Arquivo do Autor

Museu da Pesca 22 – Motel do Severino 04

Chegamos ao final da era dos filmes Super 8mm. Muitas lembranças, poucos registros… A era dos VHS estava chegando, embora demorasse ainda um pouco.

A maioria dos pescadores não queria perder tempo com filmagens quando a pescaria estava boa, uma foto depois da captura estava bom, o que interessava era o peixe. É assim até hoje. Ainda bem que meu companheiro de barco teve a gentileza de me filmar pegando um dourado, senão eu nunca poderia contar vantagem. Acho que foi meu compadre Luiz Roberto, o Soares.

Única novidade desse registro foram as cenas finais, um dia que resolvemos pescar em Porto Esperança, um pouco longe do Severino, mas valeu a pena, pescamos muitos dourados, todos de bom tamanho. Perdemos um deles para um porco malandro que estava rondando o varal de peixes e que numa bobeada abduziu o peixe.

Foi também nessa viagem que conheci o “Biguazeiro”, pertinho do Severino e que na época era atração turística para os pescadores da cidade grande. As árvores ficavam coalhadas de pássaros, principalmente biguás, algumas garças, e também sempre um carcará vigilante, esperando qualquer oportunidade que aparecesse para uma refeição.

Fico imaginando que belo registro teríamos se inventassem uma máquina do tempo e enviassem para aquela época celulares e “Go Pro” s. Com certeza ficariam fanatizados pelo uso como hoje, e o processo de preservação do Pantanal talvez tivesse sido mais efetivo, como resultado das gravações e informações obtidas, mas tudo tem seu tempo certo…

Museu da Pesca 21 – Motel do Severino 03

Interessante como as coisas mudam. Quando comecei a acompanhar as novidades da pesca amadora semanalmente, através das colunas nos jornais de Irineu Fabichak e Antonio Lopes, o nome do pesqueiro do Severino era “Motel do Severino”. Os motéis não existiam nem tinham a finalidade atual. Se fosse nos dias de hoje, não me arriscaria em falar para minha mulher que iria pescar no “Motel do Severino”, teria que dar muitas explicações…

No final acabou sendo conhecido como “Paraíso do Dourados”, não dando margem a nenhuma desconfiança de nossa cara metade.

Brincadeiras à parte, tinha três maneiras de viajar de São Paulo para lá. A primeira era por carro, uma viagem longa e cansativa, mas cansativa só na volta. Na ida a ansiedade e expectativa do pescador acabava com qualquer inconveniente, Era só festa. Hoje em dia está tudo asfaltado, mas quando eu ia o asfalto era só até Miranda, a partir dali estrada de terra. Eu preferia como era, o sabor de aventura era maior, e a expectativa de contemplar a fauna local era maior ainda. Não existia ponte no Porto da Manga, a travessia do Paraguai era feita por balsa. E ali perto estava a desembocadura do lendário rio Taquari. Eu achava obrigatório conhecer essa estrada, também conhecida como transpantaneira, mal sabia que a de Poconé a Porto Jofre era muito mais selvagem e bonita. Tempos depois tive a felicidade de conhecer e fazer o percurso diversas vezes.

A segunda maneira e mais prática era ir de avião até Corumbá, onde os receptivos nos aguardavam para fazer o traslado até os hotéis, na época o “Motel do Severino” e a “Pousada Tarumã”.

A terceira e preferida pela turma era ir de trem, embarcando em Bauru. Viagem demorada mas fantástica, um belo visual. Fomos e voltamos assim algumas vezes, mas o ideal era ir de trem e voltar de avião, a curtida era só na ida, na volta o cansaço recomendava essa prática. Na ida não precisávamos ir até Corumbá, os receptivos nos aguardavam em Albuquerque, logo depois de Porto Esperança. O trem parava, jogávamos nossa tralha para fora, inclusive isopores (na época imprescindíveis), e mais uma etapa vencida. As pousadas ficavam relativamente perto dali.

Fizemos amizades e pescarias incríveis por lá. Quando escrevo essas notas, imagens mil passam por minha cabeça. Muitos amigos se foram, outros perdi o endereço, mas as memórias permanecem. Algumas se perdem devido desgaste do equipamento, mas no fundo estão lá.

Só para não esquecer, tempos depois o amigo Jaime Corá construiu o “Hotel Porto Morrinho”, bem em frente da entrada (do outro lado da estrada) do “Motel do Severino”, nessa época acho que já era “Paraiso dos Dourados”. Não sei se o hotel ainda opera. O amigo Jaime já não está entre nós.

Outra coisa, um dos piloteiros (chamávamos assim naquele tempo) que aparece em algumas pescarias nessas cenas era o famoso “Mario Gordo”, um dos mais requisitados por todos os clientes do “Motel do Severino”. Muitos anos depois, fazendo um trabalho para a revista “Troféu Pesca”, juntamente com o Eduardo Morgado, que mostraremos mais para a frente, viajamos em dois barcos do Severino até as “Palmeiras”, um ponto no rio Taquari. Viagem longa mas maravilhosa. Num barco ia o Morgado e o guia Carlos, e no outro eu e o Mario Gordo. Qual não foi minha surpresa ao ver o Mario mais uma vez, e guiando para mim. Comecei a conversar, e logo ele falou que lembrava de mim. Sempre me dei bem com meus guias e companheiros de pesca. Meus olhos umedeceram, escondidos pelos óculos escuros…

Museu da Pesca 20 – Motel do Severino 01 e 02

Levei meu filho ao Pantanal duas vezes, a primeira quando ele tinha nove anos. Levei também para Juquitiba e praias, mas ele foi diplomado em Itumbiara, tanto como pescador como piloteiro. Lamentavelmente aos 15 anos, por aí, jogou o diploma de pescador fora e abraçou outros hobbies. De vez em quando participa de alguma pescaria aqui em Natal, mais para pegar sol do que para outra coisa, mas realmente perdi um companheiro de pesca, o melhor.

Na adolescência ele aprendeu a amar e apreciar as coisas da natureza. Quando pescava, matar peixe não era com ele, soltava tudo, assim como eu, que já tinha superado minha fase de matador.

Usava nessas pescarias no Pantanal iscas naturais, porque era proibida a utilização de iscas artificiais na região, devido as garatéias, com a possibilidade de apreensão do material e multa. A exceção era para as colheres, porque tinha anzol único, muito usadas no corrico para a pesca do dourado. Tempos depois corricamos muito com as Red Fin 900, mas com as garatéias e argolas trocadas, pois eram fracas para enfrentar um dourado, embora de um modo geral os plugs que usávamos não aguentavam muito tempo, eram logo detonadas. A vantagem das iscas artificiais tipo plug é que não torciam as linhas no corrico, ao contrário das colheres.

Com relação a esportividade do material, zero. Paoli Malcolm ou similar, linha 0,60 mm, e anzol encastoado Mustad 92247, tamanho 8/0, varas Yamato, Grillon, Dacos, por aí, todas barra pesada. Com o tempo fomos evoluindo e aliviando o material. Lembro que vi uma vez um japonês pescando dourados usando linha 0,40 mm e equipamento leve. Achei muito atrevimento dele.

Íamos uma a duas vezes por ano ao Pantanal, aproveitando as férias e feriados prolongados. Eu, como sempre, era quem organizava e coordenava a turma, tanto da Ericsson como de amigos em geral. Isso serviu como treinamento para quando ingressei na mídia da pesca esportiva. Além de meus vídeos, trabalhei nos programas “Pesca & Lazer” (Manchete), “Caminhos da Pesca” (Record), e “Pesca & Companhia”, todos eles maravilhosos.

Foram anos gratificantes, em que ia na companhia de amigos, e dessa época tenho poucas fotos e filmes em Super 8 mm, que deixo aqui como memória daqueles tempos. Os pesqueiros mais frequentados eram o “Motel do Severino”, em Porto Morrinho, e o “Pesqueiro Tarumã”, do Ivan Porto, um pouco mais abaixo, quase ao lado do outro.

Estou falando muito pouco das aventuras nessas pescarias, os textos são apenas orientação para colocar os vídeos e dar uma pequena noção do geral. A história completa fica para outra mídia.

Facebook
Twitter
Instagram