Nas águas de Extremoz

Imagine um lugar onde se pode fisgar três das espécies de peixes mais esportivas do Brasil:

O Tucunaré, o Robalo e o Tarpon. 

Esse lugar existe. É a lagoa de Extremoz, que vem despontando como  um  dos  melhores pontos para pesca esportiva no  estado do RN. Dista  apenas 20 quilômetros da capital, Natal, cuja zona norte é abastecida por esse reservatório.  

Sua ligação com o mar se faz através do Rio Doce que, por sua vez, deságua no Rio Potengi. É na época das chuvas, quando o nível do Rio Doce aumenta, é que os Robalos e Tarpons entram na lagoa pequenos e crescem no reservatório.

Esse canal de  ligação com o mar é tão significativo que na  lagoa já foram fisgados até mesmo alguns exemplares de Caranhas.

Na época na colonização da cidade, nos meados do ano de 1500, as caravelas adentravam o  Rio Potengi e aportavam em Extremoz na chamada “Ponta Francesa” aterro construído pelos franceses para aportar as caravelas e barcos. Essa ponta francesa  ainda hoje existe, porém, um tanto quanto desfigurada, devido as mudanças que houve no decorrer dos séculos. Hoje em dia, devido à fatores como exploração imobiliária e a ocupação   de terrenos às suas  margens, o Rio Doce  tornou-se  inavegável, porém, com condições para a subida dos peixes do mar para  a  água doce.

Há noticias de Tarpons de até 60 quilos, mas o maior  que já vimos, calculamos em 30 quilos. Para pescar essa espécie deve-se ter uma boa dose de paciência, pois sua localização é basicamente no visual, sendo  fácil localizá-lo  quando sobe à superfície para respirar (rolling). É nessa hora que se joga a isca ao alcance deles. Dê preferência para modelos pequenos, mas com anzóis simples ou garatéias reforçadas. Jigs, shads, ou moscas  tipo  streamers são mais produtivas, pois o aspecto dessas iscas terem anzóis simples, facilitam a penetração na boca do Tarpon.

Mesmo assim, a fisgada tem que ser  poderosa, pois na boca do Tarpon possui uma placa óssea que mesmo com anzóis bastante afiados, ainda assim, uma boa fisgada torna-se muito difícil, fazendo o anzol soltar-se nos primeiros saltos do Tarpon. Devemos lembrar também, que o trabalho  das  iscas  para  captura  do Tarpon e até mesmo do Robalo deve ser lento, ao contrário de quando estamos trabalhando as iscas para o  Tucunaré, este sim, pode ser um pouco mais rápido.

Mais abundante que os Tarpons, os Robalos também podem ser fisgados na lagoa. A espécie predominante é o Robalo Peva (centropomus parallelus)e os maiores exemplares pegos com isca de meia-água, pesaram em torno  de 4 quilos. Curioso é que, nessa lagoa, que não sofre influência de marés, o Robalo prefere ficar mais no fundo, dificilmente subindo à superfície. Em função disto, as iscas que apresentaram bons resultados foram jigs e iscas de barbela longa tipo as Shad Rap da Rapala (deep runner) usamos  as de  9 centímetros.

Outra isca que obteve bons resultados na pesca do Robalo foi a power shad da Marine Sports também de 9 cm. na cor branca de cabeça vermelha.  

Os melhores pontos para pesca dos Robalos na lagoa são as estruturas de pedra em locais mais profundos, uma dessas estruturas são as pilastras da bomba de captação da Cia. De águas e esgotos do estado. O Dono Do Pedaço.

Se fosse  adotado o critério de limitar as capturas entre 35 e 42 centímetros, certamente seriam preservados os pequenos e não seriam destruídas as matrizes.

Porém, o peixe que garante a diversão do pescador frequentador da lagoa é mesmo o tucunaré, que, apesar de ser originário da bacia  amazônica, hoje em dia é encontrado praticamente em todo país. O mais  comum  na lagoa é o amarelo, com peso médio em torno de 1.000 grs.(o maior que  se  tem notícia pesou 3.600 grs.).Como os encontrados em  outros locais, eles  atacam qualquer isca que porventura passe à sua frente, e a mais utilizada pelos pescadores locais é o lambari vivo, devido a sua maior produtividade. Um fato negativo é que vários pescadores abatem espécimes pequenos, desrespeitando a medida mínima que é de 35 centímetros.

Outro fato a lamentar é que a lagoa de Extremoz também  é alvo da pesca predatória, com redes e tarrafas, mergulhadores e a pesca de arrasto. Estão dizimando todas as espécies, não respeitando nem os jacarés de papo amarelo, espécie protegida pelo IBAMA e em vias de extinção. Até  quando  as autoridades vão permitir essa prática criminosa  muito comum em todas as  lagoas do estado? Essa é uma resposta que muitos gostariam de obter. Não há estrutura para  aluguel  de barcos na  lagoa, cada pescador deverá levar seu próprio barco. Existem alguns lugares propícios  para descida de barcos, o bar Recanto da Lagoa e o balneário público da cidade são algumas das opções, mas podemos descer os barcos também no Hotel Laguna de Extremoz.

Para tanto, devemos pedir prévia autorização por se tratar de uma propriedade privada restrita à hóspedes. 

A Lenda da sereia da lagoa

Alguns pescadores que residem às margens da  lagoa, juram já terem visto uma sereia, que aparece à noite. Contam  a  história  com tanta convicção que fica difícil duvidar da veracidade de seus relatos. Outros menos crédulos e sem compromisso  com o folclore local, afirmam que a mitológica sereia nada mais é do que um enorme Tarpon, que costuma se alimentar no local, após o crepúsculo. Tal afirmação é  contestada pelos pescadores, que dizem não existir peixes tão grandes em lagoas de  água doce. Apesar do impasse, o certo e que, até hoje, ninguém conseguiu fotografar a sereia e, nem tão pouco, o grande peixe.

A Pescaria do Tarpon. 

Durante uma pescaria em Extremoz, em companhia de um amigo, tivemos boas ações de Tucunarés. Devido às chuvas, o nível da água  estava alto, inundando a vegetação nas margens, lugar onde costumamos fazer  os  arremessos.

Carlos pinchou com um jig da Bomber de cor amarela, guarnecido com anzol 2/0 e começou a trabalhar lentamente. Nem  tinha  recolhido muita linha quando um peixe atacou sua isca e saiu numa corrida tão alucinada que causou espanto em todos. Aquele comportamento não era de um tucunaré.

Antes de se refazer da surpresa, o bicho explodiu na  superfície com um salto de mais de um metro, durante o qual foi possível perceber que se tratava de um belo Tarpon, conhecido aqui por Camurupim. Pela  distância do salto, não deu pra precisar o peso do “bicho”. E o pior é que usávamos equipamentos para Tucunaré e Robalo, com linha de 0.33 milímetro e  líder de 0.48. Isto gerou uma grande preocupação, pois, no decorrer da briga, a lixa existente na boca óssea do Tarpon poderia ralar o leader e romper a linha. E a briga continuou, com a fera nadando para o meio da lagoa e levando consigo preciosos metros de linha que freneticamente deixava  o carretel da carretilha. E nós, com o motor ligado atrás dele.

A cada novo salto do peixe, o nosso coração pulava junto. Quando conseguíamos recolhê-lo até próximo ao barco, outra corrida  desembestada levava ameaçadoramente boa quantidade de linha do carretel, fazendo  com que a perseguição se repetisse.Depois de mais de uma hora de briga, e há  alguns quilômetros do ponto onde foi fisgado, finalmente conseguimos  embarcar nosso primeiro Tarpon da lagoa. Digo nosso porquê foi como se estivesse  pescado também.

Pesou 11 quilos e mediu 98 centímetros. É claro que, depois de medido, pesado e fotografado, foi solto. E,se não for morto pelas redes assassinas e mergulhadores, esperamos reencontrá-lo em breve, para um novo confronto. Venha você também tentar o “Grand Slam” de Extremoz. O Tarpon, O  Robalo e o Tucunaré estão esperando.

Paraíso Ameaçado Infelizmente, esse paraíso para pesca esportiva encontra-se ameaçado, pois a ação de alguns pescadores que se utilizam de redes e  até arrastões estão acabando pouco a pouco com os peixes da lagoa. Denunciamos o fato ao IBAMA, o órgão educadamente atendeu nosso apelo e foi verificar a denúncia, mas não pôde fazer absolutamente nada, pois o órgão não dispõe de barcos para fiscalização, portanto, a matança continua. 

Material recomendado. 

Para Tucunarés: varas de até 14 libras com linhas  0.28mm a 0.30mm (12 a 14lb)

Para Robalos: varas de até 20 libras com linhas  0.32mm a 0.35mm  (16 a 18lb.)

Para Tarpons: varas de até 25 libras com linhas 0.35mm a 0.45mm, a carretilha para pesca dos Tarpons deve comportar pelo menos 150 metros de linha.

Não é necessário material mais pesado para o Tarpon nessa lagoa, pois não  há saídas de barra para eles nadarem para mar aberto arrastando consigo embarcação e tudo. 

Leaders: Devem ser usados leaders de 30 ou 40 lbs. para Robalos e Tucunarés, e leaders de no mínimo 50 lbs. para os Tarpons. Não há necessidade de  cabo  de Aço.

Outras espécies esportivas da lagoa:  

Tambaqui

Tilápia

Piau três pintas

Traíra

Apaiari

Fotos: Marcos Réia e Carlos Blatt

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Sobre o autor

Alexandre Cardoso

 
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