Apesar das agressões ao meio ambiente e exploração desenfreada dos recursos naturais, naquela época uma viagem à Amazônia para turismo de pesca não era tão comum como nos dias de hoje, conservava ainda muito de mistério e novidade.
Desmatamento e queimada
O Rio Guaporé, fronteira entre Brasil e Bolívia, nasce em Mato Grosso, na Serra dos Parecis, percorrendo 1364 Km desde sua nascente até sua foz. Juntamente com os rios Mamoré e Beni vai formar mais adiante o Rio Madeira, um dos maiores afluentes do Rio Amazonas.
É zona de transição entre o Pantanal Mato-grossense e a Amazônia, tendo em sua fauna e flora espécies comuns aos dois sistemas.
São muitos os caminhos da amazônia, e dentre eles o Rio Guaporé é um dos mais belos, significando na linguagem indígena o que tem origem muito longe.
Cheio de atalhos por entre florestas e montanhas, as distancias são encurtadas nas mãos de hábeis piloteiros.
Cercado por muitas baías, onde é farta a pesca do tucunaré no período das secas, abriga uma variedade espantosa de outras espécies esportivas, onde o boto é nosso companheiro constante e concorrente na pesca.
É no período das secas que afloram as praias em toda sua extensão, onde as aves encontram repouso e abrigo seguro.
Com a chegada das águas as praias repousam submersas, dando lugar a novas paisagens, onde os igapós reinam absolutos.
Novas estradas são criadas pela mãe natureza onde antes só existiam fios d´água. É época para alcançarmos locais antes proibidos.
Para se chegar ao Rio Guaporé uma das opções é por via aérea até a cidade de Vilhena, em Rondônia, e de lá por rodovia até Pimenteiras, distante aproximadamente 170 quilômetros, passando pelas cidades de Cerejeiras e Colorado do Oeste.
Próximo à cidade de Pimenteiras, na margem direita do Rio Guaporé, fica um de seus mais belos e piscosos afluentes, o Rio Pau Cerne, no lado Boliviano. Pela limpeza de suas águas, era comum se ver cardumes de tucunaré passando.
Foi nessa região que tivemos o primeiro contato com o tucunaré em seu habitat natural. Só o conhecíamos das represas do sudeste, onde foi introduzido.
Para os adeptos de iscas artificiais de superfície, não há modalidade nem espécie mais prazerosa do que essa. Vejam se não temos razão!
O tucunaré do Rio Guaporé é conhecido como Pinima ou Pitanga.
Sua cor é bem amarelada, e os maiores que já vimos estavam por volta de seus 4 quilos. Não são grandes, mas são marrentos como todos de sua espécie.
Usávamos na sua pesca varas de 17 libras, todas “Pistol Grip”, com carretilhas compatíveis e linha 0,35mm. Naquela época ainda dispensávamos o uso de lideres, amarrávamos a linha diretamente no “snap”, que por sinal também estava preso a um girador. Somente mais tarde, ao irmos atrás dos grandes tucunarés em outras regiões, é que introduzimos o líder e abolimos o girador do “snap”.
Na preferência das iscas artificiais, éramos fãs das “João Pepino”, nossa primeira opção, mas num lugar de fartura todos os modelos funcionavam muito bem.
Dentre os gaviões amazônicos, o gavião Belo se destacava por sua agilidade em atacar a presa, não desprezando nem mesmo uma isca artificial. Aqui ele era o ator principal.
O clima de Rondonia é equatorial , com temperaturas variando em função das chuvas e altitudes. Como a temporada de pesca é no período da estiagem, de junho a novembro, a temperatura pode oscilar entre 28 e 33 graus, talvez mais. Essa era uma boa desculpa para um descanso à sombra, no barranco, ao mesmo tempo em que moquear um tucunaré era uma boa pedida para o almoço.
Outra maneira de se pescar o tucunaré era com iscas naturais, vivas ou não, principalmente o lambari, abundante na região. Um dos modos mais pitorescos para se pegar o lambari era amarrar um pedaço de fígado de tucunaré numa linha e colocar e tirar da água. O lambari atacava a isca e ficava grudado... Vejam como era:
O corrico era pouco praticado pelo pessoal, mas sempre reservava agradáveis surpresas quando utilizado.
Quando a pesca da cachorra era com iscas naturais, usávamos um anzol empatado em aço para evitar o corte das linhas. Normalmente as iscas eram toletes de traíra ou lambaris.
Nunca esqueceremos nossa viagem subindo o Pau Cerne até a cachoeira do Vale da Jatuarana, assim batizado pela revista Aruanã. Apesar das dificuldades devido a pouca água, vazante já adiantada, foi aventura das mais gratificantes.
Hoje em dia o acesso ao Pau Cerne é mais difícil, só com permissão do consulado da Bolívia, que não é fácil de conseguir.
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Esses pulos com os barcos por cima dos troncos não eram por que estávamos filmando, pelo contrário, pois a contra-gosto os convencemos a gravar, com medo de que os proprietários da estrutura viessem a descobrir, o que evidentemente aconteceu e lhes rendeu um bom pito, mas assim fazendo economizavam tempo e esforço.
O rio Pau Cerne sempre era nossa principal opção, pois além de perto da base, em Pimenteiras, era extremamente piscoso e de extraordinária beleza.
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Faltava conhecer um dos peso-pesados da Amazônia, a pirarara. Para isso fomos a um poção bem conhecido dos guias, no Rio Guaporé, e que dificilmente negava fogo.
Como isca usamos o minhocussú, e o material foi reforçado. A vara utilizada foi de 2,10 metros, de fibra de vidro maciço, com um molinete de grafite de 3 rolamentos, linha 0,55 mm, sem líder, atada a um anzol Mustad 8/0 encastoado em aço.
Uma das boas iscas para o Pintado era a traíra, que encontrávamos em qualquer razeiro de fundo de lagoa.
Um dos bons afluentes do Guaporé para a pesca do pintado era o Rio Piolho, mas quando lá estivemos só pegamos os pequenos. . .
Normalmente essas pedreiras são moradas de Poraquês. Ficávamos então atentos à espera, para vê-los quando vinham à superfície para respirar.
Fomos nessa pedreira em busca de cachorras, mas fomos surpreendidos com a captura de um bom pintado na Colher Johson 3/4.
Como o local era propício para cachorras, logo se fizeram presentes
Para encerrar, vamos pescar alguns tucunarés nas belas praias do rio Pau Cerne, no lado Boliviano, caminho já mostrado para uma das cachoeiras do Vale das Jatuaranas, nome dado pela Revista Aruanã.
Na época da seca podíamos observar a belas praias do Rio Guaporé. Em setembro era realizado o festival de praia de Pimenteiras, onde as famílias se reuniam para participar de jogos e brincadeiras. Esperamos que seja uma tradição mantida até hoje
Chegamos ao final, e lamentamos que a consciência e providencias de fiscalização e preservação do poder constituído não tenham evoluído na mesma proporção que a devastação de nossas matas e recursos naturais. Se nada for feito, e urgente, brevemente só veremos essas cenas em vídeos e fotografias, atestando a total incapacidade do ser humano para ser guardião da natureza.
Até uma próxima viagem... E um próximo relato. . .