Fonte: http://www.pernambuco.com/diario/2006/08/20/urbana6_0.asp (somente para assinantes)
DOCUMENTÁRIO
Mudanças ambientais seriam responsáveis por ataques em Pernambuco
JÚLIA KACOWICZ
DA EQUIPE DO DIARIO
Vítimas. É assim que os animais mais temidos dos oceanos são definidos pelo mergulhador e cinegrafista paulista Lawrence Wahba. Ele acredita que os ataques ocorridos no Recife e em Jaboatão dos Guararapes nos últimos 14 anos representam uma reação às mudanças ambientais provocadas pelos humanos na região. Os grandes peixes que habitam os cerca de 20 quilômetros considerados como área de risco de Pernambuco, segundo ele, só atacam pessoas desavisadas porque estão famintos. A teoria voltou a ser discutida por especialistas e população em geral com a exibição, pela Discovery Channel, do documentário a Rebelião dos Tubarões.
O filme, uma co-produção do Canal Azul e NHNZ (National History New Zeland), foi realizado com o objetivo de apresentar as razões dos 50 ataques em Pernambuco desde 1992. "Eu estava convencido de que eles não são assassinos, mas queria entender o que está ocorrendo no Recife", disse Wahba. Para comprender o comportamento dos animais, ele mergulhou ao ladode tubarões-tigre (Galeocerdo cuvier) e cabeça-chata (Charcharhinus leucas) em praias das Bahamas e de Cuba, onde a prática é considerada segura. As imagens mostram que os peixes manifestaram apenas curiosidade, chegando até a encostar a cabeça na filmadora.
A primeira justificativa apresentada para a presença dos tubarões nesse trecho do litoral foi a mudança provocada no estuário de Suape com a ampliação do Porto, em Ipojuca. Com as obras, uma parte do mangue foi aterrada, canais dragados e um quebra-mar construído. "Essa teoria vem sendo discutida desde os primeiros ataques, inclusive em encontros internacionais. Existe um canal profundo entre Suape e o Recife que serve de caminho para os tubarões", afirmou o engenheiro de pesca e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Fábio Hazin, que participa do documentário.
Com a degradação da região que servia de local de reprodução para os animais, de acordo com a teoria, os tubarões migraram para a Foz do Rio Jaboatão que fica mais ao Norte de Suape e próxima às praias onde ocorreram a maioria dos ataques. Hazin destacou, no entanto, que nenhum ataque foi registrado em áreas protegidas por arrecifes. O biólogo da Universidade Estadual Paulista e especialista em tubarões, Otto Gadig, ressaltou que a ocorrência dos ataques também se deve ao aumento da população no litoral e a presença mais constante dos tubarões nesse trecho da costa.
Além desse conjunto de fatores, Wahba aponta o desequilíbrio ambiental encontrado em trechos do litoral como razão para a agressividade dos tubarões. "As espécies são consideradas agressivas, mas nas praias de Cuba e das Bahamas damos peixes na boca do tubarão. Lá o ambiente é rico e o que vimos no Recife foi um cenário desolador com águas turvas e poluídas por detritos urbanos", disse. Segundo o mergulhador, os ataques são um pedido de socorro do meio ambiente e a reversão desse dano ambiental é quase impossível. "Não se pode deter o progresso econômico, mas ele precisa vir acompanhado de planejamento", afirmou. A estréia do documentário foi mundial e o filme será exibido em mais de 120 países.
Conscientização de riscos na prevenção
Diante da impossibilidade de impedir a ocorrência de novos ataques no litoral de Pernambuco, a garantia de acesso à informação e à educação ambiental é a principal ação de prevenção defendida por especialistas de todo o Brasil. Segundo o biólogo Marcelo Szpilman, a única forma de evitar ataques é a conscientização dos riscos. "A convivência entre humanos e tubarões aumentou com as mudanças ambientais e o risco também cresceu. Por isso, a população precisa ter conhecimento de que os riscos são reais", afirmou.
O também diretor do Instituto Aqualung, no Rio de Janeiro, ressaltou que os registros de ataques no estado nos últimos anos demonstram a importância do trabalho de educação ambiental. "Os ataques diminuíram quando as ações educativas foram reforçadas. Tanto que das três últimas vítimas no estado, duas foram turistas e uma foi atacada em uma área que não era considerada de risco", disse. As atividades educativas e pesquisas foram iniciadas, de forma sistemática, em maio de 2004 com a instalação do Comitê Estadual de Monitoramento aos Incidentes com Tubarões (Cemit), que reúne órgãos públicos e entidades civis.
"A questão está na informação e na forma como ela é tratada. O governo de Pernambuco demorou a agir, mas as ações estão dando resultado", disse o professor da Universidade Estadual Paulista, Otto Gadig. Segundo o biólogo, outro aspecto que torna a situação de Pernambuco mais preocupante é o tamanho dos tubarões. "O número de ataques na Flórida é cinco vezes maior, mas o tubarão é menor e o ataque não provoca morte. O índice de mortalidade também assusta", afirmou. Outro ponto que reforça a necessidade das ações educativas, segundo Szpilman, é que os ataques ocorrem por erro de identificação ou demarcação de território.
DOCUMENTÁRIO
Mudanças ambientais seriam responsáveis por ataques em Pernambuco
JÚLIA KACOWICZ
DA EQUIPE DO DIARIO
Vítimas. É assim que os animais mais temidos dos oceanos são definidos pelo mergulhador e cinegrafista paulista Lawrence Wahba. Ele acredita que os ataques ocorridos no Recife e em Jaboatão dos Guararapes nos últimos 14 anos representam uma reação às mudanças ambientais provocadas pelos humanos na região. Os grandes peixes que habitam os cerca de 20 quilômetros considerados como área de risco de Pernambuco, segundo ele, só atacam pessoas desavisadas porque estão famintos. A teoria voltou a ser discutida por especialistas e população em geral com a exibição, pela Discovery Channel, do documentário a Rebelião dos Tubarões.
O filme, uma co-produção do Canal Azul e NHNZ (National History New Zeland), foi realizado com o objetivo de apresentar as razões dos 50 ataques em Pernambuco desde 1992. "Eu estava convencido de que eles não são assassinos, mas queria entender o que está ocorrendo no Recife", disse Wahba. Para comprender o comportamento dos animais, ele mergulhou ao ladode tubarões-tigre (Galeocerdo cuvier) e cabeça-chata (Charcharhinus leucas) em praias das Bahamas e de Cuba, onde a prática é considerada segura. As imagens mostram que os peixes manifestaram apenas curiosidade, chegando até a encostar a cabeça na filmadora.
A primeira justificativa apresentada para a presença dos tubarões nesse trecho do litoral foi a mudança provocada no estuário de Suape com a ampliação do Porto, em Ipojuca. Com as obras, uma parte do mangue foi aterrada, canais dragados e um quebra-mar construído. "Essa teoria vem sendo discutida desde os primeiros ataques, inclusive em encontros internacionais. Existe um canal profundo entre Suape e o Recife que serve de caminho para os tubarões", afirmou o engenheiro de pesca e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Fábio Hazin, que participa do documentário.
Com a degradação da região que servia de local de reprodução para os animais, de acordo com a teoria, os tubarões migraram para a Foz do Rio Jaboatão que fica mais ao Norte de Suape e próxima às praias onde ocorreram a maioria dos ataques. Hazin destacou, no entanto, que nenhum ataque foi registrado em áreas protegidas por arrecifes. O biólogo da Universidade Estadual Paulista e especialista em tubarões, Otto Gadig, ressaltou que a ocorrência dos ataques também se deve ao aumento da população no litoral e a presença mais constante dos tubarões nesse trecho da costa.
Além desse conjunto de fatores, Wahba aponta o desequilíbrio ambiental encontrado em trechos do litoral como razão para a agressividade dos tubarões. "As espécies são consideradas agressivas, mas nas praias de Cuba e das Bahamas damos peixes na boca do tubarão. Lá o ambiente é rico e o que vimos no Recife foi um cenário desolador com águas turvas e poluídas por detritos urbanos", disse. Segundo o mergulhador, os ataques são um pedido de socorro do meio ambiente e a reversão desse dano ambiental é quase impossível. "Não se pode deter o progresso econômico, mas ele precisa vir acompanhado de planejamento", afirmou. A estréia do documentário foi mundial e o filme será exibido em mais de 120 países.
Conscientização de riscos na prevenção
Diante da impossibilidade de impedir a ocorrência de novos ataques no litoral de Pernambuco, a garantia de acesso à informação e à educação ambiental é a principal ação de prevenção defendida por especialistas de todo o Brasil. Segundo o biólogo Marcelo Szpilman, a única forma de evitar ataques é a conscientização dos riscos. "A convivência entre humanos e tubarões aumentou com as mudanças ambientais e o risco também cresceu. Por isso, a população precisa ter conhecimento de que os riscos são reais", afirmou.
O também diretor do Instituto Aqualung, no Rio de Janeiro, ressaltou que os registros de ataques no estado nos últimos anos demonstram a importância do trabalho de educação ambiental. "Os ataques diminuíram quando as ações educativas foram reforçadas. Tanto que das três últimas vítimas no estado, duas foram turistas e uma foi atacada em uma área que não era considerada de risco", disse. As atividades educativas e pesquisas foram iniciadas, de forma sistemática, em maio de 2004 com a instalação do Comitê Estadual de Monitoramento aos Incidentes com Tubarões (Cemit), que reúne órgãos públicos e entidades civis.
"A questão está na informação e na forma como ela é tratada. O governo de Pernambuco demorou a agir, mas as ações estão dando resultado", disse o professor da Universidade Estadual Paulista, Otto Gadig. Segundo o biólogo, outro aspecto que torna a situação de Pernambuco mais preocupante é o tamanho dos tubarões. "O número de ataques na Flórida é cinco vezes maior, mas o tubarão é menor e o ataque não provoca morte. O índice de mortalidade também assusta", afirmou. Outro ponto que reforça a necessidade das ações educativas, segundo Szpilman, é que os ataques ocorrem por erro de identificação ou demarcação de território.