Os tanques-rede ficarão a 18 quilômetros da costa, entre Boa Viagem e Piedade, e receberão alevinos de beijupirá, peixe de carne apreciada e alto valor de mercado
Está em fase final de licenciamento na Agência Pernambucana de Meio Ambiente (CPRH) a primeira fazenda marinha para cultivo de peixe do Estado. Os tanques-rede serão instalados a 18 quilômetros de distância da costa, entre as Praias de Boa Viagem e Piedade, Litoral Sul do Grande Recife. A CPRH garante que o empreendimento não oferece riscos ambientais, mas pesquisadores e organizações não-governamentais alertam para a necessidade de monitoramento a longo prazo da atividade.
O projeto prevê a instalação, até 2010, de 48 tanques circulares, seis ainda este ano, mais seis em 2008, 12 em 2009 e outros 12 no último ano. Os viveiros ancorados e ficarão suspensos a 19 metros do fundo do mar. A produção esperada é de 4 mil toneladas por ano, quando todos os tanques estiverem na água. A espécie é o beijupirá. Conhecido entre os cientistas como Rachycentron canadum, tem crescimento rápido, carne apreciada e alto valor de mercado. O preço do quilo varia de R$ 15 a R$ 25 nos supermercados.
A pesquisadora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Rosângela Lessa recomenda o monitoramento a longo prazo. Os riscos, segundo ela, são de eutrofização do ambiente. Isso ocorre quando a água fica saturada de matéria orgânica, nesse caso originária das sobras de ração e das fezes do beijupirá. “Mas, se tiver um bom manejo, não há maiores riscos”, diz. O pesquisador do Centro Josué de Castro Nathanael Maranhão concorda. “Se houver impacto, apenas será percebido a longo prazo. Por isso neste momento é preciso respeitar o princípio de precaução”, orienta.
O engenheiro de pesca da CPRH Assis Lacerca diz que as chances de eutrofização são mínimas por causa do volume de água do oceano. “O mar tem uma capacidade de depuração muito grande”, justifica. Segundo ele, o empreendimento cumpriu todos os trâmites do licenciamento. Recebeu a licença prévia em julho de 2006 e em março deste ano a de instalação. O próximo passo é a licença de operação.
O projeto é da empresa [url=http://www.aqualider.com.br]Aqualíder Maricultura[/url] e tem o suporte técnico do Departamento de Pesca da UFRPE. O oceanógrafo Santiago Hamilton explica que a universidade está tentando a reprodução em cativeiro do beijupirá. “Temos sete matrizes e nos encontramos à espera do verão para conseguir os alevinos”, diz o pesquisador.
Os tanques-rede são usados para engorda de peixes há mais de 50 anos em outros países. Na Espanha, a tecnologia é apontada em dossiê deste ano da revista National Geographic como a principal causa da extinção do atum-azul. Na Europa, no entanto, as empresas de pesca recrutam indivíduos de atuns jovens para fazer a engorda em cativeiro. “O nosso empreendimento produzirá alevinos de beijupirá em laboratório para transportar para os viveiros. Não há perigo para a conservação da espécie”, diz Assis.
ATAQUE DE TUBARÃO
O engenheiro de pesca também descarta a possibilidade de o cultivo contribuir para o aumento de ataques de tubarão na costa pernambucana. “Claro que as fazendas de peixe atraem tubarões, só que elas estão bem distantes da costa.”
Embora não esteja ameaçado de extinção, o beijupirá é um dos peixes mais raros da costa nordestina. O Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva (Rivizee) indicou uma abundância de 0,1%. Ou seja, de cada 10 peixes coletados no levantamento apenas 1 era beijupirá.