em Busca dos Tucunarés do Sertão
Segundo ensinamento universal e compulsório dos dicionários, EXPEDIÇÃO é a "remessa de tropas ou de navios de guerra ou mercantes com determinado objetivo...". Acometidos por este conceito, imaginamos desvirtuar da originalidade dele, esquecendo finalidades bélicas e comerciais, mas mantendo a determinação em um só objetivo. Não tive como prever, muito menos como recusar o convite irrecusável desferido por Fabrício - o de aproveitar o feriadão de 1º de maio para conhecer a afamada Barragem do Castanhão-CE.
Aos que não conhecem, o Castanhão está localizado no município de Jaguaribara-CE, barrando o leito do rio Jaguaribe, e estando situado a mais de 600Km aqui de João Pessoa-PB. Represa 6, 7 bilhões de metros cubicos de água cristalina, constituindo um dos maiores reservatório para múltiplos usos da América Latina, e abrigando várias espécies de peixes - destacando-se no cenário nacional da pesca esportiva. De lá saiu o recorde brasileiro de tucunaré capturado fora da bacia amazônica. O responsável pela façanha foi Rômulo Patrick, que fisgou um tucuna com nada menos que 11, 8Kg... um espetáculo! E se eu tivesse tido tempo, acho que nem dormiria de tanta ansiedade... mas foi tudo marcado em cima da hora mesmo.
Pela imediatidade dos planos e improvisação da aventura, nenhum de nossos outros companheiros puderam completar a lotação. Então, deixamos para planejar e arranjar as pendengas durante a viagem - e que viagem! Amarramos os caiaques sobre o barco e cortamos a noite da sexta-feira, ansiosos pela chegada do sábado. Misturamos as curvas e tons das estradas da Paraíba, remendando as fronteiras com o Rio Grande do Norte e o Ceará. Entre uma parada e outra para esticar a coluna, boas doses de prosa e causos de pescaria e de vida.
Apesar de havermos realizado a viagem no período da noite, Fabrício esteve muito atento ao trânsito. A malha viária, bem conservada, nos permitiu um trabalho a menos. Apenas dois contratempos demandaram mais de nossos sentidos - os jumentos soltos nas estradas do sertão cearense (onde todo cuidado é pouco), e uma pequena errada de caminho que nos custou 150Km a mais de estrada! Ao passarmos por Mossoró-RN, por causa das obras de recapeamento asfáltico da BR-340, desorientados com a escuridão, pegamos a 405 pensando estarmos na estadual RN-015 (distante 300 metros da entrada da 405). Resultado: percorremos 75Km de uma interminável e inabalável reta, até a cidade de Apodi-RN, para descobrirmos que - para não nos aventurarmos em uma estrada de terra - teríamos que voltar para Mossoró. Mas foi válido: descobri a maior estrada reta e plana da minha vida, e que há sim um acesso alternativo através do município de Apodi. Na próxima viagem exploraremos o trecho.
Antes de passarmos pela encantadora Limoeiro do Norte-CE, o cansaço adquirido no dia anterior falou mais alto e o sono bateu forte. Na condição de co-piloto fiquei preocupado em deixar o piloto "sozinho". Resolvemos então fazer um pitstop. Uma horinha de sono no carro foram fundamentais para recarregar as baterias. Os primeiros raios de sol do sábado nos revelava o tabuleiro cearense... paisagem linda, porém não fotografada. Ainda estava acordando.
Descobri também que em Limoeiro o que menos tem é pé de limão... já as majestosas carnaubeiras - estavam por todo lado.
E após 09 horas de viagem, eis que surge o portal do Castanhão.
Fomos até Jaguaribara, cidade bem projetada que foi remanejada do leito do rio Jaguaribe para se livrar da inundação causada pela construção da barragem. Lá nos instalamos na pousada de Pereirinha, figuraça que nos recebeu com a alegria e hospitalidade pertinentes aos sertanejos. As instalações são modestas, mas ofertam tudo que um pescador pode precisar. Quartos com ar e frigobar, área reservada de garagem, churrascaria e aparato logístico. Tudo com preços justos e acessíveis.
Devido às suas dimensões, é bastante interessante o apoio de um guia de pesca para explorar o Castanhão. De cara já soubemos que a demanda pela pesca esportiva havia ocupado tudo quanto era profissional do ramo. Vários pescadores estavam na área. Perguntamos para alguns guias e pescadores como estava a produtividade das pescarias no período - e as respostas foram modestas. As noites eram de lua forte, e na semana anterior havia ocorrido um grande torneio de pesca. Mas estávamos no Castanhão, e isso já era um grandioso feito.
Combinamos pescar embarcados no primeiro dia, deixando os caiaques para o dia seguinte. Compramos carne e verduras para preparar o almoço e, antes da saída, recebemos a indicação de alguém que poderia nos auxiliar na localização de alguns pesqueiros próximos - então, fomos pra água!
O cenário é encantador, merecendo nosso respeito e preservação - o Castanhão é mesmo tudo o que falam:
Serra da Micaela - A Rainha do Castanhão
Um dos vários ninhos
Pequeno-grande cacto
Estruturas
Eram tantas as atrações que eu quase esqueci de pescar... brincadeira, claro que não esqueci. Vamos às capturas:
O reservatório é imenso, quase um mar, mas deu para explorarmos excelentes pontos. As estruturas estavam presentes em todo e qualquer lugar. Víamos árvores inteiras sob o barco. Galhadas e pedras nos tentavam em dar uns pinchos a mais. Apesar do longo período de estiagem que assola a região nordeste de nosso país, e de notarmos a baixa considerável no volume do Castanhão, sua profundidade é impressionante. Depois de várias capturas não registradas, voltamos para pousada encantados com o por do sol.
E finalmente chega o domingo. Após uma noite completa de sono, acordamos revigorados e dispostos em colocarmos os caiaques na água. O barco é perfeito e insubstituível para se pescar no Castanhão, mas os caiaques é quem embalam o coração. A chatinha de Fabrício, além de muito bem projetada com viveiros e plataformas que facilitam nossa vida, estava super bem servida com um motorzão de 25HP - sobrando força. E exploramos bem esta caracteristica da embarcação; fixamos nossos caiaques sobre tudo, e partimos sem guia, mas com um mundão d´água para descobrir. Em cada ponto promissor, estacionávamos o barco e batíamos cada galhada com os caiaques.
Acreditem, foi um dos melhores dias de pesca que já tive. A composição colorido-cinza do cenário, com o verde das algas reluzindo através da transparência sonora das águas do Castanhão, me deixaram meio "abobado". Os peixes grandes eram esperados a cada arremesso, mas não apareceram. Entretanto, os de menor porte nos propiciaram excelentes e inúmeras ações durante todo o dia. Ao trabalho de cada isca, os tucuninhas ferviam para disputá-las. Vimos traíras, piranhas, tambaquis, e "zilhões" de tucunarés... aquele lugar é um santuário abençoado por Deus.
Agradeço o companheirismo, disposição e disponibilidade do amigo adventureiro, Fabrício Maciel. Através da portunidade de ouro que me foi veiculada, conheci e me encantei pelo Castanhão. Pretendo voltar lá assim que possível - e com um comboio completo de caiaqueiros. Peço desculpas pelo racionamento na exposição das fotos que registraram os momentos com caiaques. Apesar de todos os atributos e merecimento do lugar, a demanda exaustiva do trabalho aqui não me permitiu realizar um relato digno e pormenorizado. Os vídeos podem revelar mais detalhes deste super-feriado que passamos curtindo a maresia do Castanhão.
E assim, que falem as imagens:
Pescaria com Caiaques
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=1uhK5UsgLPs&feature=relmfu[/youtube]
Pescaria com Barco
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=0LHhNsJq7bM&feature=relmfu[/youtube]
Visitem e Preservem o Castanhão-CE - santuário nordestino da pesca esportiva!
IMPORTANTE: Estive no Castanhão e trouxe em minha bagagem outros tantos bons momentos de recordação, mas foi de passagem por Itajá-RN que me apaixonei de vez. Para quem não lembra, Itajá é berço de caiaqueiros, fortes e de bom coração - João Clayton, Leonardo e Chicão. Contudo, foi a pequena e doce Thayná que me fez ter a certeza de que seu pai (João Clayton) é mesmo um homem feliz. Parabéns pela princesa, amigo! Abraço à toda família.
Valeu galera do Pesca Nordeste!