Expedição sertão 2 – O acampamento


O sertão oferece inúmeras opções para pesca esportiva do Tucunaré, em grandes e médias barragens que estão espalhadas pelo interior do estado, e praticamente todas possuem muitos peixes e também grandes exemplares do cultuado “Cichla monoculus”, nome científico do bocudo.

Mas uma vez organizamos uma expedição em busca dos grandes exemplares. Foi escolhida a barragem de São João do Sabugí, interior do RN, cerca de 350 km de Natal. A proposta foi um montar um rancho em uma determinada margem, nas proximidades da represa e passarmos o sábado e o domingo.

Pois bem, por volta das 7:00 da manhã pegamos a estrada, partindo da Cidade de Patos, que dista uns 270 km de João Pessoa – PB, com destino a pequena São João do Sabugi, cerca de 350 km de Natal-RN, cujo nome, nomeou a barragem. Em torno das 9:30 chegamos no local, após alguns percalços. Inicialmente, ficamos surpresos com o nível da água da barragem, que se apresentava em sua capacidade máxima, com muitas áreas alagadas.

Outro fator que rapidamente chamou nossa atenção foi a força do vento, que causava ondulações que poderiam até lembrar uma praia em dias de verão. Alem disso, a natureza não se demonstrava muito a favor dos pescadores, o dia estava nublado e ameno, fazendo com que a água estivesse fria.

Pela nossa experiência, não tínhamos nada ao nosso favor. Todos os fatores apontavam para um dia pouco produtivo em termos de pesca esportiva. Mas, como somos nordestinos e “cabra da peste”, nunca desistimos.

Então, pela na manhã do sábado, apenas 3 pescadores foram tentar a sorte, eu fui sozinho em um barco, enquanto que Aníbal e Virgulino, que não é o “Lampião”, em outra embarcação. Enquanto isso, o nosso amigo Martins se ocupava de organizar o rancho.

Em fim, barcos na água, rapidamente Aníbal desaparece na imensidão da água, enquanto que eu fico me acertando com o motor elétrico. Perdi muito tempo aprendendo a dominar a embarcação em meio a um forte vento, que sempre teimava em empurrar o barco sobre as estruturas.

Após uns 40 minutos de luta brava contra o motor elétrico, consegui chegar à margem de uma pequena serra que tinha sua base coberta pelo avanço das águas. Lugar perfeito, com muita estrutura e principalmente rochedos para tudo que é lado. Certamente, um local ideal para se perder algumas iscas. Mas, nada disso aconteceu, apenas obtive um ataque de um Tucunaré extremamente tímido, que rapidamente voltou ao seu esconderijo. Ainda tentei várias vezes em locais diferentes, mas não obtive nenhuma ação.

Cansado e faminto, me dirigi de volta ao rancho, onde nosso amigo Martins preparava um arroz carreteiro com tudo que tinha direito. Enquanto isso, nem sinal de Aníbal e seu parceiro. 

Ao chegar ao rancho, comuniquei ao amigo Martins os acontecimentos e concluímos que não estávamos em um bom dia de pesca. Nesse momento,  o calor já estava mostrando que apesar do tempo nebuloso o sol ainda castiga os filhos do sertão. Achei por bem, tomar um banho para relaxar um pouco. Por precaução, levei meu equipamento básico, vara 20 lbs e carretilha Shimano Curado, com uma isca Marine Sports Flash Minnow. Pois, o mais improvável aconteceu. Pinchei próximo a um arbusto seco que se encontrava a cerca de uns 10 m da margem. E para minha surpresa, ele resolveu mostrar a cara, e com a violência de sempre atacou a isca, fincando as duas garatéias em seu corpo. Com um grito de guerra, comemorei o feito. Era um exemplar de uns 1,5 kg, que é o padrão do local. Voltei ao rancho ainda com o bocudo na linha festejei euforicamente com o amigo Martins. Pelo menos o peixe do jantar já estava garantido.

Logo mais, Aníbal e Virgulino chegaram, e exibiam um semblante de desapontamento e apenas 4 tucunarés na faixa de 3 kg, que é muito fraco para os padrões locais.

Reunimos-nos para o almoço, e após meia dúzia de piadas já estávamos renovados e determinados a encontrar bons exemplares no período da tarde.

Para variar, o incansável Aníbal sumiu novamente em meio aos alagados. Alguns minutos depois, eu e Martins fomos à busca do nosso objetivo. Arremessos para todos os lados, em formações rochosas, cercas velhas, próximo às galhadas. Mas, parecia que nada adiantaria, nem alevinos se atreviam a olhar para nossas iscas. Isso desmotivou Martins, que resolveu apenas guiar o barco para que eu tentar-se encontrar algum Tucuna. Cruzamos a barragem no sentido norte, encontrando uma enseada abrigada do vento, ou seja, a água estava um espelho, além disso na margem esquerda tinha uma formação rochosa formando uma grande parede, que certamente abrigaria bons exemplares. Mas, tudo continuava com antes, nada de ação. Com muita insistência, arremessei perto às estruturas do paredão, e um bocudo tentou pegar minha isca, sem sucesso. Repeti o arremesso umas 5 vezes, até que recebi outro ataque na isca, que dessa vez senti firmeza, resultando num Tucunaré de aproximadamente 1 Kg. Que dediquei a todos os brasileiros de nunca desistem.

Com o humor renovado, resolvemos dar a volta e passar mais uma vez pelo mesmo local.  Resultando em mais um exemplar, sendo de menor porte, que logo foi solto. A essa altura, o sol já começava a demonstrar a falta de paciência com o dia, e começava a despedir-se.

Voltamos ao rancho, e mais alguns minutos depois, Aníbal chegou ainda mais desapontado, pois, durante a tarde apenas Virgulino conseguiu pegar um exemplar, configurando a única ação do período vespertino.

Para nós, restavam apenas as piadas e brincadeiras típicas dos pescadores.  Entre uma conversa e outra, concordamos que no dia seguinte iríamos tentar uma outra barragem próxima ou mesmo um outro setor da mesma barragem.

Dormimos bem, apesar do frio da madrugada. Ao amanhecer, percebemos que o dia e o tempo não tinham melhorado, e sim piorado, o vento estava mais forte, e o céu com mais nuvens.

Rapidamente preparamos o café da manhã, arrumamos as tralhas e levantamos acampamento rumo a barragem de Carnaúbas, que fica à cerca de uns 15 km do local. Ao chegarmos ao local, surpresa, a barragem estava quase sangrando, encontrava-se em seu nível máximo. Realizamos alguns arremessos pela margem próxima, mas achamos prudente não por os barcos na água e seguir de volta para a outra, mas dessa vez tentaríamos nas proximidades do sangradouro, pois existe muita estrutura de pedras.

De cara, o lugar nos deixou com motivação renovada, pois conseguimos perceber locais com água abrigada do vento e com menor profundidade que os outros locais do dia anterior.

Com animação colocamos os barcos na água e iniciamos mais uma jornada. Seguimos em direção a um serrote onde havia uma margem com muitas pedras e galhadas. Mas logo percebemos que nosso maior inimigo nos seguia, implacável, o vento, que soprava com tamanha força que obrigava muita atenção por parte do companheiro que controlava o motor elétrico, pois qualquer descuido, o barco poderia colidir com pedras.

Não precisa nem falar que foi mais um dia de pescaria frustrante. Com muito esforço e dedicação, apenas dois peixes foram capturados, um belo exemplar de 2 kg, pego por Aníbal e outro menor de 1 kg que comemorei como quem ganha um prêmio.

Por volta das 12h, já estávamos de volta ao local de partida, onde fizemos uma refeição rápida e arrumamos tudo e decidimos dar por encerrada essa aventura.

Para nós, restou apenas o aprendizado proporcionado pela natureza. Sempre respeitar as estações do ano. Pois, para cada modalidade de pesca, existe a época propícia para sua prática. Com relação ao nosso amigo Tucunaré, a experiência indica que os fatores naturais, como vento e temperatura da água, são potenciais inibidores da sua ação. Portanto, deixo aos amigos pescadores a lição de que, planejamento e racionalidade devem fazer parte do aparato de pesca do pescador esportivo, que muitas vezes age por pura emoção, esquecendo experiências do passado e repetindo os mesmos erros.

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