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Crônica de um pedestre

Bati meu carro há alguns dias atrás e só ontem levei à oficina. Fiz um esquema de carona casa para o trabalho e vice versa. Mas a de hoje de manhã furou. Resolvi vir ao escritório de ônibus. Fui para a parada mais próxima já com o sol castigando. Depois de uns 10 minutos encosta o coletivo lotado. Cheguei a pensar que não ia dar para entrar, era muita gente, fiquei indeciso, mas logo imaginei que o próximo coletivo poderia demorar mais de uma hora. Boto o pé no primeiro degrau com acara esfregando as costas de um outro passageiro e sinto um empurrão medonho me jogando prá dentro. Era uma mocréia com uma bolsa velha de buriti a tira colo. Só sossegou quando cheguei à catraca congestionada por uma gracinha que resolveu procurar um passe perdido num enorme sacola. O motorista acho que, percebendo a lentidão, deu uma arrancada daquelas, passei de uma vez pela roleta levando junto a empata fogo. Esbarrei num negão que de maldade pisou no meu pé enquanto voltava para pagar a cobradeira. Dei o dinheiro e fiquei esperando o troco.
– Não tenho troco prá dois real.
– Quanto é a passagem?
– R$1,75. Se quizé o troco espera aí.

Tá bom. Fiquei ali segurando um daqueles monte de ferro pregado no teto. À medida que ia entrando gente, a coisa ia espremendo e eu cada vez mais para o fundo do corredor. Meus 0,25 cents já eram. Fui parar entre duas pipirinhas bonitinhas embutidas em calças jeans num esfrega esfrega de pernas danado. Uma de cabelos loiros com óculos escuros que cobria quase todo o rosto e a outra pretinha de cabelos molhados escorridos pelo cangote e com as costas da blusa toda molhada que estava de meia bunda roçando minha coxa. Pelo menos havia me dando bem ali entre as duas. O odor era uma mistura química terrível. Fundiam-se perfumes e desodorantes de todo o tipo. Alguns vencidos e nauseantes. Acho que tinha até banho vencido.

A coisa melhorou um pouco após uma velhinha pedir para segurar minha pasta de trabalho. Relutei um pouco, mas a sua aparência era acima de qualquer suspeita. Pude segurar aquelas barras de ferro com as duas mãos e aproveitei para chegar bem o braço junto ao da loira.

Pensei, agora essa merda não vai mais parar. Não tem como entrar mais ninguém. Fiquei nas pontas dos pés e dei uma olha lá fundo. Parecia arenque no côfo. Certamente não haveria como entrar uma criança sequer. Mas qual o quê! Quando menos esperava, outra freada violenta. Despreguei-me das pipirinhas e fui parar encima de um sujeito de camiseta “Deus é Fiel” com o sovaco à mostra quase se esfregando na minha cara com aquele cheiro horroroso. O calor estava insuportável.

– p…! Esse cara é maluco!? Protestei indignado com a falta de respeito do motorista.
– Isso é “freada do arruma” resmungou o sujeito do suvaco.

Deve ter sido mesmo, pois acabou ficando mais folgado, embora tenha perdido a posição confortável entre a loira e a moreninha. Tentei dissimuladamente voltar junto delas, mas era impossível. Minha pasta ficou lá na frente no colo da velhinha. Tinha que ficar de olho. Vai que essa maluca desça antes que eu.

Já tava puto da vida, as “freadas de arruma” se sucediam e eu cada vez mais lá pro fundo, arrastando o cara do suvaco comigo. De vez enquanto usava os cotovelos prá ver se ele se distanciava um pouco. Consegui me ajeitar com a barriga escorada naquela alça de ferro de uma poltrona e de olho na velhinha. Nisso sinto uma pressão violenta no espinhaço e sou exprimindo com a barriga da p… do apoio de ferro que quase boto os fato prá fora. Respirando com dificuldade olhei prá trás e vi o saliente com cara de quem estava de ressaca com uma enorme mochila pirata dessas de marca presa no tórax Joguei o corpo por cima do passageiro sentado à minha frente para facilitar o trânsito do cara me espremendo ainda mais. O qualira ao invés de passar ficou ali parado. Olhei bem prá ele:

– Tu vais passar ou vai ficar aí embaçando?
– Num tem prá onde ir não!
– Se vira cara! Tu não tá vendo que estou todo exprimido aqui?
– Ô tio, num qué andá de ônibus compra um carro!

Ah sacana! Quase mandei o cara prá aquelelugar. Tinha um pircing de argola no nariz e tive que me conter para não arrancá-lo lembrando de um filme, acho, que do Steven Seagal. Mas ali era o pior lugar para arrumar uma confusão. Minha sorte que logo veio outro “freio de arruma”. Acabei me livrando do babaca.

Fui parar na porta dupla de saída preocupado com minha pasta que ainda estava em poder da velhinha. Uma morena gostosa com um decote generoso estava sentada na poltrona do corredor lendo um panfleto desses de promoção de super mercados. Olhando de cima o cenário era agradável e amenizava o estresse, embora disfarçasse de vez enquando. afinal não queria ser acusao em público de voyerismo. Segurei firme no apoio da poltrona no caso de outra freada. Dali ninguém ia me tirar. Não era como estar entre aquelas duas pipiras que agora estavam distantes, porém, melhor do que exprimido entre os machos fedorentos. Queria que a velhinha olhasse prá mim. Poderia pegar minha pasta e simulando um pouco de dificuldade e sofrimento quem sabe a morena da poltrona não pedisse pra segurar? Seria o máximo. Mas nada, a velhinha estava lá frente sentadinha quase cochilando. O espaço folgou um pouco e consegui encostar um dos joelhos na coxa da morena. Agora ia nessa até a minha parada final. Quando o coletivo parava parecia bode embarcado. Desciam 5 subiam 6 e era aquela agonia. Sentia o suor descendo pelos costados e pela testa e tomando cuidado prá neguinho não ficar roçando a minha bunda. Numa das paradas já próximo ao escritório, subiu um cego pela porta de trás, apoiando ao braço de um menino. Não acreditei! –Dê uma ajuda pro ceguinho, pelo amor de Deus! Dê uma ajuda pro ceguinho!

E foi o ceguinho levando o povo no peito tendo a criança como guia. Não sei se na prática, essa situação funciona para o deficiente coletar algumas moedas. Ali ninguém tem nenhuma condição de enfiar a mão nos bolsos ou bolsas. Em alguns momentos mal se respira.

Olhei pela janela e percebi que já estava mais próximo da minha parada. Agora tinha que traçar uma estratégia para voltar à velhinha lá da frente para recuperar a pasta. Mas para isso era obrigado me afastar da morena e daquele decote. Quando parecia que o corredor estava mais folgado, encosta uma figura do meu lado esquerdo, barbudo mal cheiroso, de bermuda, chinelo de dedo uma camisa desbotada do Corinthians com a inscrição no peito Kalunga! PQP onde esse cara arrumou isso? Só me faltava essa! Tentou segurar na alça da poltrona onde eu também estava seguro, mas dei um arruma nele com o cotovelo. O cara tinha o braço todo peludo e suava qual tal tampa de papeiro.

Ah chegou à parada! É de frente a um Shopping e percebi que o movimento da grande maioria era para desembarcar ali. Fiquei aliviado vendo a velhota vindo em minha direção com a pasta. A morena do decote levantou-se também e como eu estava esperando a velhinha, teve que passar entre eu e a poltrona. Aproveitei para dar um esfrega. Peguei a pasta agradeci e fui em direção aquele monte de gente querendo descer de uma só vez. Ainda tinha um gaiato que não ia desembarcar, atrapalhando a saída. O corintiano começou a gritar no meu cangote: arrócha, arrócha.

– Calma aí cara!
– Sai, sai que tô avexado! Fiquei puto mas retruquei:
– Tá avexado? Não quer andar de ônibus compre um carro! He he me vinguei!

Meu carro sai da oficina só na quinta feira! Tô fudido.

O dossiê Camurupim (Tarpon)

Pescamos Camurupins há mais de quinze anos no litoral do Maranhão. Tempo suficiente para cultivarmos grande fascínio e admiração pelo “reide prata”. Um oponente formidável, valente, astuto, perspicaz que quase sempre leva vantagem na batalha com o pescador. De troféu cobiçado, passou a nos representar o símbolo da bravura e intrepidez. Experiências com incontáveis embates memoráveis em pescaria com meus dois filhos, nos levaram a dedicarmos muito tempo às observações e pesquisas sobre seu comportamento. Pesquisas científicas publicadas são poucas e restritas quase que exclusivamente à costa leste americana, México e Costa Rica. Reunimos dados desses estudos junto com nossas anotações e observações durante um longo período e produzimos esse trabalho que poderá ajudar mais na compreensão da anatomia, biologia e estado comportamental do Megalops Atlanticus, ainda muito pouco estudado.

Nosso trabalho de pesquisa com pescadores, observações pessoais e relatos, não tem caráter científico, por questões óbvias, apesar de meu filho Alessandro Menks ser biólogo. Entretanto o material reunido durante todos esses anos nos deu uma base de dados das mais interessantes e poderá, certamente, ser usado para entendermos de forma mais consistente o nosso surpreendente e tão desejado Camurupim.

A adaptação do texto com nossas inserções foi realizada usando uma abordagem mais simples a fim de facilitar a concepção das informações a todos os pescadores esportivos, de um modo geral aos admiradores desse peixe espetacular. Esse trabalho não encerra nossas pesquisas de observações. Vamos continuar estudando seu comportamento ainda que tenhamos que repetir ( o que para nós é um deleite) as viagens percorrendo milhas e milhas seguindo seus cardumes pelas águas do litoral do Maranhão.

Descrição:
Ordem Elopiformes
Família: Megalopidae
Gênero Megalops
Nome científico: Megalops Atlanticus

Conhecido no norte e nordeste brasileiro como Camurupim, pema, pirapema e Camurupim nos Estados Unidos, pertence à família Megalopidae é um grande peixe com uma coloração entre o azul profundo a preta na parte dorsal e prata brilhante na parte ventral. Entretanto, esta cor pode ser alterada nos indivíduos que habitam águas litorâneas e também os mantidos em cativeiro. Suas escamas são enormes tanto quanto seus olhos (megalops). A mandíbula inferior é posicionada à frente da superior. As barbatanas são compostas de raios macios. O Camurupim tem uma barbatana caudal simétrica. A única barbatana dorsal é pequena e composta de 13 a 15 raios moles; o último desses raios é alongado com um filamento raiado. A barbatana anal é um triângulo e compõe-se de 22 a 25 raios moles; o último desses raios é também alongado e menor do que a nadadeira dorsal. Tem grandes barbatanas pélvicas ao longo do abdômen composta de 13 a 15 raios moles. Variam muito em dimensão com as fêmeas em geral maiores que os machos. É relatado que os adultos podem atingir até 2,50m e chegar a um peso de 161 kg. As fêmeas, em média são maiores que os machos. Mas estudos indicam que existe uma variação de peso e tamanho principalmente entre os espécimes da Flórida e Costa Rica. Podem viver entre 43 anos (macho) e 55 anos (fêmeas). A maturidade sexual por volta dos 10 anos entre 117 cm nos machos e 128 cm nas fêmeas. Andam em cardumes de 12 a 20 indivíduos, mas já foram vistos em grupos com cerca de 100 espécimes. É um predador eficiente e tem hábitos alimentares diuturno, porém em geral, caça mais à noite.

O maxilar inferior é grande e protuberante. Os dentes são pequenos e em grande quantidade posicionados em camadas circulares por toda a sua boca. Sua língua áspera a partir da base inferior do crânio e tem minúsculas garras que o ajuda a segurar a presa. A mandíbula é poderosa e composta de um opérculo ósseo extremamente afiado que o ajuda no ataque e o torna especialmente difícil de capturar, visto que a linha de pesca é sempre cortada pela chapa óssea. Uma modificação anatômica evoluiu para uma adaptação de tolerância física que ajuda na respiração. Um tecido alveolar na bexiga natatória é ligado a um duto que por sua vez é ligado ao esôfago para permitir a respiração do ar atmosférico, funcionado como um pulmão auxiliar. Estudos demonstraram que mesmo em ambientes de águas ricas em oxigênio, ainda assim o Camurupim respira o ar partir da superfície. Acompanham o ciclo das marés quando entram em baias e estuários acompanhando cardumes de presas. É um peixe pelágico que quando adulto prefere águas costeiras mais profundas.

Desconhece-se algum estudo para avaliar o tamanho da população e a saúde dos cardumes de Camurupins ao longo da costa do nordeste brasileiro.

Todos os estudos e pesquisas de caráter científico conhecidos são limitados à costa da Flórida, Costa Rica, e Golfo do México pelos autores abaixo creditados.

Faixa Geográfica:
Sua ocorrência é notada principalmente nas águas quentes, das regiões tropicais do leste a oeste do Oceano Atlântico. Maiores ocorrências são registradas a leste dos Estados Unidos, nordeste do Brasil, oeste da Africana ( Senegal, Congo) Caribe, Golfo do México, Panamá Costa Rica e ocasionalmente na Argentina, no oeste do Atlântico, ao longo da costa de Portugal, Açores, sul da França, no leste do Atlântico.

Habitat:
Os Camurupim são encontrados em estuários, baías, lagoas e até mesmo ser conhecida suas incursões em rios de água doce. Tem a capacidade de tolerar ambientes pobres em O2. A única restrição ambiental em seu habitat é temperatura. Súbitas mudanças climáticas podem levá-los à morte em grande número. Chegam aos estuários em seu segundo estágio da metamorfose acompanhando as marés altas. O Camurupim Juvenil é membro comum da ictofauna encontrada em ambientes acima citados.

Reprodução e Embriologia:
O Camurupim macho alcança uma maturidade sexual entre 0,90cm a 117,5 m, enquanto as fêmeas amadurecem sexualmente entre 1,28 m. A idade da maturidade sexual é estimada a partir dos10 anos de idade. Entretanto, na Costa-Rica, a maturidade sexual do Camurupim é alcançada em uma idade mais precoce do que o Camurupim da Florida e aparentemente não atinge tamanho considerado adulto. O Camurupim é altamente fecundo, é estimado que as fêmeas adultas produzam cerca de 12 milhões de ovos sempre dependendo do tamanho e da idade do espécime. A ovulação é proporcional à idade. No Brasil, na costa norte e nordeste a desova é entre os meses de março a maio. Na Florida, Costa Rica e do golfo de México oriental fazem migrações para a desova extensiva em águas mais profundas nos períodos de maio a julho.

Estudos sugerem que as desovas do Camurupim sazonalmente são múltiplas. Na Costa-Rica, a desova não parece ser sazonal, e as fêmeas maduras são podem desovar em qualquer época do ano. Sugeriu-se que a fase lunar pode ser um componente importante para a atividade de desova. A eclosão ocorre entre 2 a 3 dias em estado larval.

Os ovos têm em média de 0,7 mm de diâmetro ovos eclodidos em águas profundas são de forma larval e após aproximadamente 2 a 3 dias. São os Leptocephalus (larvas planas e transparentes de cabeça pequena) distinguidos por seu corpo plano e transparente, que consistem primeiramente em uma matriz acelular, mucinose também delgado, como os dentes, que são proeminentes na região principal. Os Leptocephalus variam no tamanho de um comprimento padrão de aproximadamente 5.5 – 24.4 m O estágio do leptocephalus persiste por 2 – 3 meses Durante este período, os leptocephalus são transportados pelas correntes das águas profundas para as águas litorâneas incluindo mangues, e eventualmente nos estuários onde procuram abrigo e alimentação e terminam o desenvolvimento. As larvas Metamórficas são encontradas mais freqüentemente em estuários e manguezais de água salgada. Não se reproduzem em cativeiro.

Estágios de desenvolvimento:
A. Estágio I – leptocephalus, 9,4 milímetros SL.
B. Estágio II – leptocephalus, 17,5 milímetros SL.
C. Estágio III – leptocephalus, 23,0 milímetros SL.
D. Estágio IV – 14,0 mm
E. Estágio V – 13,0 mm (diminui de tamanho)
F. Estágio VI – 13.8mm -barbatanas dorsais e anais continuar a mover-se anteriormente; a bexiga do gás estende para frente.
G. Estágio VII – 15,9 mm. a pigmentação aumenta no corpo e desenvolve a bexiga auxiliar da respiração.
H. Estágio VIII – 16,9 mm. Aparecem as barbatanas.
I. Estágio IX – 23,0 mm TL, 19,6 mm. Barbatanas dorsais e anais tornam-se mais proeminentes.
J. Estágio X – 31,5mm a 25,5 mm. Ponto na barbatana dorsal distinta; pigmentação do corpo mais profusa
K. Juvenil XI – 41.0 mm
L. Juvenil 38,60 cm

Hábitos alimentares:
A dieta varia durante todo o seu desenvolvimento. Na primeira etapa do seu desenvolvimento, o Camurupim obtém nutriente diretamente a partir da água. Como juvenis, eles alimentam de zoplâncton, pequenos peixes, crustáceos e insetos. Na fase adulta, têm como principais fontes de alimento as sardinhas, arenques, tainhas, guaraviras (Maranhão) e crustáceos.

Utilidade econômica:
A pesca do Camurupim é considerada altamente esportiva devido a sua extrema força, velocidade e a grande dificuldade de ser fisgado. Seus saltos extraordinários bem acima da linha dágua o tornam um oponente de muito respeito e admiração e o tornam um troféu cobiçado. Todavia, não é considerado um peixe apreciado para a alimentação com exceção da América do Sul. No Brasil (o maior consumidor), Panamá e África(em menor escala) são encontrados facilmente em mercados de peixe. A sua carne não é consumida nos Estados Unidos e na Florida, a venda comercial do Camurupim é proibida. A pesca esportiva tem grande relevância econômica, principalmente na Flórida onde gera aproximadamente 731 milhões dólares anualmente. Destes, 465 milhões dólares são oriundos diretamente das atividades da pesca esportiva e o restante captado pela enorme indústria turística da pescaria esportiva, envolvendo embarcações de alta tecnologia, guias, hotéis, aluguel de equipamentos, licença de pesca, ecoturismo etc.etc.

Desde 1989, o estado da Flórida adotou regras severas para a sua pescaria incluindo a obrigatoriedade de uma licença exclusiva no valor de $50.00, para cada pescaria. Este processo e a fiscalização rigorosa e permanente favoreceram o um aumento considerável do pesca e solte e como conseqüência a preservação e proliferação dos cardumes. Os peixes segurados desse modo foram mostrados para recuperar rapidamente e recomeçar atividades normais dentro de um período de tempo curto.

Conservação da espécie:
A prática do pesque e solte por pescadores esportivos sem as devidas precauções, pode ser uma causa da mortalidade do Camurupim do adulto. Entretanto, encontrou uma taxa elevada da sobrevivência entre 26 a 27 peixes estudados depois de fisgados e liberados na Florida. Isto indicaria uma mortalidade pequena para a pesca esportiva. Essa baixa mortalidade é baixa quando os peixes são fisgados na maxila, trazidos ao barco e liberados dentro de um período de tempo relativamente curto e não são removidos da água para serem liberados. Ainda assim, esse processo é a maior causa das mortes no pesque e solte.

A qualidade do Habitat e de água é reconhecida como especialmente importante no estágio adiantado da vida dos peixes marinhos encontrados nos estuários. Toda a degradação do ecossistema com impacto de poluentes em áreas estuarinas e de manguezal altera ciclo de desenvolvimento e sobrevivência dos Camurupins juvenis que utilizam estes ambientes com berçário. A poluição da águas afeta negativamente o Camurupim. Sua permanência em estuários, baias e lagos é considerado um indicador da saúde desses ecos sistemas.

Na Carolina do Sul o Camurupim foi declarado um peixe esportivo através de Lei estadual em 1991. Esta lei proíbe a venda e o comércio do Camurupim e limitou a sua pesca, (exclusivamente esportiva) de um peixe por pescador, por dia.

A pesca predatória no litoral norte nordeste, contribui para a diminuição dos cardumes que às vezes são quase dizimados por barcos pesqueiros que utilizam grandes redes de especialmente confeccionadas para a sua pesca (Maranhão). Relatos de pescadores dão conta de serem abatidos de 60 a 70 Camurupins adultos em apenas uma pescaria em águas maranhenses.

Predadores:
Os peixes pequenos rapinam os ovos e alevinos ainda em água de desova. Em águas litorâneas os pássaros piscívoros são predadores preliminares do Camurupim juvenil uma vez que incorporam áreas do berçário em mangues, estuários, lagos e lagoas. Os tubarões, touro e o cabeça de martelo, são os predadores principais do Camurupim adulto. A maioria de mortes atribuída à atividade pesqueira ocorre dos ferimentos ao ser embarcado e ainda de ataques de tubarões que aproveitam de sua vulnerabilidade durante a pescaria quando fisgados. Embora os pescadores conscienciosos tentem cortar a linha para liberar o Camurupim das garras dos tubarões, esses deixam, ocasionalmente, o pescador com somente a metade do peixe.

Parasitas como o micróstomo (metazoários) causam a digenetite infecção provocada pelo Lecithochirium, que ocorre no intestino do Camurupim. Os parasitas externos incluem o acuminata de nerocila e o oestrum de cymothoa que causam infecções entre as escama causando muitas vezes a morte. Embora não parasítico, as rêmoras freqüentemente juntam-se ao Camurupim adulto. O Camurupim não é listado atualmente como espécime ameaçado de extinção graças aos esforços de agências governamentais, ONGs e outros organismos de proteção e conservação que em parceria estabelecem regras para as pescarias esportivas principalmente nos Estados Unidos.

Criação em cativeiro:
(Roberto Menks)
No Maranhão em áreas litorâneas é comum pescadores escavarem nos quintais de casa pequenos tanques onde são criados os Camurupins. Dependendo da localização ligam os diminutos açudes até o mangue através de tubos de PVC que captam a água das marés altas repondo e renovando o volume do criadouro. Quando isso não é possível a captação é feita de água doce mesmo a exemplo de alguns açudes de dimensões bem maiores mantidos exclusivamente pelas precipitações pluviométricas em algumas fazendas da região. Os pequenos peixes entre 10 a 15 cm são capturados com facilidade em berçários, principalmente em lagos formados pelas águas das grandes marés que são mantidas durante meses pelas intensas chuvas do inverno maranhense. Usam pequenas redes de nylon com pequenas malhas para não serem presos pela cabeça e preservar suas condições de sobrevivência e transportados em caixas de isopor ou tonéis de plástico. As distâncias entre os locais de captura e o cativeiro não podem ser grande devido o alto estresse provocado pela agitação da água, a perda da mucilagem (aquela gosma protetora das escamas) descameamento e o choque térmico entre outros fatores que implicam na sua mortalidade.

Durante muitos anos temos estudado e feito observações genéricas sobre esse processo antigo de criação doméstica. Constatamos que a sua capacidade de adaptação em água salobra ou doce, com alta tolerância ao ambiente de baixo O2, faz com que se desenvolvam muito rapidamente e podem atingir cerca de 3 kg por ano se bem alimentados. Após 5/6 anos começa a se desenvolver em menor escala. Observações in loco, e pesquisas, e conversas com pescadores/criadores nos foi relatado o caso de um Camurupim chegou a pesar 40 kg. A sua idade ou tempo de cativeiro não são precisos, mas, supostamente, não por mais de 8 anos. A densidade populacional não é um fator que iniba o seu crescimento visto que já foram pesados espécimes de até 25 kg em pequenos criadouros com aproximadamente 80m2, entre uma população de 20 exemplares. Em uma área de 200 m2, foram colocados 180 alevinos que após um ano de cativeiro, atingiram o peso de 1,80 a 2,50 kg sem alimentação abundante.

São alimentados regularmente com camarões, sardinhas e outros peixes que são presas de seu habitat natural, mas habituam-se a toda sorte de alimentos de origem animal: entranhas de peixes, aves, carnes, casca de camarão e ração para peixes. Ficam dóceis e percebem a presença do tratador na hora da alimentação e é possível dar-lhes um peixe diretamente à boca. No período logo após ser colocado em cativeiros, o alimento é triturado ou picado deforma a facilitar a sua ingestão. Ao atingirem 20/25 cm começam atacar o alimento mais sólido engolindo pequenas sardinhas e camarões inteiros.

Uma experiência interessante foi observamos seus ataques violentos e espetaculares em criação consorciada onde peixes como a piaba, tilápias e carás (forrageiros) quando alimentados com ração acabam, com o movimento frenético na superfície, atraindo, os Camurupins até as margens do açude onde aproveitam o seu instinto de exímio predador para caçar. Isso desenvolve uma interessante adaptação no hábito alimentar visto que os levam a consumirem a ração. No entanto, desconhecemos uma criação doméstica que faça o uso sistemático da ração. Mas sem dúvida pelas nossas observações, concluímos que é possível a dieta ser exclusivamente do alimento industrial.

Contudo, mesmo com esse interessante desempenho de adaptabilidade, não perdem seu instinto de grandes lutadores na hora da fisgada e a sua conhecida habilidade dos saltos e das fugas. A pesca de exemplares em cativeiro acaba tornando mais desafiador visto que após o primeiro peixe fisgado há um estresse generalizado e pode levar horas para um novo ataque. Em açudes de grandes dimensões a ação é mais localizada e há evidentemente menos estresse. Dependendo de alguns componentes que possam afetar seu comportamento como condições climáticas (preferem a água mais quente), alimentação abundante, estresse do ambiente, pode-se passar o dia todo sem uma única ação. Em algumas experiências com plugs de superfície sem garatéia pudemos observar que muitas vezes perseguem a isca várias vezes e por longo tempo sem que, porém, ataquem-na diretamente, isso um dia após demonstrarem grande voracidade à mesma metodologia. Com o uso de iscas naturais percebe-se que aumentam os ataques, contudo não as capturas.

Via de regra é reconhecidamente um troféu de difícil captura seja na natureza ou em cativeiro.

A maioria dos criadouros domésticos de fundo de quintal comercializa sua produção regularmente para o consumo quando atingem cerva de 3 a 5 kg, como forma de incremento à renda familiar.

Autores consultados:
(Crabtree e outros 1995, 1997)
(Crabtree e outros. 1992).
(Hill, 2002; Luna, Reyes, e Froese, 2005)
(Morey, 2000)
(Garcia e Solano 1995)
(Whitehead e Vergara 1978)
(Zerbi e outros. 2001)
(Edwards (1998)
(Menks 1993; 2008)

Cobrinha cú-de-cana

Esta estória se passou há dez anos atrás, quando eu e meu primo Adriano fomos pescar na Lagoa do CATRE, hoje denominado BANT. Naquela época, minha pescaria era meramente artesanal, não investia muito em equipamentos, quer dizer, não investia nada em equipamentos; pescávamos mesmo com varejão de três metros, na tão famosa pesca de “pindaíba”, que segundo o nosso Aurélio, quer dizer “falta de dinheiro”.

Chegávamos por volta das 13h e ficávamos pescando uns tapacás, que naquela época já eram abundantes. Em pouco tempo, enchíamos uma enfieira, e como era de costume, já íamos tratando os bichinhos, para não ter que faze-lo em casa, até que chegasse a hora da verdadeira pescaria que tínhamos ido fazer. …a pesca da traíra. Naquela época, costumávamos pegar traíras de até três quilos. Era mesmo de tremer a vara, quando uma agarrava o anzol.

A lagoa não tinha suas margens tão devastadas, quanto é hoje. Havia muita vegetação e os juncos tomavam conta de toda a beira d’água, o que proporcionava ótimos pesqueiros.

Nesse dia, por volta das 17h, começamos a nos preparar para pegarmos as nossas primeiras traíras, pois já era hora boa. Como ninguém é de ferro, e precisávamos de algo que aquecesse a noite que já vinha caindo, levávamos uma garrafa de cachaça, que de trago em trago, já beirava o meio. Não demorou, e as primeiras traíras bateram nos anzóis, devidamente iscados com pedaços de tapacás. A noite começara a cair, quando ouvimos bem próximos, um tipo de som, muito parecido com miado de gato. Era quase um gatinho desesperado, e não parava um só instante. Aquilo me deixou nervoso e indaguei com meu primo, o que seria aquilo, que prontamente respondeu:

– Você nunca havia ouvido esse barulho?…é o barulho de um caçote sendo engolido por uma cobra.
– O que é um caçote? Perguntei de imediato!
– É um tipo de rã que fica na beira das lagoas, e que é a melhor isca para pegar traíra que eu conheço. Disse ele já se levantando, com a intenção de procurar a cobra, e capturá-la, para  pegarmos o caçotinho para fazê-lo de isca.

Procuramos, por cerca de cinco minutos, seguindo o som do “miado” do caçote em meio aos juncos e encontramos o bichinho com a metade do corpo dentro do maxilar de uma cobra corre-campo de quase um metro de comprimento. A cobra estava imóvel, pois é assim que ela fica quando está se alimentando, e não teve a intenção de fugir; o que facilitou que a pegássemos e retirássemos de sua boca a  pequenina rã.

Pequenina era o modo de dizer, pois a mesma tinha de largura de corpo quase três vezes a largura da cabeça da cobra. Para engolir a rã com todo aquele diâmetro de corpo, a cobra dilatou o maxilar para conseguir engoli-la e permaneceu assim por algum tempo quando retiramos o bichinho de sua boca. Ao ver aquela boca toda “arreganhada” quis fazer uma experiência e coloquei um gole de cachaça goela à  dentro da cobrinha e a soltei no chão pra ver a sua reação que não foi outra; a cobra se contorceu por um instante e disparou para dentro do mato sem deixar vestígio. …após algumas risadas, por ver o desespero da cobra, cortamos o caçote em quatro pedaços e iscamos os anzóis com a certeza de pegarmos boas traíras.

Já quase escurecendo e com os anzóis na água à espera da fisgada, o silêncio do crepúsculo que até então só era quebrado pela cantiga de sapos e de grilos, foi estremecido por um som de um chicote, seguido do grito, quase de parto, de meu primo, que largou a vara da mão, pulou por cima do junco e caiu dentro d’água, com os olhos esbugalhados.  Assustado, olhei para o local onde ele estava e fiquei perplexo ao ver aquela cena: a cobra que achávamos que tínhamos sacaneado, voltara com mais dois caçotes na boca, para trocar por mais uma dose de cachaça.

Daquele dia em diante, não nos faltou caçote para pegarmos traíra, pois fizemos uma parceria e sempre que íamos pescar, levávamos uma garrafa de cana e ao chegar na lagoa já encontrávamos com a cobrinha às margens com uma meia dúzia de caçotes já a nossa espera, até o dia que a encontramos morta, toda inchada, com os sintomas de cirrose.

Como ela morreu eu não sei, só sei que foi assim!

Vejam as fotos da bichinha!

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