Quinta dimensão – Mistério no Pantanal)

Sempre gostei de ficção científica, e, na minha juventude, não perdia um capítulo das séries “Quinta Dimensão” e “Além da Imaginação”. Mais tarde, já entrado nos trinta, conheci um amigo, engenheiro eletrônico, que hoje é um dos mais conhecidos e respeitados ufólogos do meio, escrevendo para revistas do segmento, e figurinha carimbada nos programas de televisão quando enfocam esse tema. Seu nome é Claudeir Covo.

Como gostava do assunto, não perdia oportunidade de contestar suas opiniões, mais no sentido de estimulá-lo a falar do que propriamente não concordar com ele.

Algumas vezes pescamos juntos, e, mais do que a paixão pela pesca, movia o Claudeir o gosto pela aventura e pela natureza, pelo desconhecido.

 Não raro saíamos do assunto UFO’s para outros mistérios da natureza, como lendas e folclore.

A partir daí, em todas minhas viagens de pescaria, principalmente por regiões mais afastadas, ficava à noite observando o céu em busca de algum indício de discos voadores ou qualquer outro fenômeno desconhecido. Nunca vi nada de anormal, pois mais que vigiasse, mas até hoje não perdi a mania de ficar procurando alguma coisa de inusitado quando a ocasião se oferece.

O caso que vou narrar nada tem a ver com discos voadores, mas se fiz esses comentários iniciais foram para situar os amigos com outros pontos de interesse de minha parte.

Corria o ano de 1994, e na ocasião estava em Porto Jofre com uma turma de amigos, pescando e gravando algumas cenas para o vídeo “Pescando com Fly no Pantanal”. Mais diretamente ligados às gravações estavam o Paulo César Domingues da Silva e o Quico Guarnieri, assim como o Wilson Feitosa, na condição de anfitrião com seu hotel às margens do Rio São Lourenço.

A idéia era gravar algumas cenas da pesca do tucunaré, e para isso saímos de Porto Jofre em direção às lagoas do Rio Piqueri, distantes aproximadamente duas horas e meia do local. Como seria sacrificado ir e voltar no mesmo dia, ainda mais sabendo que em pescaria não há garantias, ficaríamos hospedados numa fazenda perto dos locais de pesca.

Vou chamar a fazenda de Fazenda Mangueiral, embora não tenha certeza do nome.

Lá morava uma família que hospedava os conhecidos, com acordo prévio, servindo inclusive refeições. O Wilson já tinha combinado tudo.

Essa fazenda tinha sido construída já com o intuito de abrigar pescadores, mas não sei por qual motivo não estava em operação.

Além da casa da fazenda, onde morava a família, tinha seis chalés conjugados, de dois em dois, unidos por uma passarela de cimento de um metro de largura, mais ou menos, com uns cinco centímetros de altura do chão. Cada chalé desses tinha uma porta de entrada com proteção para mosquito, no sistema móvel, como porta de filme de Cowboy. Essa porta dava para uma pequena sala de entrada, com 2x3metros, cuja finalidade seria guardar isopores, varas, etc. Em cada extremidade dessa sala tinha uma porta que dava para cada chalé, que era um quarto com duas camas e banheiro. Eu e o Paulo César ficamos em um quarto desse, e o outro, conjugado, desocupado. O Quico e o Wilson ficaram em outro bloco, mais afastados.

Pois bem, saímos para pescar e por volta das cinco da tarde o tempo virou. Estávamos no mês de abril.

Voltamos à fazenda e o mundo caiu. Mal tivemos tempo de chegar aos chalés. Após um banho e troca de roupas, fomos à casa principal debaixo de chuva, onde nos esperava um bom jantar e um bom papo. Embora molhados, nada que uma “branquinha” acompanhada de uma cerveja não resolvesse.

Apesar de tudo, não me sentia à vontade. Estava entre amigos e rolava um bom papo, mas meu coração não sossegava. Nessas horas a gente pensa em casa, na família… Será que está tudo bem?

 A chuva forte continuava e os trovões clareavam tudo. Um belo espetáculo ao qual estou acostumado e que considero uma das maneiras mais gostosas de pegar no sono. Mas nesse dia parecia que estavam me mandando um recado…

Lá pelas nove horas fomos deitar. Ainda conversamos um pouco, eu e o Paulo, além da revisão de praxe no material de pesca e equipamentos de gravação. Lá fora a chuva continuava na mesma intensidade.

Demorei a pegar no sono, como de costume, mas o Paulo não se fez de rogado, apagou logo…

Não sei que horas eram, mas acordei com um barulho estranho em cima da casa. A princípio parecia que os galhos das árvores estavam batendo no teto, movidas pelo vento, mas o barulho foi aumentando, aumentando… Já não parecia somente o choque dos galhos, mas como se um animal estivesse a correr e a querer arrebentar as telhas com suas garras. A chuva e o vento continuavam…

A essa altura, confesso que o medo me invadiu. Olhei para o Paulo na esperança que ele acordasse, mas não dava sinais de vida, continuava apagado. Acendi a luz esperando afugentar o animal que porventura estivesse ali, mas apaguei logo para não atrapalhar o sono do Paulo, embora desejando que ele acordasse, mas nada…

Por um momento achei que o barulho tinha diminuído, mas começou tudo de novo.

Sem saber o que fazer, só me restava aguardar. Ir lá fora, nem pensar… E não era por causa da chuva…

Aí aconteceu o mais esquisito. De repente, sem explicação ou fase intermediária, o barulho transferiu-se num passe de mágica para a pequena sala de entrada, hall para os quartos. Parecia um animal selvagem preso num pequeno espaço, como se querendo despedaçar tudo que por ali estivesse. Além de equipamentos de pesca, lá ficava um grande isopor que eu usava para transportar o material de gravação, como monitor, fitas, etc.

O barulho era tanto e tão infernal que pensei até em ser uma onça. Nessa hora nossa imaginação voa, e o medo nos faz ver e ouvir coisas que não sabemos explicar.

A porta estava fechada, mas corri para passar a chave. Nova surpresa: Não tinha chave! No outro dia vim a saber que nenhum quarto possuía chave.

O que fazer? Não me restou alternativa a não ser acordar o Paulo e explicar a situação: – Paulinho acho que tem um bicho aí dentro! O jeito é ver o que é!

Nessas horas é que é bom não se ter uma arma. Se eu tivesse, teria feito uma besteira. Teria descarregado a arma em direção ao barulho mesmo com a porta fechada.

Fomos os dois juntos até a porta e num movimento sincronizado, acendemos a luz e abrimos a porta! Silêncio total… Olhamos atrás do isopor, vasculhamos tudo e nada… Nenhuma marca no isopor… Confesso que fiquei sem entender e um arrepio correu minha espinha… Lá fora a chuva continuava, com menos intensidade, mas constante. Os trovões eram mais esparsos, mas ainda estavam por ali…

Abestalhado, contei ao Paulo tudo que tinha ouvido. Não chegamos a nenhuma conclusão e o remédio foi voltar a deitar. Como não tinha chave, fiz uma barricada na porta com a maleta de minha câmera. Providência inútil, pois qualquer criança poderia forçar a entrada se quisesse.

Logo o Paulo voltou a dormir. Fiquei em vigília quase o resto da noite. Quase porque em certo momento também apaguei.

Os barulhos voltaram, dessa vez do lado de fora, em cima da casa, mas com menos intensidade, às vezes como galhos batendo no teto, às vezes como se fosse algum animal com suas garras.

Com a entrada da frente fria, a pescaria tinha terminado. O frio era insuportável, e o bom senso mandava retornar à base. Eu estava louco para sair dali, mas o pessoal resolveu ficar mais um dia porque o rio não tinha condições de navegação devido às ondas e o vento. Por mim, eu iria até a nado, mas venceu a maioria.

Comentei com o pessoal durante o dia o que tinha ocorrido, mas por alto, sem entrar em maiores detalhes, com medo de ouvir o que não queria. Evitei até conversar mais detalhadamente com o Paulo. De acordo com a maioria, devia ser o vento jogando os galhos contra o teto. Mas e o barulho da ante-sala?

Passei o dia meio tenso e não restou outra alternativa senão passar mais uma noite no chalé. Estiquei o máximo possível o horário de ir para a cama, e ainda ajudei o sono com a companhia de algumas “branquinhas”, mas não teve jeito, o horário chegou!

Nessa noite pendurei um crucifixo que sempre me acompanhou em todas as viagens (até ser roubado) no pé da cama.

Os barulhos voltaram, esquisitos como na noite anterior, mas com bem menos intensidade, e só do lado de fora, em cima da casa. Passei a noite sem maiores problemas.

No outro dia bem cedo embarcamos de volta para Porto Jofre. Nunca me senti tão aliviado em sair de algum lugar.

 Como muitas pessoas da região tinham ficado presas nas fazendas devido o mau tempo, os barcos levavam alguns caronas que iam ficando no meio do caminho. Em nosso barco ia um senhor bem entrado na idade, bem acocorado com uma manta devido o frio. Em um determinado ponto ele saltou. Ao ajudá-lo a sair do barco, agradeceu e deu um sorrisinho maroto, dizendo algo como “proteção e aperto”, que não entendi direito, talvez nem tenha sido isso…

Senti um arrepio e não tive condições de dizer nada…

Até hoje não contei a ninguém em detalhes o que se passou comigo naquela noite, nem à minha família, apenas por alto. É interessante como guardamos conosco algumas lembranças que não conseguimos partilhar na totalidade com ninguém, até chegar o momento certo. Até o Paulo não teve percepção do que aconteceu comigo. O que terá havido? Apenas imaginação? Não quero saber a resposta…

Voltei a passar pela fazenda Mangueiral alguns anos depois. Os moradores não são os mesmos, e procurei guardar na lembrança apenas os bons momentos vividos por lá.

O que aconteceu naquele dia está no passado e o local continua com aquela força e exuberância próprias do Pantanal, com seus mistérios e espíritos da floresta. Ainda hoje não perdi a mania de olhar os céus à procura de sinais fora do normal, devo isso ao Claudeir. Hoje em dia nos comunicamos esporadicamente, por ocasião de datas festivas como o Natal e Ano Novo, e é só. Talvez algum dia possa lhe mandar assunto para estudos e pesquisas.

Deixe um Comentário

Sobre o autor

Marco Antônio Guerreiro Ferreira

 
Seções
Facebook
Twitter
Instagram