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Peixe bom em pescaria urbana no inverno

A chegada do inverno é um verdadeiro suplício para os pescadores nordestinos. Durante essa época as condições climáticas deixam de ser favoráveis a maioria dos peixes que estamos acostumados a capturar e verificamos a diminuição da produtividade em nossas saídas. Ventos fortes, mar agitado, água turva e a queda da temperatura são apenas alguns dos fatores que fazem da estação das chuvas um período de desânimo generalizado. Por isso, procuramos ficar antenados a espera de qualquer notícia sobre lugares onde uma boa investida seja viável e, tão logo chegam aos nossos ouvidos relatos de um pesqueiro proveitoso, arrumamos nossa tralhas e partimos na expectativa do momento que antecede a primeira fisgada.

Para os que moram no Recife e não pretendem se aventurar em grandes distâncias existe uma opção que tem sido a “salvação da lavoura” em épocas de “vacas magras”. Trata-se da Lagoa do Araçá, um espelho de água formado pela vazão do rio Tejipió, localizada no bairro da Imbiribeira. O local, apesar de render uma boa dose de emoção, é bastante marcado pela poluição e as palavras não devem iludir o leitor de se tratar de um paraíso urbano. Questões ambientais à parte, é possível realizar boas pescarias no local, mesmo durante o inverno. O único problema é o peixe alvo da pescaria neste local: o camurupim.

Carlos Araújo e o seu primeiro camurupim na lagoa. A briga rendeu muitos saltos e uma boa dose de emoção

O espécime oferece um grau elevado de dificuldade na captura e pode frustrar o pescador que é capaz fisgar 10 peixes em sua investida sem, no entanto, posar com nenhum deles na foto. E isso não acontece poucas vezes. É comum na pescaria do “rei de prata” sentir o prazer de ter o peixe grudado na ponta da linha e vê-lo escapar depois do primeiro ou segundo salto. Isso não deve deixar o esportista desacreditado. Um pouco de perseverança e paciência é suficiente para acertar nos detalhes e trabalhar o peixe corretamente.

Uma coisa que deve ser levada em conta quando se trata da pescaria na Lagoa do Araçá é a falta de voracidade do camurupim quando comparado aos exemplares pescados em ambiente selvagem, por assim dizer. Enquanto em outros pesqueiros um ataque dessa espécie é quase certo ao arremessar a isca na sua frente, na lagoa isso não acontece com tanta frequência. Mas, cedo ou tarde, acontece. Por isso vale estar preparado. Os camurupins capturados no local geralmente se situam na faixa de um a cinco quilos, embora haja relatos de indivíduos muito maiores. Podem ser fisgados com uso de iscas naturais, artificiais e fly, apesar dessa ultima modalidade ser pouco praticada em nossa terra.

Exemplar capturado com sistema de praia e camarão morto

O uso de iscas naturais mortas, como camarão e filé de peixe, é amplamente difundido na Lagoa do Araçá. Talvez por isso, esse pesqueiro seja um dos poucos locais onde o camurupim pode ser capturado através desse artificio. O sistema utilizado para a modalidade é semelhante ao usado na pesca de praia. Um chicote com dois ou três anzóis de tamanho apropriado (para referência tenha em mente o maruseigo 14 ou 16), chumbada e só. Por falar em chumbada, vale ficar ligado no modelo utilizado, pois o fundo do pesqueiro é composto de lodo, o que pode causar rompimento da linha no recolhimento quando o peso se enterra no leito lamacento. Opte por formatos como a carambola ou o torpedo e você estará livre desse problema.

Outra modalidade de iscas naturais praticada com sucesso na Lagoa do Araçá é a de pesca com bóias. Nesse caso usa-se o sistema tradicional com um único anzol, pequeno chumbo para arremesso e o flutuador que mantém a linha suspensa na água. O esquema é mais utilizado com iscas vivas, como o camarão e pequenos peixinhos encontrados às margens do local. Entretanto, também é produtivo com as iscas mortas citadas acima.

Na tentativa de salvar o peixe, Carlos Araújo teve que se sujar para libertá-lo.

No Recife, o número de adeptos das iscas artificiais tem aumentado consideravelmente nos últimos tempos. E isso pode ser verificado também na lagoa. Em todas as nossas incursões a esse pesqueiro vemos sempre um ou mais pescadores fazendo uso dos peixinhos de plástico. A escolha da isca correta pode tornar esse tipo de pescaria mais eficiente até do que as listadas anteriormente. Além disso, deixa mais emocionante a captura do peixe por possibilitar prever o momento do ataque.

Os poppers tem se mostrado a opção mais produtiva na superfície e são, quase sempre, a primeira escolha tanto por tornar visível a investida do peixe como pela facilidade de trabalhar a isca. Um modelo imbatível para o lugar é o mini chug 65, da Zerek, um popper com 6,5 cms e 12g. Para movimentar a isca, um toque curto e seco com a ponta da vara a cada dois segundos aproximadamente é o suficiente para atrair a atenção do peixe. Feito isso, basta ficar atento e esperar a lapada para confirmar a fisgada. Os camurupins também atacam bem iscas zara, entretanto o tamanho tem grande influência na eficiência da pescaria. Procure optar por iscas de no máximo nove cms. Para mais dicas sobre a captura desse peixe consulte a matéria camurupins em rios e lagos.

Mini chug 65

Outro detalhe a ser considerado é o horário em que os peixes estão mais ativos. Virtualmente é possível fisgar o camurupim a qualquer hora na lagoa e, de fato, já capturamos peixes no local ao meio dia, mas para otimizar a pescaria convém escolher o horário apropriado. O comecinho da manhã é, sem dúvida, o melhor momento para começar os arremessos. O final da tarde também costuma ser produtivo e os peixes continuam ativos mesmo com a noite já fechada. Alguns pescadores preferem frequentar a lagoa enquanto está na vazante, enquanto outros acham melhor a enchente. Seja qual for a sua escolha é preciso saber que existe uma diferença de aproximadamente três horas entre a maré apresentada na tábua do Porto do Recife e a que se constata no local em questão. Isto quer dizer que, se a máxima da maré no Porto do Recife for, por exemplo, 2.4m às 5 da manhã, o pico na lagoa será próximo das 8h.

Polêmica – Em teoria existem três locais para pescaria na Lagoa do Araçá. Dois mirantes, e a área conhecida como saída d’água. Entretanto há um decreto da Prefeitura do Recife, o de número 18.029, que restringe a prática da modalidade apenas ao ponto onde o rio Tejipió encontra a lagoa. A Revista Pesca Nordeste apurou a informação e teve acesso ao texto da norma onde se lê no inciso IV do sétimo paragrafo o seguinte texto “a lagoa poderá ser utilizada para pequena atividade de pesca, desde que a mesma seja realizada com uso de vara e molinete, em local próximo à área de fluxo e refluxo da água, vedada, porém, qualquer atividade de pesca em toda a área dos mirantes”.

Ainda sobre a questão, conversamos com um dos funcionários da empresa privada que presta serviços de segurança patrimonial da lagoa e fomos informados que a recomendação de remover os pescadores das áreas proibidas foi passada pela chefia do empreendimento sob a alegação de seguir uma norma interna a ser praticada na área. A verdade é que a historia toda é bastante confusa, ninguém está certo se o decreto tem validade, empregados de segurança patrimonial não tem autoridade para retirar pessoas de um local público e não existe nenhuma sinalização indicando a proibição da pesca nos mirantes. Para ser preciso com a realidade vale dizer que a fiscalização local é quase inexistente e diversos outros pontos regulamentados pelo decreto não são cumpridos, como o uso apenas de vara e molinete, a proibição da venda de bebidas alcoólicas e o usufruto do local para passeio com animais domésticos e bicicletas.

 

Vida longa aos equipamentos de pesca

Pescador é antes de tudo intrépido. Viajamos aos cantos mais remotos e nos aventuramos nas mais insólitas condições em busca dos melhores locais de pesca. Muitas vezes de sol a sol ou mesmo debaixo de chuva estamos lá, com as linhas esticadas na água a espera do embate com os peixes mais esportivos. Por isso não é raro chegarmos em casa exaustos, no fim das energias, e colocarmos o nosso material no cantinho reservado a ele sob o pretexto de “amanhã quando estiver descansado, dou uma limpada na tralha”. Mas eis que os dias passam e nosso equipamento continua intocado no mesmo lugar. Nos animamos para uma outra pescaria, preparamos os apetrechos e, quando chegamos ao pesqueiro, nos damos conta que o molinete não está mais tão azeitado quanto de costume, a vara está com grãos de areia e começa a apresentar ferrugem nos passadores e a fricção do nosso recolhedor de linha já não está tão suave como quando chegou em casa novo de loja.

Para evitar que o material se deteriore mais rapidamente é preciso tomar algumas providências que, após um tempo, se tornam hábito e contribuem enormemente para o aumento da vida útil de nossas quinquilharias de pesca. De acordo com Alexandre Cardoso, um dos profissionais de maior gabarito no assunto, ao chegar da pescaria é imprescindível lavar todo o equipamento em água doce corrente, de preferência no chuveiro, tomando o cuidado de não mergulhar molinetes e carretilhas, apenas colocá-los sob o fluxo de água e deixar que todas as partes sejam lavadas cuidadosamente. Alias, é um costume muito salutar aproveitar o banho pós pescaria para lavar as varas e dar aquela enxaguada no molinete o carretilha. Depois de lavar o material deve-se lubrificar os pontos críticos de atrito tais como manivela, eixo, rolamentos e outras partes que não demandem abertura completa da carenagem. O óleo ideal para essa utilidade é o de viscosidade ISO VG 10 (óleo Singer). Vale lembrar que não é preciso exagerar na lubrificação. Uma gota em cada ponto ou rolamento é suficiente.

Outro ponto a ser observado para cuidar bem do seu material é o transporte adequado das varas. Mas basta seguir algumas pequenas dicas do nosso especialista, Alexandre Cardoso, para aumentar a longevidade do seu equipamento. “Evite dar pancadas e quedas na haste dos caniços ocos de grafite ou carbono, pois isso pode causar micro rachaduras na estrutura do blank e eventual quebra durante a pescaria. Por isso carregue as varas de preferência em tubos destinados a esse fim, principalmente em viagens longas. Após o uso em água salgada, lave sempre os passadores e fixadores para retirar todo resíduo de sal com água doce, sabão e uma pequena escova. E, por último, nunca deixe varas dentro de automóveis fechados. Sob o sol, a temperatura no interior dos veículos se eleva a tal ponto que pode empenar seu material”, ressalta Cardoso.

Essas são as dicas básicas para aumentar a vida útil da sua tralha. Entretanto, mesmo o mais cuidadoso dos pescadores, notará desgaste, principalmente de molinetes e carretilhas, após algum tempo de uso continuo. Por isso, é necessário desmontar o equipamento e fazer uma limpeza minuciosa para posteriormente substituir a lubrificação interna. A recomendação de Cardoso é que em condições extremas de uso, molinetes e carretilhas sejam abertos pelo menos após cada quatro pescarias em água doce e a cada duas pescarias em água salgada, lembrando que mangue também é considerado água salgada. “Essa é apenas uma estimativa, pois não existe uma regra geral da freqüência com que o material deva ser desmontado. Isso depende de vários fatores, desde o local onde o equipamento é utilizado até a atitude do pescador com relação ao seu uso e manuseio”, comenta Cardoso. Em água doce, dificilmente haverá problemas de oxidação e, a não ser que o molinete ou carretilha caiam dentro do rio ou lago, quase não há necessidade de realizar o desmonte de peças.

Já em água salgada, devem-se fazer manutenções mais frequentes, pois mesmo que o equipamento não caia na água, principalmente nas carretilhas, há os respingos resultantes do recolhimento da linha que penetram nas engrenagens e, com o tempo, formam uma fina camada de sal que, se não for retirada, oferece o risco de travar rolamentos e oxidar peças, tornando a manutenção bem mais cara. No caso do material cair na areia da praia, lave em água doce no local e guarde para fazer uma limpeza mais minuciosa ao chegar em casa. Nada de continuar usando no mesmo momento.

Por falar em desmonte de equipamentos uma coisa que o pescador deve ter em mente é que a tarefa nem sempre é fácil, sobretudo em carretilhas e molinetes de maquinário mais complexo. O trabalho exige um pouco de talento e uma boa dose de paciência, por isso recomendamos cautela na hora de se aventurar nas entranhas de seu material de pesca. Não é incomum ouvir relatos de amigos contentes por terem realizado a própria manutenção no equipamento até descobrirem que, depois da montagem, uma ou mais peças ficaram sobrando. Uma opção para quem não é muito jeitoso com itens miúdos ou mesmo não quer se dar ao trabalho de sujar as mãos de graxa é procurar assistência profissional. Algumas lojas de pesca possuem suas próprias oficinas, entretanto o pescador deve ficar atento e procurar saber se o serviço oferecido no local é de boa qualidade.

É o caso, por exemplo, da capital norte-rio-grandense, Natal, que conta com a Cardoso Pesca. A empresa realiza limpeza e manutenção de molinetes e carretilhas, lubrificação, substituição de componentes danificados além da customização de equipamentos. Pelo módico preço de R$ 20 é possível receber o molinete ou carretilha tinindo após a execução do serviço. A taxa inclui desmonte de todas as peças, limpeza completa, remoção de pontos de ferrugem, sal e detritos, além da lubrificação com os melhores produtos disponíveis no mercado e montagem final. Para as carretilhas elétricas o preço fica em R$ 50. Os valores não incluem a substituição de peças quebradas. Uma boa pedida para quem quer aumentar a vida útil da sua tralha de pesca.

Serviço – Manutenção de equipamentos:

No Recife

O Ponto Certo
(81) 3455-2803 / (81) 8874-3252
Ari Moreira

Em Natal

Cardoso Pesca
(84) 3213-3895 ou (84) 9989-2608
Alexandre Cardoso
www.alexandre.pescanordeste.com.br

Niquim – O perigo oculto

O título acima mais parece nome de filme de terror e não é para menos. Camuflado sob o leito lamacento das águas nordestinas se esconde um verdadeiro monstro, capaz de causar pavor aos que já tiveram o infortúnio de encontrá-lo: o peixe niquim. O perigo não é tanto por seu tamanho, pois os indivíduos adultos atingem apenas 15 centímetros, entretanto, o diminuto animal carrega em seu corpo um poderoso veneno que pode causar dor intensa e até deixar sequelas permanentes quando inoculado na vítima.

O niquim é encontrado em toda região Nordeste, tanto em água doce quanto em salgada, porém os acidentes ocorrem com mais frequência nos rios. De hábito sorrateiro, o peixe fica a maior parte do tempo enterrado a espera de uma presa de passagem. E é justamente esse comportamento que demanda atenção redobrada dos pescadores ao caminharem no território do niquim. Isso porque ele possui espinhos móveis em seu dorso que se armam quando o animal é incomodado prontos para ferir pés e mãos desprotegidos.

Os espinhos também são encontrados nas laterais do peixe e se conectam a glândulas de um forte veneno que é injetado na vitima no momento do contato.  O cuidado deve ser ainda maior porque o niquim costuma habitar as partes de águas mais rasas, inclusive, áreas lamacentas próximas às margens. Por isso é de extrema importância usar um calçado de solado grosso e resistente, mesmo que você vá caminhar emersa do leito.

O veneno do niquim, causa uma dor intensa, que em nada se compara, por exemplo, à ferroada do bagre ou da arraia. Quem já teve a oportunidade de se furar com essas espécies de peixe sabe que o desconforto é grande, entretanto, na maioria das vezes, tolerável. Já com nosso monstro aquático a dor é significantemente mais forte e se irradia para a base do membro atingido. Além disso, pode causar uma inflamação severa e evoluir para um quadro de necrose que acarreta na perda da parte afetada por amputação.

Ainda não existe antídoto conhecido e o tratamento consiste em mergulhar o local atingido na água mais quente que a pessoa conseguir suportar até o veneno, que se decompõe com aumento da temperatura, perder seu efeito. A forma popular de cura para ferroada de niquim fala em urinar sobre a ferida, mas estudos afirmam que a eficácia do procedimento reside mais no calor do líquido do que nas substâncias presentes na urina. Em todo caso, é uma opção emergencial para aliviar os sintomas até a chegada ao hospital. Nas unidades de saúde é feita a analgesia do paciente, limpeza cirúrgica e drenagem de secreções.

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