônica a floresta conservava em quase toda sua totalidade a mata densa e original, mas queremos deixar claro que tudo o que foi relatado aqui se baseia em experiências pessoais de diversas viagens que fizemos àquela região naquela época.
Todas as fotos que vocês viram aqui são fotos antigas de baixa qualidade e retratam apenas uma pescaria de dois dias que fizemos com os amigos Nelson Turri, Ismar de Barros Gomes e Luiz Carlos dos Santos Conrado. Foi uma experiência maravilhosa pescar com esses amigos, por gentileza do proprietário da fazenda na época, José Carlos Padilha, que após efetuar as gravações, juntamente com o Quico Guarnieri, voltou para São Paulo e nos deixando a fazenda à disposição. Eu tinha ficado na fazenda um dia à espera do pessoal, retornando três dias depois com eles.
As aventuras descendo o rio Arinos e acampando, assim como as estórias das pescarias nesses três dias ficam para depois, para não tornar muito extenso e enfadonho esse relato, mais do que já está.
Finalizando, deixo aqui a citação de Antonio de Pádua Bertelli, com pequeno acréscimo, que resume para mim o que representa o pescador esportivo:
TODO PESCADOR ESPORTIVO, POR FORÇA DO ESPORTE, ACABA SE TRANSFORMANDO EM AMANTE DA NATUREZA E CONHECEDOR PROFUNDO DE SUAS RIQUEZAS, SE TORNANDO UMA DAS ESPERANÇAS PARA A CONSERVAÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE.
E não se esqueçam do Pesque & Solte. Cultivem esse hábito!
Pescando na Paraíba
Há muito tempo pescaria para mim deixou de ser sinônimo de grandes peixes. A satisfação primária passou a ser as companhias e os novos locais a serem descobertos, principalmente nesse nosso nordeste tão pouco divulgado.
Pensando assim resolvemos ir conhecer um pequeno rio na Paraíba, reduto de nosso amigo Auricélio antes de instalar sua estrutura em Barra do Cunhaú.
Esse rio, o rio Sinimbú, deve ser velho conhecido de outro especialista de pesca na Paraíba, o nosso amigo Max, que deveria nos brindar com mais informações de sua região. Falou em pesca na Paraíba, falou em Max!
Pois bem, saímos eu e o Alexandre para conhecer o tal rio, marcando encontro com o Auricélio e o Hércules no meio do caminho. Apesar de pequeno em extensão e largura, é grande nas emoções que oferece.
No GoogleEarth nosso amigo Chrony calculou ter uns 10km o rio Sinimbú, e, como ponto de apoio, contávamos com a hospitalidade e o apoio do pescador José Fidelis, com seu barco à vela, morador da Aldeia Camurupim, perto da foz e do local conhecido como Boca da Barra ou Barreta Funda (Bacia do Coqueirinho), excelente ponto para a pesca do tarpon (camurupim), e um dos pontos turísticos da Baía da Traição. Aliás, ao ouvir pela primeira vez esse nome, não me caiu bem, mas confesso que hoje já acho até que tem certo charme…
A Baia da Traição conta com praias paradisíacas, muitas delas totalmente desertas, porém muito visitadas por turistas do mundo todo. O IBAMA desenvolve o projeto Peixe Boi-Marinho na Barra de Mamanguape, passeio indispensável para quem apoia os trabalhos de proteção à natureza.
Dentre todas as versões sobre a origem do nome Baía da Traição, é fato que no início do século XVI essa região era habitada e dominada pelos índios Potiguaras, uma das mais aguerridas tribos do litoral brasileiro. Uma das hipóteses é que o nome esteja vinculado à primeira expedição exploradora de 1501, quando três marinheiros portugueses foram mortos e devorados pelos nativos, depois de serem recebidos amistosamente, no primeiro porto onde a flotilha ancorou, no dia 17 de agosto. Fazia parte da expedição o famoso navegador Américo Vespúcio.
Voltando à pescaria, segundo informações do Zé Fidelis, as melhores marés são as marés de quarto, no reponto para a enchente. Apesar de pescarmos com artificiais, nos informou que com camarão vivo só se for da Baía, camarão de viveiro não presta. Outra boa isca é a sauna, visto que os tarpons também fazem suas incursões por esse rio.
As melhores épocas de pesca, ainda segundo ele, são no final do verão para o inverno, quando existe a troca de águas. Pescamos só uma vez por lá, objeto dessa matéria, mas acreditamos que a pescaria é boa durante todo o ano, preferencialmente no verão, pelo que vimos nos rios do Rio Grande do Norte.
Chamamos de verão a época que vai de agosto a março, e as melhores marés são, para variar, as “Marés de Lançamento”. Como sempre acontece, não fizemos essa pescaria na maré certa, e sim na que foi possível, mas mesmo assim foi gratificante pela companhia e por conhecermos um novo local.
As fotos de peixes maiores com o Auricélio foi na maré correta, mas não estávamos presente, infelizmente.
Temos que deixar bem claro outra coisa. Como o Miudinho (Alexandre) é ligeiramente avantajado, com 1,96m e 130 kg, qualquer peixe capturado por ele torna-se insignificante, minimizando nossas conquistas. EMAGRECE, MIUDINHO!!!
Ah!… E não se esqueçam… Pratiquem o Pesque & Solte…