É notória, quase pública, minha aversão às filas. Em supermercado então é uma síndrome. Já discorri sobre o assunto. Apesar disso estive com meu netinho esses dias comprando algumas poucas necessidades para irmos ao sítio. Apenas o trivial. Como sempre, me dirigi à fila dos idosos direito que já é minha prerrogativa adquirida com os cabelos brancos, o que, contudo, nem sempre representa necessariamente vantagem no desenvolvimento da fila. Uma senhora e mais dois senhores formavam a fila jurássica.. A velhinha à minha frente exalava um odor forte de perfume e maquiagem e usava um par de tênis da moda e uma ridícula saia bem acima dos joelhos deixando à mostra as varizes que tatuavam as pernas de muitas quilometragens. Brincos em forma de aros, enormes e brilhantes, balançavam nas orelhas com os inquietantes movimentos da cabeça nitidamente querendo chamar atenção o que era desnecessário. O visual cômico e burlesco em si já era motivo para galhofas e chamava a atenção de todos. Imaginava se aquilo não era uma demonstração de coragem de quem não assumiu a velhice ou estava mesmo claramente contrariando os conceitos da moda, tentando parecer uma jovenzinha. Poderia ser bem mais discreta e sensata.
Enquanto a caixa contabilizava suas compras balançava os cabelos de um lado a outro esvoaçando-os tal qual, guardadas as proporções é óbvio, um comercial de xampu feminino. Saiu andando em direção à saída a passos rápidos como uma debutante em festa de gala. Ao chegar a minha vez a caixa e a empacotadora ainda sorriam muito.
—Que tal a gatinha? Perguntei com ar de zombaria enquanto colocava as compras esteira.
—Eu heim? O trubucho só qué sê cocota. Respondeu com chacota a empacotadora.
Fiquei tão absorto maldando a aparência da velhinha que esqueci do Filipe, meu netinho. p..., o moleque tá solto por aí e eu aqui segurando a fila que a essas alturas já tinha cinco ou seis impacientes velhinhos debruçados em seus carrinhos de compra. Quando estava sendo registrado meu último item apareceu o moleque com a boca toda melada de chocolate empurrando os velhos pros lados e furando a fila.
—O que tu estás comendo Filipe?- perguntei sem demonstrar muita preocupação.
—Brigadeiro que peguei na confeitaria vovô!
—Ô meu filho tu não sabes que não pode comer antes de pagar? Cadê a embalagem?
—Joguei na lixeira!
—Qual lixeira? Tem que pegar para passar no caixa!
—Sei não! Foi numa lixeira por aí!
A merda tava feita. Propus-me a ir com ele ao outro extremo do supermercado para ver o preço do doce, porém a tarefa ficou a cargo da empacotadora. Dei-me conta que a fila estava emperrada. Ergui a cabeça e olhei para traz e senti o clima de irritação. Dissimuladamente repreendi meu netinho fazendo recomendações para que isso não se repetisse.
Fiquei batucando com o dedo no balcão como se nada tivesse acontecendo. A empacotadora não aparecia. A moça do caixa relaxou-se no encosto da cadeira tentando aliviar o visível cansaço. O burburinho da fila aumentava à medida que eu conversava com o Filipe na maior despreocupação e quase rindo daquela situação, agora o mantinha seguro uma das mãos o que às vezes pode ser pior que controlar um pitbull preso pela coleira. O tempo foi passando e nada do preço do brigadeiro chegar.
O último da fila percebendo o clima de jogo de porrinha ao redor do caixa arriscou uma intervenção:
—Qual o problema aí? Isso num vai andá não?
A reação foi o suficiente para liberar a impaciência dos demais que até aquele momento apenas murmuravam entre si. Houve uma espécie de protesto organizado e temi que, com mais dois ou três, pudesse transformar-se numa dessas passeatas de sindicato petista.
O idoso logo atrás de mim, com uma boneta dos Lakers cobrindo a calvície ainda perceptível e com um aparelho de surdez em uma das orelhas perguntou com certa inquietação:
—O que aconteceu aí?
—Um produto aqui que não tinha o código de barra!
—Mas tá demorando tanto assim?
—A moça foi lá na panificadora pegar o preço!
—Ma rapá isso já tem um tempão!
—É meu senhor essas coisas demoram mesmo, num tá vendo aí supermercado cheinho?
Chegou a empacotadora com o pote de doce nas mãos ufa!
Percebia-se que alívio fora geral. Entreguei o cartão prá moça que passou na máquina uma, duas, três vezes e nada de autorização para o crédito. Tirou-o da máquina e envolvendo-o em um pedaço de plástico de uma das sacolas de embalagens reintroduziu-o no leitor e pronto crédito liberado!
Nunca entendi essa criatividade dos caixas, mas deve ter algo a haver com o magnetismo dos cartões. Mas foi em tempo, pois o movimento de protesto já estava reiniciando. Peguei minha “saculinha” e me mandei. Meu netinho ainda de um salto sobre um colchão de mola da Ortobom que estava em exposição bem à porta principal do supermercado como se fosse um pula-pula de parque.
Lavei a alma!
Enquanto a caixa contabilizava suas compras balançava os cabelos de um lado a outro esvoaçando-os tal qual, guardadas as proporções é óbvio, um comercial de xampu feminino. Saiu andando em direção à saída a passos rápidos como uma debutante em festa de gala. Ao chegar a minha vez a caixa e a empacotadora ainda sorriam muito.
—Que tal a gatinha? Perguntei com ar de zombaria enquanto colocava as compras esteira.
—Eu heim? O trubucho só qué sê cocota. Respondeu com chacota a empacotadora.
Fiquei tão absorto maldando a aparência da velhinha que esqueci do Filipe, meu netinho. p..., o moleque tá solto por aí e eu aqui segurando a fila que a essas alturas já tinha cinco ou seis impacientes velhinhos debruçados em seus carrinhos de compra. Quando estava sendo registrado meu último item apareceu o moleque com a boca toda melada de chocolate empurrando os velhos pros lados e furando a fila.
—O que tu estás comendo Filipe?- perguntei sem demonstrar muita preocupação.
—Brigadeiro que peguei na confeitaria vovô!
—Ô meu filho tu não sabes que não pode comer antes de pagar? Cadê a embalagem?
—Joguei na lixeira!
—Qual lixeira? Tem que pegar para passar no caixa!
—Sei não! Foi numa lixeira por aí!
A merda tava feita. Propus-me a ir com ele ao outro extremo do supermercado para ver o preço do doce, porém a tarefa ficou a cargo da empacotadora. Dei-me conta que a fila estava emperrada. Ergui a cabeça e olhei para traz e senti o clima de irritação. Dissimuladamente repreendi meu netinho fazendo recomendações para que isso não se repetisse.
Fiquei batucando com o dedo no balcão como se nada tivesse acontecendo. A empacotadora não aparecia. A moça do caixa relaxou-se no encosto da cadeira tentando aliviar o visível cansaço. O burburinho da fila aumentava à medida que eu conversava com o Filipe na maior despreocupação e quase rindo daquela situação, agora o mantinha seguro uma das mãos o que às vezes pode ser pior que controlar um pitbull preso pela coleira. O tempo foi passando e nada do preço do brigadeiro chegar.
O último da fila percebendo o clima de jogo de porrinha ao redor do caixa arriscou uma intervenção:
—Qual o problema aí? Isso num vai andá não?
A reação foi o suficiente para liberar a impaciência dos demais que até aquele momento apenas murmuravam entre si. Houve uma espécie de protesto organizado e temi que, com mais dois ou três, pudesse transformar-se numa dessas passeatas de sindicato petista.
O idoso logo atrás de mim, com uma boneta dos Lakers cobrindo a calvície ainda perceptível e com um aparelho de surdez em uma das orelhas perguntou com certa inquietação:
—O que aconteceu aí?
—Um produto aqui que não tinha o código de barra!
—Mas tá demorando tanto assim?
—A moça foi lá na panificadora pegar o preço!
—Ma rapá isso já tem um tempão!
—É meu senhor essas coisas demoram mesmo, num tá vendo aí supermercado cheinho?
Chegou a empacotadora com o pote de doce nas mãos ufa!
Percebia-se que alívio fora geral. Entreguei o cartão prá moça que passou na máquina uma, duas, três vezes e nada de autorização para o crédito. Tirou-o da máquina e envolvendo-o em um pedaço de plástico de uma das sacolas de embalagens reintroduziu-o no leitor e pronto crédito liberado!
Nunca entendi essa criatividade dos caixas, mas deve ter algo a haver com o magnetismo dos cartões. Mas foi em tempo, pois o movimento de protesto já estava reiniciando. Peguei minha “saculinha” e me mandei. Meu netinho ainda de um salto sobre um colchão de mola da Ortobom que estava em exposição bem à porta principal do supermercado como se fosse um pula-pula de parque.
Lavei a alma!