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Redondos em Olinda
Em pesqueiros organizados é possível aliar o prazer da pesca ao desfrute de uma estrutura montada para receber com conforto o pescador e sua família
Nós, que somos loucos por pesca, esperamos avidamente o final de semana chegar para dar nossos arremessos em busca dos peixes que mais gostamos de capturar. Entretanto, nem sempre os deuses colaboram com o pescador e não é raro chegar ansioso à nossa praia favorita e encontrá-la tomada por sargaço, ou mesmo com um vento tão intenso que estraga qualquer alegria. Sem falar nas vezes em que dizemos à “patroa” que vamos pescar e recebemos aquele olhar fulminante de desaprovação que acaba na hora com o ímpeto de sair de casa. Mas não se preocupe, meu caro amigo, existe uma solução para não passar sem peixes nos dias de descanso e ainda deixar a companheira com um sorriso de orelha a orelha: os pesque-pague
Para testar a opção, visitamos o pesqueiro Coqueiral Park, uma área de 16 hectares localizada a 20 quilômetros do centro do Recife. Fomos atraídos pela presença dos chamados peixes redondos (tambaqui, pacu e tambacú), que povoam dois dos seis lagos da propriedade, e pela notícia da captura de enormes pirarucus no local (o último deles com 42kg). Chegamos às 8h, horário em que o estabelecimento abre, e fomos nos familiarizando com a pescaria que seria realizada. Munidos de nosso equipamento, varas, molinetes e carretilhas, decidimos fazer uma pescaria tradicional em pesqueiros com uso de bóia simples, linha amarrada ao girador e um anzol na ponta. Uma técnica básica, mas bastante eficiente. Na ocasião optamos pelos chamados anzóis de camurim (wide gap) nos tamanhos 1/0 ou 2/0. O modelo permitiu fisgadas na extremidade da boca do peixe, facilitando a retirada e minimizando danos ao animal

Sistema: Anzol de camurim, pernada de nylon 0,50, girador, linha principal, nó de correr (em azul) pequeno chumbo, bóia, miçanga e nó de correr
A propósito, a escolha do anzol foi motivada pelo tipo de pescaria que iríamos realizar, a esportiva. Mas o pesqueiro também oferece a oportunidade do praticante ter seus peixes preparados na cozinha do restaurante, levá-los casa do jeito que foram pescados, limpos ou até mesmo em filés. Para realizar a pesca esportiva é cobrada uma taxa de R$ 20 e para a segunda modalidade são pagos R$ 8.
Questões monetárias à parte, vamos falar dos peixes. Sim, foram muitos peixes. Como já mencionamos anteriormente, utilizamos um sistema simples nas nossas capturas e alguns pequenos detalhes fizeram a diferença. Os “tambas” possuem dentes afiados e uma mandíbula extremamente forte, por isso, é costume usar os empates de aço para ligar o anzol à linha principal. Entretanto, o método pode espantar o peixe e deixá-lo menos propenso a morder a isca. Então, optamos por usar um líder de monofilamento 0,50mm comum. Para minimizar a chance de rompimento da linha usando esse sistema é preciso deixar o nylon o mais longe possível da boca dos famigerados redondos. Para tanto, deve-se amarrar o anzol por cima e não pela haste como muitos costumam fazer. Um nó único ou até mesmo um palomar resolve a questão
Depois de montar o equipamento é hora de falar das iscas. O Coqueiral Park oferece um saco de ração (usada para atrair os peixes e não para iscar) e uma massa feita a partir desse mesmo alimento, misturada com água e uma substancia que eles chamam de “pó mágico”, cujo teor não foi revelado. A massa já está inclusa na taxa paga pelo pescador e deve ser colocada em pequenas bolinhas na ponta do anzol semelhante ao tamanho das pelotas da ração. O objetivo, como na maioria das vezes, é fazer a isca ser o mais parecido possível com o alimento que o animal está habituado a comer. Passamos boa parte da manhã utilizando, com ótimos resultados, a massa fornecida pelo pesqueiro. Depois, optamos por testar as salsichas, dessas compradas em supermercado, e tivemos bastante êxito. A salsicha pode ser simplesmente iscada sozinha, mas convém amarrá-la com elastricot (aquele elástico que os pescadores de praia usam para fixar iscas moles ao anzol). Isso evita que peixes menores carreguem o engôdo quando se está atrás dos maiores exemplares e impede que a isca, porventura, caia no arremesso.
Com tudo pronto chega o momento do arremesso. É possível fisgar peixes lançando a isca em virtualmente qualquer local no lago, mas um pouquinho de observação aumenta o sucesso nas capturas. Procure verificar, até mesmo enquanto monta seu equipamento, o lado onde os peixes se mostram mais ativos. No caso dos redondos é possível vê-los subindo à superfície de tempos em tempos, bem como ver pequenos ataques a frutos caídos ou insetos que se localizam na flor d’água. Comece fazendo os pinchos nesses locais. O inicio da manhã e o final da tarde são os momentos onde os peixes se encontram mais ativos. Já com o sol mais forte, entre as 11h e as 15h, eles tendem a ir mais para o fundo. Por isso é importante regular a distância entre a bóia e o anzol. Mais curta quando os peixes estiverem em cima e mais longa quando forem para o fundo. Isso pode ser feito de maneira bem simples através do pequeno “nó de correr” que permite mudar a posição da bóia rapidamente.
Uma dica. Nesse tipo de modalidade é necessário ter sangue frio na hora da fisgada. O pescador deve ficar atento e dar a puxada para engatar o bicho apenas quando a bóia afundar completamente. O conselho é válido porque muitas vezes o peixe fica apenas mordiscando a isca sem colocá-la na boca completamente. Uma fisgada no momento errado pode ser a diferença entre fotografar ou não o troféu
Por volta do meio dia, o calor fica intenso, as ações diminuem e começa a bater aquela fome. É hora de deixar um pouco as tralhas de lado e se deliciar com um dos pratos do restaurante Coqueiral. Aconselhados pelo proprietário do local, Rubens Arantes, decidimos experimentar o filé de tilápia ao molho. Não poderíamos ter feito escolha mais feliz. Prato bastante saboroso, acompanhado de legumes, arroz branco e pirão. O peixe é cozido perfeitamente e traz um leve sabor amanteigado bastante agradável. Vale a pena.
Após o almoço, optamos por fazer uma pescaria de tilápias. Usando o mesmo sistema para a pesca dos redondos apenas substituímos os anzóis, trocando os wide gap 2/0 pelos maruseigos 16. Fizemos a pescaria nos lagos 4 e 5 onde, além das tilápias, fisgamos alguns pacus. Como os peixes estavam mais no fundo, usamos pernadas mais compridas deixando o anzol entre um metro e um metro e vinte da bóia. Para essa pescaria deve-se usar a massa fornecida pelo pesqueiro, pois as tilápias têm boca pequena. No lago 3, de água mais clara, é possível visualizar os peixes nadando. E haja peixe! São muitos. De acordo com Rubens Arantes, o pesqueiro aumenta seu estoque semanalmente com a introdução de tilápias acima dos 700g e tambaquis com dois ou mais quilos.
Mas nem só de pescaria é feito o Coqueiral. O local é um ambiente repleto de diversão para agradar não só aqueles que gostam de esticar a linha na água, como também para família e amigos. O parque aquático é um dos destaques, com cinco piscinas, toboágua infantil e adulto, cascata e bar molhado para quem quiser bebericar sem abrir mão da refrescancia da estrutura. Isso sob olhar atento de salva-vidas que garante a segurança de todos os banhistas. Além disso, existe pista de mini-buggy, parque infantil, fazendinha, horta, pomar, trilha ecológica, quadra de bocha e malha, enfim, tudo para agradar os mais diversos gostos.
Às 17h, quando encerra o expediente do pesqueiro, arrumamos nossas tralhas e nos despedimos com sentimento de ter passado um dia agradável e relaxante proporcionado pela organização de um local que tem tudo pra ficar gravado no roteiro permanente dos pescadores pernambucanos.
Serviço:
Coqueiral Park
2ª Perimetral Norte – Av. Lígia Gomes, S/Nº – Olinda-PE
Telefone: (81) 3371 9111
Horário de Funcionamento – Ter a Dom das 8 às 17h
Faça seus próprios snaps
Os snaps são pequenas peças de arame utilizadas para conexão rápida de diversos terminais em pescaria. Eles facilitam enormemente a troca de chicotes, chumbadas e são essenciais nas mudanças de iscas durante a pescaria com artificiais. Não que seja difícil de encontrar nas lojas do Nordeste, mas a manufatura pelo próprio pescador dá um gostinho a mais na hora da captura do peixe. Se já e bom pescar, imagine a satisfação na hora de usar materiais feitos por você mesmo. Além disso, é possível economizar um bom dinheiro construindo de forma rápida e fácil esse componente.
Só para se ter uma idéia, uma cartela com 10 snaps de boa qualidade custa, em média, R$ 10 e gastando o mesmo valor, com ajuda de algumas poucas ferramentas, é possível fazer mais de 200 desses conectores. Uma mão na roda, não?
Para fazer artesanalmente os seus snaps você vai precisar, primeiramente, de um tipo especifico de material chamado arame de aço inox duro. No Recife ele pode ser encontrado numa loja chamada Casa Verde, que fica localizada no lado direito da Rua da Praia, antes do Mercado de São José. Esse arame também pode ser facilmente encontrado em casas que vendem itens para a confecção de bijuterias e, inclusive, podemos encontrar nesses locais outros objetos que servem para o uso em nossas pescarias. Mas, por ora, vamos nos focar na construção dos snaps.
O arame de aço inox duro é um material bastante durável e tem uma ampla variedade de aplicações na pesca esportiva. Por isso, é sempre bom ter em casa alguns metros desse fio metálico. Nas lojas do Recife é possível encontrá-lo em embalagens de varias espessuras (bitola) contendo 100 gramas ao custo de aproximadamente R$ 10. Indicamos a bitola de 0,80mm para a construção das peças abaixo.
Com o arame em mãos, chega a hora de falar das ferramentas que vão nos ajudar a transformar um pedaço de fio em um equipamento confiável para uso em pescarias. Você vai precisar de um alicate de bico fino, um alicate de corte, outro de pressão para segurar a peça e por fim um alicate de bico cônico ou para construção de argolas. Este último pode ser facilmente substituído por qualquer objeto cilíndrico por servirá apenas para fazer as duas curvaturas principais do snap. Vamos ao passo- a-passo.
O material
Para começar, corte aproximadamente oito centímetros do arame de aço inox duro.
Como o pedaço do fio cortado estava armazenado em um rolo de material ele fica curvo após o corte e é preciso deixá-lo o mais reto possível antes de começar a realizar as dobras que serão feitas. Para isso segure com o alicate de bico fino uma das pontas do arame e com a ajuda de um tecido deslize o arame preso entre o dedo indicador e o polegar da parte onde ele esta seguro pelo alicate até a outra extremidade fazendo uma pequena pressão contraria ao lado em que o fio esta curvado. Procure deixar bem alinhado.
Com o arame reto é hora de fazer a primeira curvatura. Faça uma dobra em “U” no arame a aproximadamente 1/3 de seu comprimento. Para isso você deve utilizar o alicate de bico cônico ou um objeto cilíndrico como uma chave de fenda ou até mesmo um prego.
Depois da curvatura em “U” faça uma dobra pouco menor que 90 graus. Como mostrada na figura abaixo.
Agora vamos fechar o que será a parte de baixo do nosso snap. Segurando com o alicate de pressão de maneira firme use o excesso de arame para dar duas voltas na outra extremidade. Faça isso com o alicate de bico fino para não ferir as mãos. Em seguida corte a sobra e aperte mais um pouco com o alicate para melhor acabamento.
Faça outra dobra em “U” como ilustrado na figura.
Meça o ponto onde a extremidade livre do arame irá tocar a parte de baixo que já concluímos e dobre o material, ligeiramente acima desse ponto, no sentido contrário a ponta livre.
Faça uma pequena curvatura para que a alça formada pela dobra anterior se dirija à parte debaixo do snap.
Corte o excesso e com o snap travado aperte a alça para um melhor acabamento e está feito seu snap.
Caso ainda tenha restado alguma dúvida sobre a fabricação dessa pecinha é só conferir o vídeo abaixo que mostra em tempo real a modelagem do snap.
Iscas artificiais para litoral
O uso das iscas artificiais ainda não é uma pratica muito difundida nos Estados nordestinos e ouvimos com freqüência comentários de pescadores locais do tipo: “E vc acha que o peixe é burro pra pegar nesse negócio de plástico?” “Tu não vai pegar é nada com esse troço ai. Quer botar umas duas sardinhas vivas penduradas nesses anzóis?”. A verdade é que, contrariando o pensamento geral, as iscas artificiais são uma excelente opção para captura das espécies esportivas do nosso litoral.
A enorme quantidade de marcas no mercado pode, por vezes, deixar confuso os iniciantes na modalidade e, mesmos aqueles que já tem alguma experiência no assunto, podem se sentir frustrados ao não conseguirem sucesso com as isquinhas de plástico. Por isso, vamos listar alguns modelos que são comprovadamente eficientes em águas salgadas nordestinas. Vale lembrar que a pescaria não é uma ciência exata e por melhor que seja o pescador e, mesmo que esteja usando a melhor das iscas, nem sempre o peixe aparece para fazer nossa alegria. Por isso persevere, insista. Nenhuma sensação se compara a fisgar um belo espécime por fruto dos próprios esforços.
Iscas de Superfície
De modo geral são as que exigem mais habilidade do pescador, entretanto ,são as que rendem mais emoção por permitir visualizar o ataque na flor d’água.
Pencil Poppers – Atracter, Big ou LIttle Bob como já mencionadas na matéria de Boa Viagem. O trabalho é relativamente fácil, embora um tanto cansativo para quem ainda não se habituou ao uso desse modelo. São indicadas para pesca de Xaréus, Tibíros, Serras.
Poppers – Olhetão da KV (13,5cms / 38g), sobretudo para xaréus
Vulcan 90 da Marine Sports (9cms / 23g) para camurupins, camurins e agulhões.
Iscas de meia água com barbela
São iscas que trabalham abaixo da linha de superfície e distantes do fundo do mar. São fáceis de usar e podem ser eficazes mesmo que se realize apenas o recolhimento continuo de linha
Shiner King 90 da Marine Sports ( 9 cms / 15g) para camurins, camurupins, tibíros.
Shads de silicone + Jig Head
Os shads são pequenos peixinhos confeccionados em silicone para serem acoplados aos Jig Heads, que nada mais são do que um anzol com uma cabeça de chumbo na ponta. É a isca mais acessível do repertório entretanto é a menos durável. A parte de silicone é destruída com freqüência no combate com o peixe, mas o baixo custo de reposição torna uma isca atraente. Para a pesca no mar são usados shads de 10cms acoplado a Jig Heads de 17g ou mais. Eficientes na captura de todos os peixes listados acima.
Esta lista é apenas um pequeno resumo dos modelos que podem ser utilizados com sucesso em nossas águas. A idéia é que essa coletânea sirva de referencia para quem se interessar em usar as iscas artificiais ou para aqueles que ainda ficam perdidos entre tantas opções disponíveis. Futuramente falaremos de outras marcas e detalharemos os trabalhos a serem feitos com cada tipo para aumentar a produtividade em sua pescaria.