Voltei ao Rio Iriri

Alô, pessoal!

Em 2006 tomei carona na pescaria de amigos paulistas que foram conhecer o Iriri. Apossei-me de suas narrativas e fotos e sonhei como se lá estivesse. Sabedor de seu retorno para 2007, desejei  participar da nova aventura, dessa vez de corpo e alma.

O universo conspirou a meu favor e de repente estava viabilizada minha presença.

Tudo acertado. Esperei pacientemente o dia chegar e saí de Natal no dia 27, indo de ônibus até Fortaleza, onde pegaria meu voo, marcado para o dia 28. Fiquei hospedado na casa de um velho amigo, dos idos de 1966, e que nesse espaço de tempo vi apenas por duas ou três vezes. Mas tempo e espaço são conceitos desconhecidos entre amigos.
Chegando em  Santarém pegamos uma Van que nos levaria ao hotel, pois só no dia seguinte iríamos  para o Iriri. No meio do caminho resolvemos dar um pulinho até Alter do Chão, lugar paradisíaco, com belas praias e quiosques preparados para atender os turistas de toda parte do mundo. Ótima desculpa para botar o papo em dia e aliviar o estresse do avião (no meu caso).

À noite comemos uma bela peixada no porto e fomos dormir.

Pela manhã seguimos para o aeroporto, onde embarcamos num confortável Cesna Caravan, monomotor, novinho em folha, com 500 horas de voo e que opera com a pousada, com capacidade para oito passageiro e espaço de folga para a tralha e bagagens.

A pousada fica à uma hora e meia de voo de Santarém, e após uma viagem tranquila finalmente pousamos.

Fomos recepcionados pelo Gugu e alguns guias, que se encarregaram de levar as bagagens e as tralhas para os chalés.

O esforço dos pescadores daqui para frente é só levantar os copos…

A área é completamente preservada, e o único desmatamento percebido é o local onde está a pousada e a pista de pouso.

A pousada foi concebida para estar num local totalmente virgem, onde a natureza permanece intocada como sempre foi. Para se ter uma ideia, a cidade mais próxima fica à uma hora de voo, e de Altamira até o local, por barcos regionais, a viagem dura de cinco a seis dias.

Passarela da pista de pouso até os chalés:

Chalés:

Vista na frente da pousada:

Pousada vista do rio:

Passarela dos chalés para o porto:

Porto:

Algumas das árvores nobres preservadas na pousada:

Complementando informações sobre a pousada, só é permitido matar peixe para consumo no local, o atendimento é profissional e sem reparos, comida excelente, quartos limpos e confortáveis, com banheiro privativo e água quente, para duas pessoas, ventilador movido a gerador, que funciona até ás 22;30hs, podendo ser prorrogado a pedidos, como para um joguinho de truco, por exemplo.

Mas vamos à pescaria, que é o que interessa.

Duplas e guias definidos, nossa primeira saída foi no dia 29. Chegamos pela manhã, e após o almoço fomos à luta. O rio estava muito baixo, e devido as dificuldades de navegação resolvemos ficar por perto, afinal era nosso primeiro contato. O rio é de uma beleza sem igual, e a estruturas que mais sobressaem são as pedras. Vejam algumas paisagens:

Pelas manhãs sempre tinha um pouco de bruma na superfície das águas, que ia se dissipando acompanhando a subida do sol

O igarapé da Bala fica atrás da pousada, e, como diz o Gugu, é uma das mais belas expressões da Amazônia. Na realidade não é um igarapé, mas sim um rio, estreito e cheio de pedras, que na vazante dificulta seu acesso, como escondendo seus tesouros, e que tesouros…

A temporada de pesca começa em junho e vai até meados de dezembro. Essa data é definida em função das chuvas na região.

De junho a julho reinam as matrinchãs, bicudas, cachorras e todos os peixes de couro.

De meados de julho a meados de novembro tomam conta do pedaço os tucunarés e os trairões, coadjuvados pelas outras espécies, em menor número, mas sempre presentes.

No final da temporada, de meados de novembro a meados de dezembro, volta ao ciclo inicial, com as matrinchãs, bicudas, cachorras, etc., assumindo maior espaço.

Basicamente não levei tralha de pesca, apenas minha velha Cronarch de guerra e um pequeno estojo de iscas, pois minha função primeira seria a gravação do programa, situação agravada com a ridícula taxa de cobrança pela Gol para o despacho de tubos de varas.

Usei uma vara emprestada, da Intergreen (é assim que se escreve?), de 10 a 20 libras, uma Cronarch com linha multifilamento de 30 libras, unida a um leader de 60 mm fluorcarbono por um nó Albright, além de um pedaço de aço de mais ou menos 8 cm de comprimento na ponta, por insistência dos guias, devido a dentição dos trairões.

As iscas que usei e detonei (não perdi nenhuma) foram, na ordem de preferência:

– Jumpin´Minnow (para todas as espécies)

– Zara Excalibur (para trairões, é fatal)

– Top Dog (para trairões, na falta das Zaras)

Apesar de não perder nenhuma isca, foram todas detonadas (quebradas ou furadas). Vejam como ficaram:

A João Pepino não quebrou nem furou, apenas perdeu a tinta

As Top Dog furaram, entrando água

As Zaras detonaram, uma perdeu o pitão traseiro e a outra foi quebrada pelo trairão

Esses são alguns dos tucunarés capturados pelo pessoal. O interessante é que a captura dos tucunarés é feita basicamente no rio iriri. Embora presentes (em menor quantidade), eles raramente se apresentam no igarapé da Bala.

Eu peguei um…

Esse é do Bala:

Na pescaria no Bala, nos poções, são muito utilizadas iscas tipo Gotcha, como JJ, Jigs, etc, além das próprias Gotchas, as melhores na opinião dos guias.

Apesar de nos dedicarmos pouco a esse tipo de pescaria e não ser a época apropriada para peixes de couro, saiu alguma variedade. Nesses poções, com isca de meia água, também é comum a captura de cachorras.

Corvinas

Jurupensém

Pintado

Pirarara (amostra)

Cachorras

Cachorra pulando fisgada

A nota desse tipo de pescaria ficou com o Barba. Pegou o maior armau que já vi em minha vida, com gotcha. Ficou uma discussão se era armau ou cuiú-cuiú, venceu a ala dos armaus. O interessante é que esse peixe tem a boca típica de quem se alimenta fuçando a lama, no fundo, não pega peixinhos, mas a gotcha pegou o peixe pela lateral.

Vejam:

Mandubé

Peixes capturados no Iriri:

Além da pescarias, a fauna da região também alegra os olhos, como o espetáculo de aves e até um poraquê que apareceu curioso perto do barco, além das inscrições rupestres encontradas num local remoto do rio.

Mas a grande aventura e chave de ouro foi mesmo a pescaria no Bala, onde, apesar das arraias, um bom banho nas corredeiras é possível com precaução, um almoço à sombra da floresta e os incríveis trairões que lá habitam, a par das dificuldades para alcançar os pesqueiros.

Bem, meus amigos, chegamos ao fim da jornada. Priorizamos as fotos, porque valem mais que palavras, e, se fossemos nos alongar em descrições de pescarias, isso certamente viraria um livro. Mas fica para a próxima. Como última lembrança, registro de parte do grupo, juntamente com o guia Roberto, criatura ímpar e prestativa, como todos os guias da Pousada iriri.

E acabou-se o que era doce…

Leia também a matéria: Sonhei com o rio Iriri

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Sobre o autor

Marco Antônio Guerreiro Ferreira

 
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