A pesca com Fly na praia

Há algum tempo tenho me reunido com o amigo Marcos Réia, experiente produtor de filmes de pesca, para a produção de um DVD focado justamente neste esporte no Nordeste do País, abrangendo as mais diversas modalidades praticadas na região; dentre elas, a pesca com iscas artificiais na praia.

Em um de nossos encontros, sugeri a possibilidade de incluir também a pesca de fly nesse mesmo ambiente, pois, até agora, é raro ouvirmos falar desta prática.

Sugestão aceita resolvemos que, quando fôssemos gravar uma pescaria com iscas artificiais em uma das praias nordestinas, além do equipamento básico de vara e carretilha, levaríamos também tralhas para pesca com mosca.

Nosso destino seria a Ponta do Pirambu, praia com excelentes estruturas de pedras e propícia para o encontro com grandes exemplares de várias espécies. O ponto fica em Tibau do Sul, cidade a cerca de 90 km de Natal, no Rio Grande do Norte.

Analisando a tábua de marés, marcamos nossa pescaria de forma que aproveitássemos a chamada maré de lançamento – que ocorre nos dois primeiros dias da mudança de minguante ou crescente para cheia ou nova. Ela estaria baixando pela manhã, bem cedo, e seu reponto de vazante chegaria até às 8h 30; acreditávamos que este seria um excelente horário para a captura de camurins (robalos), xaréus e, com um pouco de sorte, até camurupins (tarpons).

Saímos de Natal às 3h 30 da madrugada e, em Tibau, nos encontramos com o parceiro paulista Edílson Adorno, freqüentador do site Pesca-NE, que estava doido para pescar conosco, devido às informações de excelentes pescarias no local relatadas no portal.

Iscas na água

Com as tralhas convencionais e iscas de meia-água e superfície, já havíamos capturado xaréus e camurins de bom tamanho, na faixa dos cinco quilos. Tudo isso só contribuiu para que nossa expectativa de fisgas grandes exemplares no fly no local aumentasse.

Montei meu equipamento, composto de vara para linha 8 e carretilha abastecida com uma WF8 afundante classe II, adequada para a pesca na água salgada de regiões tropicais. Utilizei um líder com cerca de dois metros de linha 0,60 mm e um streamer atado a um anzol Mustad 34007 número 3/0.

Nessa modalidade, é necessário dispor de uma boa quantidade de linha de backing, com 30 lb de resistência. Além de utilizar um apetrecho chamado de strippinf basket, que nada mais é do que uma cestinha, acoplada a um cinto que pode ser preso na cintura, na qual são acondicionadas as linhas na hora dos arremessos.

Esta cesta é importante para evitar que a linha enrosque nas pedras durante o lançamento, o que pode acontecer com facilidade por causa dos constantes ventos que chegam do mar – especialmente no Nordeste. Como é bastante difícil encontrar este equipamento no mercado nacional, eu procurei adaptar uma daquelas cestinhas usadas em supermercados; os resultados foram excelentes.

Logo nos primeiros arremessos, senti uma forte puxada na linha, seguida de uma repentina corrida: tratava-se de um belo exemplar de camurim.

Depois de uma boa briga e alguns saltos, o peixão se entregou. Após fotografá-lo, o pesamos e devolvemos à água: a marca de 2,5 kg já fazia dele um excelente exemplar fisgado com equipamento de fly.

O camurim chegou a engolir totalmente o streamer, ralando parte da linha do líder, que teve de ser refeita para novos arremessos. A esta altura, a maré já tinha repontado e estava no início da enchente, o que me dava pouco tempo para pescar – isso porque em breve ela começaria a nos expulsar do meio das pedras.

Num lançamento de pouco mais de 20 m, já recolhendo a linha, vi minha vara envergar completamente, fazendo a carretilha cantar feito louca e o backing quase que esgotar-se rapidamente.

Procurei conter a corrida do peixe freando a carretilha com a palma da mão na borda do carretel; funcionou, mas por causa da alta velocidade do carretel, levei umas boas pancadas da manivela nos dedos, o que não me causou nada de grave, a não ser muita dor.

Comecei a recuperar preciosos metros de backing, mas, a cada 15 ou 20 metros de linha que eu recolhia o peixe tomava outros 30 e começava toda a briga novamente. Tive que deixar a vara constantemente tencionada, para não correr o risco de fazer a linha bambear e perder o exemplar, que tinha jeito de ser grande.

Percebi que o Marcão torcia muito para que eu não perdesse o peixe, pois, para ele, as cenas gravadas de um grande exemplar fisgado com tralha de fly seriam inéditas; mas a briga estava ficando longa demais e meu braço, bastante dolorido. Nesse momento, eu já tinha minhas dúvidas se iria conseguir tirar o peixe, especialmente porque estávamos pescando em um local com bastante pedra e, a qualquer momento, a linha poderia ser rompida com o atrito.

Além disso, a maré já estava engrossando, o que tornava arriscado ficar em cima das pedras. Mas ainda para o Marcão, que levava equipamentos de filmagem nas costas, e para o Edílson, que tinha a máquina fotográfica em mãos. O risco foi comprovado quando o Edílson caiu na água depois de uma onda e danificou sua câmera; pelo menos conseguimos recuperar as fotos e um vídeo com boa parte da briga com o peixe.

Depois de uma intensa batalha, o belo peixe pranchou e se revelou: tratava-se de um xaréu de pouco mais de 5 kg, que foi retirado da água bastante cansado e muito estressado. Talvez se eu tivesse usado uma carretilha com sistema de freio melhor, a briga não teria se estendido tanto, deixando-o menos cansado.

Tivemos que reainmá-lo durante um bom tempo até que ele voltasse para a água para dar seguimento a seu ciclo de vida.

Com a maré já cheia – e os pequenos acidentes de percurso – a pescaria infelizmente não poderia prosseguir. Ainda assim, deixamos a Ponta do Pirambu com a sensação do dever cumprido: capturamos excelentes imagens e realizamos uma pescaria inédita com o equipamento de fly em uma praia nordestina.

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Alexandre Cardoso

 
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