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Editorial – Por que soltar o peixe?

Pequeno mero devolvido em excelentes condições ao seu habitat

Cultuada por alguns, odiada por outros tantos, a prática do pesque e solte é assunto polêmico entre os conterrâneos nordestinos. Em algumas situações, ao libertar um peixe de porte considerável, recebemos comentários de teor impublicável e também proferimos nossa dose de adjetivos quando vemos um exemplar saudável ser sacrificado sem distinção. Não nos cabe aqui julgar o certo ou o errado, apenas lançar luz sobre um assunto pouco discutido na esperança que a reflexão implemente algo de positivo.

Sabemos das carências históricas de nossa região e, ainda que se perceba uma melhora socioeconômica gradual da população, estamos longe de driblar as deficiências impostas por anos de coronelismo e omissões.  Por isso é difícil criticar o abate de um peixe esportivo quando, mais do que um exemplar de pescado, o espécime capturado se torna o almoço da família e, em última análise, uma economia no fim do mês.  Entretanto, isso por si só não explica o motivo de uma atitude salutar como o pesque e solte ser tão pouco difundida entre os praticantes do nosso hobby.

De fato, em nossas andanças pescarias afora já vimos pescadores de poucos recursos financeiros com sorriso no rosto devolvendo um peixe recém capturado, bem como presenciamos pessoas de elevado poder aquisitivo se gabarem por ter abatido certa quantidade de peixes. A verdade é que no Nordeste uma boa pescaria ainda não se limita ao prazer de duelar com o peixe e eternizar através da foto a memória vivida naquele embate. Aqui mais vale peixe na fiera e a panela cheia.

A defesa do pesque e solte não implica em dizer que o pescador não possa levar seu pescado pra casa. Nem de longe queremos privar alguém do deleite que é saborear um peixe fresco fisgado por seus próprios méritos. Todos os pescadores, mesmo os denominados esportivos, porventura o fazem. O que pregamos aqui são escolhas responsáveis para perpetuar e, quiçá, melhorar as chances de que nossos filhos e netos tenham a oportunidade de sentir as mesmas emoções que sentimos ao brigar com grandes peixes. Fato que está se tornando mais raro a cada dia.

O que se percebe ao conversar e conviver com os pescadores da nossa região é que falta esclarecimento, conscientização sobre as vantagens em adotar o pesque e solte. Explique para um pescador que ao abater uma matriz, um peixe reprodutor, ele está, na verdade, aniquilando milhares de outros indivíduos que poderiam aumentar a população de pescado; certamente a visão de um futuro menos prolifico é um excelente argumento para demovê-lo da ideia de matar o animal.

É claro que outros fatores, tais como as práticas predatórias e uso de equipamentos fora das normas vigentes, contribuem para a diminuição da piscosidade em nossos rios e mares. Infelizmente não podemos decidir por todos, mas ao fazer nossa parte já estamos ajudando. Agir com consciência e tomar medidas que colaborem com a preservação nosso esporte faz bem ao pescador e ao meio ambiente.  Ter a vida do peixe em suas mãos e, em seguida, vê-lo nadando tranquilamente, seja em água doce ou salgada, é indescritível. Somem-se a isso situações onde um mesmo espécime é capturado seguidas vezes pelo pescador ao longo dos anos, ou até por pescadores distintos ocasionalmente e nós temos a formula para consagrar o pesque, fotografe e solte. Um único peixe dando alegria a diversos pescadores.

Caso decida levar seu pescado para casa fique atento ao tamanho mínimo permitido para cada espécie, ele indica que o exemplar já é adulto e teve chance de se reproduzir. Contribua com o crescimento da pesca como esporte. Pratique essa ideia.

 

 

O BBB do recolhimento de linha

Bom, bonito e barato. Essa seria uma boa forma de descrever o molinete Altima da Marine Sports, um dos equipamentos com melhor custo benefício em sua categoria. Fabricado em uma ampla variedade de tamanhos, que vai desde o micro até o modelo 6000, o Altima nos serve tanto para a pescaria de praia e ribeirinha quanto ao uso com iscas artificiais. Seu ponto forte é o recolhimento uniforme da linha que fica bem assentada no carretel contribuindo com arremessos mais longos e precisos. Além disso, conta com manivela em alumínio e pegada emborrachada o que realmente faz seu uso mais confortável.

Como a maioria dos molinetes modernos, o Altima conta com o anti-reverso infinito, um rolamento de roletes que impede o recuo da manivela no sentindo contrario ao bobinamento.  O recurso é excelente para evitar aquelas pancadinhas irritantes que acontecem nos equipamentos que não contam com esse artificio.

Esteticamente bem acabado, esse molinete é uma boa escolha para aqueles que estão iniciando na pesca esportiva e para aqueles que desejam substituir seus modelos antigos por um produto atualizado. Algo que, de fato, deveria ser feito. Basta uma visita rápida a praia em um dia de pescaria para constatar aproximadamente 60% dos praticantes precisa trocar seu molinete por outro mais funcional.

Contras – o ponto fraco do Altima é não ter rolamentos inoxidáveis o que faz necessária uma manutenção esmerada e, eventualmente, substituição dos mesmos. A troca por si só não é um grande problema, pois é possível encontrar com facilidade o tamanho certo de rolamento para esse equipamento.  Outro ponto negativo é a pintura cromada na carenagem do molinete. Com o passar do tempo a tinta descasca revelando a cor de osso nas peças. O problema é meramente estético e não interfere na mecânica, mas vale levar em conta para aqueles pescadores mais zelosos.

Ficha técnica:

Molinete Marine Sports Altima.

•Relação de recolhimento: 5.2:1
•5 rol. de esferas + 1 rol. de roletes
•Estrela da fricção com ajuste ponto a ponto
•Anti-reverso infinito
•Sistema balanceado
•Carretel extra
•Cap. de linha: (mm-m):

Micro: 0,15-190 / 0,20-135
500 : 0.18–215 / 0.20–175
1000: 0.25–245 / 0.30–170
2000: 0.30–195 / 0.35–145
3000: 0.35–275 / 0.40–210
4000: 0.45–195 / 0.50–155

Faixa de preço para refêrencia

Micro: R$ 45,00 (aproximadamente)

4000: R$ 80.00 (aproximadamente)

 

Peixe bom em pescaria urbana no inverno

A chegada do inverno é um verdadeiro suplício para os pescadores nordestinos. Durante essa época as condições climáticas deixam de ser favoráveis a maioria dos peixes que estamos acostumados a capturar e verificamos a diminuição da produtividade em nossas saídas. Ventos fortes, mar agitado, água turva e a queda da temperatura são apenas alguns dos fatores que fazem da estação das chuvas um período de desânimo generalizado. Por isso, procuramos ficar antenados a espera de qualquer notícia sobre lugares onde uma boa investida seja viável e, tão logo chegam aos nossos ouvidos relatos de um pesqueiro proveitoso, arrumamos nossa tralhas e partimos na expectativa do momento que antecede a primeira fisgada.

Para os que moram no Recife e não pretendem se aventurar em grandes distâncias existe uma opção que tem sido a “salvação da lavoura” em épocas de “vacas magras”. Trata-se da Lagoa do Araçá, um espelho de água formado pela vazão do rio Tejipió, localizada no bairro da Imbiribeira. O local, apesar de render uma boa dose de emoção, é bastante marcado pela poluição e as palavras não devem iludir o leitor de se tratar de um paraíso urbano. Questões ambientais à parte, é possível realizar boas pescarias no local, mesmo durante o inverno. O único problema é o peixe alvo da pescaria neste local: o camurupim.

Carlos Araújo e o seu primeiro camurupim na lagoa. A briga rendeu muitos saltos e uma boa dose de emoção

O espécime oferece um grau elevado de dificuldade na captura e pode frustrar o pescador que é capaz fisgar 10 peixes em sua investida sem, no entanto, posar com nenhum deles na foto. E isso não acontece poucas vezes. É comum na pescaria do “rei de prata” sentir o prazer de ter o peixe grudado na ponta da linha e vê-lo escapar depois do primeiro ou segundo salto. Isso não deve deixar o esportista desacreditado. Um pouco de perseverança e paciência é suficiente para acertar nos detalhes e trabalhar o peixe corretamente.

Uma coisa que deve ser levada em conta quando se trata da pescaria na Lagoa do Araçá é a falta de voracidade do camurupim quando comparado aos exemplares pescados em ambiente selvagem, por assim dizer. Enquanto em outros pesqueiros um ataque dessa espécie é quase certo ao arremessar a isca na sua frente, na lagoa isso não acontece com tanta frequência. Mas, cedo ou tarde, acontece. Por isso vale estar preparado. Os camurupins capturados no local geralmente se situam na faixa de um a cinco quilos, embora haja relatos de indivíduos muito maiores. Podem ser fisgados com uso de iscas naturais, artificiais e fly, apesar dessa ultima modalidade ser pouco praticada em nossa terra.

Exemplar capturado com sistema de praia e camarão morto

O uso de iscas naturais mortas, como camarão e filé de peixe, é amplamente difundido na Lagoa do Araçá. Talvez por isso, esse pesqueiro seja um dos poucos locais onde o camurupim pode ser capturado através desse artificio. O sistema utilizado para a modalidade é semelhante ao usado na pesca de praia. Um chicote com dois ou três anzóis de tamanho apropriado (para referência tenha em mente o maruseigo 14 ou 16), chumbada e só. Por falar em chumbada, vale ficar ligado no modelo utilizado, pois o fundo do pesqueiro é composto de lodo, o que pode causar rompimento da linha no recolhimento quando o peso se enterra no leito lamacento. Opte por formatos como a carambola ou o torpedo e você estará livre desse problema.

Outra modalidade de iscas naturais praticada com sucesso na Lagoa do Araçá é a de pesca com bóias. Nesse caso usa-se o sistema tradicional com um único anzol, pequeno chumbo para arremesso e o flutuador que mantém a linha suspensa na água. O esquema é mais utilizado com iscas vivas, como o camarão e pequenos peixinhos encontrados às margens do local. Entretanto, também é produtivo com as iscas mortas citadas acima.

Na tentativa de salvar o peixe, Carlos Araújo teve que se sujar para libertá-lo.

No Recife, o número de adeptos das iscas artificiais tem aumentado consideravelmente nos últimos tempos. E isso pode ser verificado também na lagoa. Em todas as nossas incursões a esse pesqueiro vemos sempre um ou mais pescadores fazendo uso dos peixinhos de plástico. A escolha da isca correta pode tornar esse tipo de pescaria mais eficiente até do que as listadas anteriormente. Além disso, deixa mais emocionante a captura do peixe por possibilitar prever o momento do ataque.

Os poppers tem se mostrado a opção mais produtiva na superfície e são, quase sempre, a primeira escolha tanto por tornar visível a investida do peixe como pela facilidade de trabalhar a isca. Um modelo imbatível para o lugar é o mini chug 65, da Zerek, um popper com 6,5 cms e 12g. Para movimentar a isca, um toque curto e seco com a ponta da vara a cada dois segundos aproximadamente é o suficiente para atrair a atenção do peixe. Feito isso, basta ficar atento e esperar a lapada para confirmar a fisgada. Os camurupins também atacam bem iscas zara, entretanto o tamanho tem grande influência na eficiência da pescaria. Procure optar por iscas de no máximo nove cms. Para mais dicas sobre a captura desse peixe consulte a matéria camurupins em rios e lagos.

Mini chug 65

Outro detalhe a ser considerado é o horário em que os peixes estão mais ativos. Virtualmente é possível fisgar o camurupim a qualquer hora na lagoa e, de fato, já capturamos peixes no local ao meio dia, mas para otimizar a pescaria convém escolher o horário apropriado. O comecinho da manhã é, sem dúvida, o melhor momento para começar os arremessos. O final da tarde também costuma ser produtivo e os peixes continuam ativos mesmo com a noite já fechada. Alguns pescadores preferem frequentar a lagoa enquanto está na vazante, enquanto outros acham melhor a enchente. Seja qual for a sua escolha é preciso saber que existe uma diferença de aproximadamente três horas entre a maré apresentada na tábua do Porto do Recife e a que se constata no local em questão. Isto quer dizer que, se a máxima da maré no Porto do Recife for, por exemplo, 2.4m às 5 da manhã, o pico na lagoa será próximo das 8h.

Polêmica – Em teoria existem três locais para pescaria na Lagoa do Araçá. Dois mirantes, e a área conhecida como saída d’água. Entretanto há um decreto da Prefeitura do Recife, o de número 18.029, que restringe a prática da modalidade apenas ao ponto onde o rio Tejipió encontra a lagoa. A Revista Pesca Nordeste apurou a informação e teve acesso ao texto da norma onde se lê no inciso IV do sétimo paragrafo o seguinte texto “a lagoa poderá ser utilizada para pequena atividade de pesca, desde que a mesma seja realizada com uso de vara e molinete, em local próximo à área de fluxo e refluxo da água, vedada, porém, qualquer atividade de pesca em toda a área dos mirantes”.

Ainda sobre a questão, conversamos com um dos funcionários da empresa privada que presta serviços de segurança patrimonial da lagoa e fomos informados que a recomendação de remover os pescadores das áreas proibidas foi passada pela chefia do empreendimento sob a alegação de seguir uma norma interna a ser praticada na área. A verdade é que a historia toda é bastante confusa, ninguém está certo se o decreto tem validade, empregados de segurança patrimonial não tem autoridade para retirar pessoas de um local público e não existe nenhuma sinalização indicando a proibição da pesca nos mirantes. Para ser preciso com a realidade vale dizer que a fiscalização local é quase inexistente e diversos outros pontos regulamentados pelo decreto não são cumpridos, como o uso apenas de vara e molinete, a proibição da venda de bebidas alcoólicas e o usufruto do local para passeio com animais domésticos e bicicletas.

 

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