Peixe para quem tem fome

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Peixe para quem tem fome

Postagem Número:#1/6  Mensagempor Chrony Joseph » 25/02/2007 - 09:46:17

http://jc.uol.com.br/jornal/2007/02/25/not_221437.php

Publicado em 25.02.2007

Agricultores do Engenho Monte Alegre, em Catende, coletam tambaquis
VERÔNICA FALCÃO

Nos quintais das casas dos agricultores do maior assentamento de reforma agrária em Pernambuco, a galinha não é mais o principal bicho criado para se comer. Ao lado dos galinheiros estão surgindo viveiros de peixe. Já são mais de 300 tanques com tambaquis e tilápias entre outras espécies. A incorporação do pescado na alimentação do trabalhador rural é resultado de um projeto iniciado há seis anos em sete engenhos da Usina Catende, na Zona da Mata Sul, pela organização não-governamental Centro Josué de Castro. Hoje, a piscicultura é praticada em 41 engenhos e garante o sustento de 1.500 pessoas.

Os viveiros são feitos a custo zero. Os materiais necessários são enxada e solidariedade. É que o trabalho termina mais rápido quando os vizinhos ajudam. “Passei cinco tardes cavando o buraco. Em três delas tive a ajuda dos vizinhos”, conta o agricultor Mário José da Silva, 36 anos, morador do Engenho Monte Alegre. Na hora de encher o viveiro de alevinos, há dois meses, ele também contou com a ajuda de outros moradores. “Na Quaresma, vou lançar a rede e encher a panela de peixe”, planeja.

Além dos domésticos, os agricultores da Usina Catende mantém viveiros coletivos. Os assentados formaram nove associações. Uma delas está em Monte Alegre. Cada associado paga R$ 3 por mês. O dinheiro é usado para comprar ração e fazer a manutenção dos tanques-rede, estruturas de PVC e malhas de náilon onde os peixes são confinados para uma engorda mais rápida. O peixe é dividido pelos associados, mas também pode ser vendido. “Os viveiros de fundo de quintal são para subsistência. Os comunitários têm finalidades comerciais”, resume o coordenador do Grupo de Pesca e Aqüicultura Sustentável do Centro Josué de Castro, Nathanael Maranhão.

A família da dona de casa Maria José da Silva, 37, é uma das 300 que coletam o peixe para comer. O viveiro, cavado na frente de casa, é mantido com a ajuda do filho mais novo, Ricardo, 13. Quando volta da escola, ele joga a ração para os peixes. Além da ração, Maria José costuma oferecer resto de comida para os animais. “Eles comem arroz, feijão, tudo.”

Os viveiros são construídos diretamente no solo argiloso da região. Têm, em média, três metros de largura por 10 de comprimento. A profundidade é de, aproximadamente, um metro. Não é preciso revestir. A argila garante a impermeabilidade. “Num barreiro com essas dimensões se tira, a cada três meses, 100 peixes de 300 gramas cada. Ou seja, 30 quilos”, afirma o engenheiro de pesca do Centro Josué de Castro Marcelo Tompson.

Os técnicos do centro, criado em 1979 em homenagem ao geógrafo e estudioso da fome Josué de Castro (1908-1973), prestam assessoria técnica. “Em regime de mutirão, a construção do viveiro leva um dia”, afirma Marcelo Tompson. As principais espécies cultivadas são a africana tilápia e o amazônico tambaqui, mas há também nativas como a piaba, jundiá, acari e caritó. O projeto tem apoio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco (Promata) e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Rural testa alimentação alternativa para reduzir despesas com a ração

Oitenta por cento das despesas com a produção comercial de peixes são relativos à ração. Para baratear os custos, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) está testando nos viveiros da Usina Catende uma alimentação à base de restos de frutas e verduras coletados na feira. À mistura dos vegetais, que são triturados, os pesquisadores acrescentam soja em proporção que varia de 30% a 50%. O grão, explica o professor do Departamento de Pesca Athiê Guerra Santos, confere à ração um teor de 45% de proteína. “O nutriente é fundamental para o crescimento, ciclo reprodutivo e renovação de células dos peixes”, explica.
Resultados preliminares indicam que um viveiro de 600 metros quadrados produz, em seis meses, 98 quilos de tambaquis alimentados com a ração alternativa. “Isso já atenderia, com base na recomendação da FAO, o consumo de uma família com oito pessoas”, calcula. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) preconiza a ingestão anual de 12 quilos por pessoa, isto é, duas porções semanais de 125 gramas cada.

O professor está, agora, fazendo a experiência com a ração convencional, para comparar os dados. O projeto, intitulado Peixe de Capoeira, tem como objetivo avaliar a viabilidade técnica e econômica da nova ração e recebe o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq-MCT). “Pode ser que o indicado seja usar as duas”, adianta.

O peixe é uma fonte de proteína tão boa quanta a carne e com uma vantagem: a sua gordura é insaturada, ou seja, mais fácil de digerir. “O pescado possui os oito aminoácidos essenciais, aqueles que não são sintetizados pelo organismo e precisam ser ingeridos através da alimentação”, afirma a engenheira de alimentos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Margarida Angélica Vasconcelos.

Exemplos de gordura insaturada, ensina a professora do Departamento de Nutrição da UFPE, são as chamadas ômegas 3 e 6, presentes nos peixes gordurosos. “Elas aumentam o colesterol bom, evitam a formação de placas de gordura nos vasos. Com isso, ajudam na prevenção de doenças cardiovasculares.”

Se, por um lado, as gorduras insaturadas tornam o peixe uma carne mais leve, também contribuem para que seja mais perecível. “Entre todas as carnes, a do peixe é a mais susceptível a alterações, se estragando mais rapidamente”, afirma a professora.

Além de fonte de proteína e gorduras saudáveis, o pescado fornece minerais e vitaminas lipossolúveis, aquelas que se dissolvem na gordura, como A, B, K e E. Já o fígado de peixe é rico em vitaminas A e D. A primeira é boa para a pele e visão e a segunda facilita a absorção do cálcio pelo organismo.

Projeto vira fonte de renda para jovens

Mais que comida, peixe significa meio de sobrevivência para os jovens de Catende. Ganhar dinheiro foi a motivação declarada por 31 deles que participaram de oficina de quatro meses, encerrada em janeiro, sobre produção comercial de pescado. Jenykele Maria da Silva, 18 anos, está concluindo o ensino médio e pensa em construir um viveiro. “Quero ter renda própria. Vou cultivar tilápia para vender”, anuncia a garota, moradora do Engenho Montepio, um dos 48 integrantes da Usina Catende, que produz açúcar, além de melaço para destilarias de álcool.
Os jovens aprenderam a selecionar a área, construir o viveiro, fornecer ração comercial e caseira e beneficiar o pescado. A coordenadora dos cursos oferecidos para jovens entre 16 e 24 anos, Edilene Maria da Silva, diz que o de piscicultura foi o mais procurado. “Tinha também apicultura, produção de mudas e sementes de cana e sementeira de milho, mas a preferência foi por aprender a cultivar peixes.”

Segundo ela, são 2.400 jovens morando na zona rural de Catende. Ao todo, a usina abriga no campo 17 mil pessoas. “É uma cidade”, resume Marivaldo Silva de Andrade, síndico da massa falida da Usina Catende, com 26 mil hectares e 1.300 trabalhadores permanentes. Massa falida é o conjunto de bens que restaram da usina, hoje administrada por um condomínio de credores trabalhistas. O síndico destaca que a piscicultura tem feito os trabalhadores rurais descobrirem outras vocações, além de plantar cana-de-açúcar e cuidar do gado.

País consome menos que a média mundial

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) preconiza um consumo anual per capita de, pelo menos, 12 quilos de peixe. No Brasil, cada pessoa come 6,8 quilos por ano e em Pernambuco, 5 quilos. Para a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seape), o motivo para os brasileiros comerem menos peixe que o recomendado, mesmo tendo 7.367 quilômetros banhados pelo Oceano Atlântico, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é a baixa produção. E, como a produção é pouca, o preço é alto.
“Nossa zona costeira tem mais diversidade do que quantidade”, diz o engenheiro de pesca Felipe Matias, diretor da Seape e coordenador nacional do projeto Desenvolvimento das Comunidades Costeiras, da FAO. “Ou seja, apesar da grande extensão, o litoral brasileiro não é piscoso o bastante, com exceções de algumas áreas no Norte e próximo a Cabo Frio, no Rio de Janeiro.” A solução para o problema, segundo ele, são projetos que envolvem o cultivo de peixes, como o da Usina Catende, em Pernambuco.

Matias defende a criação de peixes não apenas para a subsistência, mas também para fins comerciais. “Ninguém come peixe no café da manhã, almoço e jantar. É preciso vender o peixe para ganhar dinheiro e comprar outras coisas”, afirma o engenheiro de pesca, à frente da diretoria de Desenvolvimento da Aqüicultura da Seape.
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Postagem Número:#2/6  Mensagempor Jorge Thiago » 01/03/2007 - 16:30:26

Muito interessante! Conheço Athiê, mas ainda não tive aulas com o mesmo.
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Postagem Número:#3/6  Mensagempor Diogo Medeiros » 01/03/2007 - 20:26:16

muito interessante esse projeto...
aki no estado o mesmo eh feito com a apicultura e isso tah rendendo muito dinhero pro interior...
“Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come”
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Postagem Número:#4/6  Mensagempor Rafael Monteiro » 01/03/2007 - 21:48:59

Muito boa a iniciativa,uma bela alternativa para matar a fome de muitos, que nao tem o que comer.
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Postagem Número:#5/6  Mensagempor Ferreiro_AL » 02/03/2007 - 17:55:45

Interessante, principalmente po utilizar espécies nativas. O peixamento de tilápia, por exemplo, é uma faca de dois gumes. Ela detona a ictiofauna nativa de qualquer rio....
Quebra aê, quebra aê, olha ASA aê!
O ASA chegou, o ASA bombou!
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Postagem Número:#6/6  Mensagempor Tarpon » 07/03/2007 - 09:10:30

Grande Chrony,

Pena que essas iniciativas pouco tem haver com as instituições governamentais. São em geral de procedência comunitária ou privada. Em vários estados nordestinos agricultores de subsistência estão produzindo peixes em seus quintais. A grande maioria não tem nenhum tipo de assistencia técnica. Conhecemos aqui no MA. dezenas deles. Cavaram seus próprios açudes e tiveram muita dificuldade para a obtençã de alevinos. Na semana de carnaval eu mesmo distribui 2.000 alevinos de tambaqui a iniciantes da região de Panaqutira, aqui mesmo na ilha.
Como se vê,não é tão difícil acabar com afome no País. Falta interessee vontade política.

abraços,
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