Ribeirinhos da Amazônia pescam pirarucus de mais de 2m

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Ribeirinhos da Amazônia pescam pirarucus de mais de 2m

Postagem Número:#1/4  Mensagempor Chrony Joseph » 24/01/2010 - 10:28:40

Fonte: Globo Repórter

Durante uma das maiores cheias de todos os tempos, uma equipe do Globo Repórter acompanhou um ano na vida de quem mora Floresta Amazônica, nos limites das reservas de Mamirauá e Amanã.

No local, a natureza e o homem convivem em harmonia em um modelo brasileiro de desenvolvimento sustentável. Fizemos quatro viagens para registrarmos a vida ribeirinha: na seca e na cheia.

Subir o Rio Apuí no início do ano é muito fácil. Os galhos das árvores típicas da região de várzea estão bem próximos ao nível da água. Durante seis meses o rio vai subindo bem devagarzinho engolindo praias e invadindo a floresta. O nível chega a subir mais de 12 metros.

Nos outros seis meses, o movimento é inverso. O rio vai descendo, secando até ficar uma paisagem completamente diferente da época da cheia. Para onde vai tanta água?

A vida ribeirinha é sempre assim. No início do ano, o rio começa a crescer dia a dia. Na várzea, todos estão ligados à água. Mesmo quem vive no céu e descansa nos galhos mais altos da floresta alagada. No mês de abril, as comunidades já se preparam para a grande cheia.

A passarela bem em frente às casas é como se fosse a avenida principal da comunidade do Barroso. Equilíbrio é fundamental pra quem vive na região da várzea. Pontes improvisadas levam a todos os lugares. Até mesmo, ao orelhão. Até a água cobrir o telefone, ele continua funcionando.

As ruas são de tábuas. As crianças vão para escola de canoa e a maior diversão é o verdadeiro futebol de várzea.

Na primeira viagem, conhecemos os recém-casados Mayara e Antônio. Ela estava grávida.

Para fazer os exames pré-natal, era preciso ir até a cidade mais próxima. O posto de saúde fica a quatro horas de canoa. Depois, voltavam para casa.

Da porta da casa vê-se um horizonte de chumbo. A chuva que cai é forte. Mas não é só o leito do rio que se aproxima das casas durante a cheia.

Tem também a vizinhança: os ribeirinhos convivem com animais selvagens como cobras, macacos e onças.

Um delas chegou ainda filhote e cresceu em uma jaula. Ela fica incomodada porque a água nunca tinha chegado tão perto dela.

O pescador Osvaldo Laurindo já viu muitas onças e tem muitas histórias para contar: “A cabeça do animal era enorme!” Mas para ele, a onça não é a pior fera da floresta.

“A pior fera que tem na floresta é a cobra, porque a gente não enxerga ela. A onça não. Você espia ela de longe, ou quando ela vem quebrando o pau, quando ela vem ‘esturrando’. Se você for medroso, dá tempo de trepar em um pau ou se esconder. Tem gente que diz: ‘Ah, eu tenho medo de uma onça’. Não, eu não tenho medo de onça, não. Agora, tenho medo de uma cobra!”

Pra viver na floresta tem que ser valente. E quem diria! Um bichinho tão pequeno como a formiga-cão é capaz de um ataque tão grande!


Odácio Marinho de Souza, presidente as comunidade de Novo Viola, explica: “Ela ‘ferra’ as pessoas e cria uma ‘papoca’ grande, tipo uma catapora. Fica uma ferida feia mesmo.”

Parece até que o chão está se mexendo, mas são as formigas-cão. Foi esse o nome que escolheram para elas.

O agente ambiental Antônio Batista de Souza conta como as formigas agem: “Ela ataca os bichos, come. Se matar ela come. Ela come a cobra. Se morrer um boi, é arriscado eles comerem todo. É assim!”

“Ela come tudo. Tudo, tudo”, completa Odácio.

Juntas, as formigas expulsaram as pessoas que viviam no local.

Antônio conta como foi: “Começamos a andar por cima do jirau e botamos a criançada debaixo do mosquiteiro. Foi o jeito que teve. Era criança pulando para todo lado, aí quando fomos ver, a formiga estava atacando. Desmontamos a casa”.

Mas foi em outra casa, cercada de água por todos os lados, que descobrimos o que preocupa muita gente: justamente a falta d’água, água limpa para matar a sede.

A dona de casa Iracema Rodrigues guarda um verdadeiro tesouro na cozinha: uma coleção de garrafas de água da chuva. Ela diz: “Quando está lotado de garrafas eu acho bonito, porque minhas garrafinhas só vivem cheias da água da chuva!”

Uma calha leva a água para um reservatório. A equipe da Reserva de Mamirauá foi quem ensinou como se faz.

Otacílio Soares Brito, especialista em saúde pública do Instituto Mamirauá explica: “A qualidade da água daqui e muito ruim. Tem matéria orgânica dissolvida na água e todos os dejetos dos seres humanos e dos animais também são lançados na água. Então é uma água de péssima qualidade. Não é boa nem na época da cheia.”

Na cheia, os ribeirinhos não têm muitas opções. As plantações ficam alagadas.

“Está se acabando tudo, o bananal, as roças. De onde a gente tira o pão de cada dia. Só Deus. Porque daqui que seque, a gente vai plantar para começar tudo de novo. Vai ficar difícil”, a agricultora Maria Amélia Moreira.

Para matar a fome os ribeirinhos comem peixe e farinha.

“Não tem um que não sente em uma mesa que não tenha um pouco de farinha para a mistura da comida, né? É importante, porque não tem arroz, feijão, não tem outras coisas. A farinha serve para a mistura”, explica o produtor de farinha Pedro Ramos.

Nossa segunda viagem foi no auge da cheia, em julho. Os ribeirinhos parecem caminhar sobre as águas. Reencontramos as pessoas ilhadas!

Dois meses e meio depois, não tem mais nada de terreno atrás da casa da Iracema. A cozinha que a gente visitou está alagada. O depósito de água continua, mas a cozinha teve que ser transferida para o quarto, onde a água não chegou.

Na casa da dona de casa Luzia Moreira moram oito pessoas. Eles estão em um no jirau há três meses. “Lá para o final de agosto que a gente vai ver terra aqui”, diz ela.

Em agosto, voltamos. Vocês se lembram da Mayara e do Antônio? Eles já estão com o filho Ibson nos braços. O pai ajuda a tomar conta do menino.

Eles voltam ao flutuante. Fomos com eles até lá. O neném vai em um berço improvisado em uma rede.

As águas estão baixando, mas ainda tem muito rio pra secar. Só em novembro, durante nossa quarta e última viagem vimos a seca.

Tudo ficou mais longe. É como se a região toda de repente crescesse. Os remos dão lugar às pernas. É preciso andar muito durante a seca. É paisagem de deserto em plena Amazônia.

Mas neste lugar, seca é tempo de fartura. Bastam 20 minutos para pegar meia tonelada de pescado. É apenas parte de um cardume, mas suficiente pra encher uma canoa inteira.

O rio baixou e muitas lagoas se formaram. Os peixes ficam concentrados nas águas e a pesca do pirarucu é a prova disso. Os ribeirinhos se reúnem e, juntos, fazem o cerco. Todos respeitam as regras do manejo sustentável.

“Quando nós começamos a guardar aqui ninguém via mais nenhum pirarucu boiar. De tanto tirar já não tinha”, conta um pescador.

“Todo mundo aqui tirava. Quando via dois, três boiar a gente cercava para matar”, diz outro.

Respeitando o tempo certo da pesca e o tamanho dos peixes que podem ser levados, eles garantem a pescaria do ano seguinte.

O pirarucu é tão grande que toma conta da canoa. Só cabe um por vez. Por isso, a cada captura, eles têm que levar o peixe para uma canoa maior, que concentra a produção e voltam para o trabalho. Em um dia bom, um pescador experiente chega a pegar sete peixes. Eles chegam a medir mais de dois metros.

Mas o pirarucu não é o único bicho grande que nada na região. Quanto jacaré!

O pescador Raimundo Nonato da Silva levou uma dentada na perna. Ele diz que o animal tinha uns quatro metros de comprimento. Na seca, os jacarés chegam bem perto das palafitas e observam a rotina dos ribeirinhos.

Onde agora está uma campina de grama verde passava um braço do Rio Solimões. Quatro meses antes, na época das cheias, nós mesmos chegamos a passar pelo local de canoa. O nível da água Estava a cinco metros de altura. Na seca, não sobrou muita água.

Fomos à pé até a jaula da onça, que agora, está vazia. O agricultor seu Bastico nos conta que pediu ajuda. “Ela passava o dia brincando como se fosse um gatinho. É um bichinho de estimação quando é pequeno, mas quando cresce, o bichinho é brabo. Não tem carinho, não tem brincadeira”.

A onça foi levada para um zoológico, em Minas Gerais.

Perguntado se ele criaria outro animal selvagem, ele é categórico: “Não, não. É melhor deixar solto que a natureza se encarrega”.

Naturalmente, os dias e as noites vão passando. Mesmo na seca, chove. Reencontramos a Iracema, aquela das garrafas.

É inacreditável que a gente precise subir uma escada para entrar na casa dela. Antes, tinha que ir de canoa. Desde o nosso último encontro, Iracema usou quase todo o estoque de água da chuva. Já conseguiu repor as 173 garrafas, mas chegou a ficar com apenas dez.

Para encher as garrafas, ela contou com uma ajuda: “Deus mandou mais chuva e eu aproveitei”. Experimentamos a água. É limpa! Que maravilha!

Os rios que banham as regiões de várzea nascem na Cordilheira dos Andes, há milhares de quilômetros do local. Essas águas carregam sedimentos, nutrientes, que fazem uma espécie de fertilização natural no solo, que na Amazônia geralmente é muito pobre. Essa terra é a principal razão de muitos ribeirinhos escolherem o lugar para viver.

A floresta de várzea parece um bosque. A agricultora Maria Amélia agora nos mostra o caminho até a plantação de mandioca. Quando a encontramos pela primeira vez, em abril, ela estava lavando roupa e chorou porque tinha perdido o bananal. Ela diz como está a situação agora: “Vamos tentar, né? Plantamos tudo de novo”.

E uma outra comunidade, a plantação de milho está verdinha. As frutas do França, marido da Iracema das garrafas, já estão crescendo.

As melancias do Antônio e da Mayara nasceram onde antes só se chegava remando. Com apenas três meses, Ibson já acompanhava os pais. E, pelo visto, logo logo, vai ter mais gente na família: Antônio acha que a mulher está grávida.

E assim, a vida dos ribeirinhos segue o curso do rio. Nascendo a cada estação. Em um berçário de gaivotas, na seca, as aves fazem o ninho na praia que se forma.

Em novembro, foi nossa última viagem e a chuva nos abençoou mais uma vez, semeando e renovando o ciclo de seca e cheia na Amazônia.
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Postagem Número:#2/4  Mensagempor Lazarus » 25/01/2010 - 15:43:46

É um paradoxo, de um lado a subvida humilde e do outro a riqueza em forma de beleza que o lugar oferece. 8)
Muito a viver, pouco a dizer!
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Postagem Número:#3/4  Mensagempor Fernando Rego » 25/01/2010 - 19:24:58

O que é a vida destes ribeirinhos, que se adaptam as modificações impostas pela natureza. Que coragem, impressionante :wink:
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Postagem Número:#4/4  Mensagempor Clenio França » 25/01/2010 - 22:02:38

Meus amigos vendo um programa monstros de rio (eu acho que esse o nome :roll: ) na discoveri (não sei escrever) o apresentador que é pescador foi para o Amazonas pescar o pirarucu, rapas esse peixe tem uma foça que quase que o pescador perde a vara. Esse peixe é muito esportivo.
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