Saindo de São Luís na sexta às 20:00hs alguém me liga do trabalho: "mixou o carbureto - bronca no trampo". Só que o problema aconteceu num local que era caminho, isto facilitou bastante a resolução. Após o caso resolvido, fiquei meio baixo astral com as conseqüências e indeciso se ia ou não, essa atitude levou-me a perder dois dos três repontos aos quais eu teria direito no sábado.
Cheguei em Barreirinhas por volta de 10:40hs e tive logo a primeira decepção: o barco ainda não estava pronto, pois o meu guia não acreditou muito na minha palavra de que estaria lá antes do meio dia. O jeito foi agilizar ao máximo o transporte do barco e da bagagem ao local de embarque. Isto feito, finalmente, partimos para a Praia de Caburé, que dista 1h de motor de popa 25hp da cidade de Barreirinhas. O trajeto é feito pelo rio Preguiças até sua foz (em Atins) e é de rara beleza, com mata ciliar muito preservada e, a partir de certa altura, uma grande extensão de canais de manguezais; a água é muito limpa e volta e meia podemos observar a exuberância da fauna local que se desnuda através de revoadas de pássaros (guarás, garças e gaivotas), do barulho de macacos-pregos e sagüis e do rebojo de pequenos e, eventualmente, grandes peixes. E eu me sentindo o mais feliz dos mortais por poder vivenciar tudo isso tão próximo do meu lar e, melhor que isso, ao lado da mulher que amo!
Os robalos dos mangues de nossa região, e eu apanhei até descobrir isso, ficam bem mais ativos nas marés de quarto (crescente e minguante), momento em que a água está mais clara, aparentemente atacando as iscas artificiais somente nos repontos de enchente e vazante (meia hora antes e depois, sendo a baixamar mais produtiva). Aprendi a seguinte tática: galhada caída a montante - pesqueiro de enchente - e a jusante - pesqueiro de vazante. Outra dica importante é que esse comportamento muda quando vc pesca em barrancos com pedras ou enrocamentos de pontes, pois ele aprecia as transições (minguante p/ lua nova) e os repontos de preamar. Apenas uma característica se mantém: a água tem que estar limpa, pois não conheço ninguém em minha cidade que tenha pego o camurim com água turva (marés de lançamento: lua cheia). Sei que o Ivan já conseguiu essa façanha em Parnaíba – PI, mas o Ivan é o Ivan e Pulga é Pulga, ora bolas!!
Perdi a maré de 13:00hs devido ao percurso até Caburé, aí o jeito foi relaxar e aproveitar o delicioso robalo (esse não era raciado...rsrs) ao molho de camarão preparado especialmente para nós (dizendo o garçom) e depois aquela espetacular sesta à beira-mar numa dessas redinhas que fazem a gente dormir o sono dos justos e generosos.
Acordei às 16:50hs sob o olhar de censura de minha amada, que já estava a ponto de começar a pescaria sem mim... vi que a coisa era séria e, sabendo que com mulher não se brinca, daí a 20minutos estávamos no pesqueiro: eu, ela e Abdias (o piloteiro que levou o Roald). A água estava clareando e as galhadas já estavam quase totalmente cobertas, aproximava-se o reponto. Deixamos o barco na “rola” e o guia ia controlando apenas no remo. Pincha daqui, pincha dali e... nada. Fim da costeira, liga o motor e leva o barco pro início, pincha de novo e de novo, mais uma vez e... nada; repetimos a operação pela terceira vez e, pela terceira vez, nada... o guia já começava a alardear: “... mas não é possível, eu já trouxe dois casais e duas duplas p’ra pescar aqui e nunca saíram sem pegar peixe...” quando eu olhei p’ro relógio e constatei que o reponto de baixamar estava próximo (seria às 18:30hs), resolvi então mudar de tática e afastei o barco para longe das galhadas para dar algumas dicas de arremesso ao piloteiro e permitir que minha esposa pudesse aperfeiçoar os seus, nos divertimos bastante durante esses momentos e tive que desembaraçar uma estupenda cabeleira feita pelo Abdias, depois eu e minha mulher tivemos direito a um belo banho de mar. Quando o relógio marcava 18:00hs retornamos ao local, entretanto, houve uma infestação de murisocas e maruins que nos expulsaram quase que imediatamente de lá. Resultado: saí no dedo.
Retorno marcado para de manhã bem cedo: enfatizei às 06:30hs com o guia. Durante a noite muitas chuvas e trovoadas nos obrigaram a ficar na cama (que maravilha!) desde as primeiras horas. O vento era tão forte que fazia-nos pensar que os bangalôs sairiam voando a qualquer momento. O sono veio lá pelas 23:00hs.
Após essa bela noite, acordamos com fome de camurim. Seis e trinta eu estava de pé na porta do bangalô... deu sete e nada do guia... sete e trinta e eu desesperado... sete e cinqüenta e o simpático aparece dizendo que a maré estaria em seu reponto só lá pelas oito e trinta ou nove horas e que podíamos “... tomar o café com calma”, duvidei bastante mas estava sem a tábua de maré e a de São Luís que eu havia visto na véspera apresentava variação em relação àquela região. Resultado: cheguei ao pesqueiro às 08:15hs meio cético em relação ao resultado... que se confirmou com a maré lançando, nenhuma captura e com a confissão do guia de que errou nas contas.
Aquilo foi a gota d’água e resolvemos voltar à pousada para fechar as contas, colocar tudo no barco e zarpar para Barreirinhas, pois já eram 11:00hs de domingo e ainda havia 1h de voadeira e 270km de carro até chegar em casa, com todas aquelas “paradinhas” que conhecemos bem.
Só que fominha é fominha... e resolvi tentar mais um reponto de vazante, dessa vez fiz os cálculos e estabeleci o horário da pescaria com “extremo rigor”. Às 12:35hs estávamos no local com as malas (inclusive eu) todas a bordo. O guia posicionou o barco e no segundo arremesso “ele” apareceu e deu dois “tapas” na minha redfin 900, suficientes para a euforia geral a bordo; mais alguns arremessos e a tomada de linha denuncia um belo exemplar, ele dá dois saltos e eu travo a linha multi 20lbs para dissuadir sua forte convicção de ir para a galhada, após alguns intermináveis segundos ele está embarcado e posando para as fotos. Mais arremessos se sucedem ainda na primeira “rolada” do barco e novos peixes são fisgados e perdidos graças aos contraditórios camarões-maré (Vergílio e Lap, já turbinei os malditos); eis que surge um enrosco e temos que ir até a galhada, ao chegar lá achei bastante propícia a situação para um arremesso paralelo à linha formada por elas, para isso sempre tenho dois caniços preparados (neste caso eu tinha 03) e fiz um arremesso longo com um camarão-maré dos grandes, comecei a recolhê-lo bem lentamente torcendo para não enroscá-lo,...em uma das paradinhas – POW – senti a pressão e a tomada violenta de linha fazendo barulho de turbina - VVVVUUIIIIIMMM – não consegui segurar com o dedo e o bicho continuou disparando reto e sempre até que senti aquele roçar desagradável da linha em alguma estrutura submersa, então, rapidamente liberei a trava e fui com o barco para cima, sentia que o bicho queria se afastar e o recolhia com todo o cuidado, a minha esperança era que ele cansasse e com a linha liberada acabasse boiando, porém a tendência era realmente muito pior: eu estava fadado a perder o peixe! Fiquei por vários minutos naquela aflição com o guia alertando que iríamos perder todo reponto se eu não cortasse a linha, eu já estava desesperado, quando surgiram dois pescadores artesanais numa canoa a pano, implorei a eles que descessem para tentar desenroscar, mas recebi a terrível resposta de que tinham medo de serem comidos pelo “meros”. Mesmo quando prometi dar-lhes o peixe isto não foi suficiente para restabelecer sua coragem. Finalmente, quando tudo parecia perdido, fiz uma promessa a Deus que iria devolvê-lo se saísse do galho e resolvi forçar p’ra ver no que ia dar (linha multi 20lbs c/ líder “dourado” 0,70mm) e, para minha surpresa, o esforço foi trazendo e trazendo e trazendo e trazendo e...IIIIIAAAAABBBBAAAAADAAAABAAAADAAAABBBBAAADDDDDUUUUUU!
O bichão veio à tona com multi esgarçada, líder quase rompido, snap forçado, o camarão-maré inacreditavelmente bem cravado... posou para as fotos e pesou na balança do boga aproxim. 4,300kg, medindo do focinho à cauda 75,5cm... antes de cumprir a promessa lembrei que havia feito uma na semana anterior de que levaria o próximo robalo bom que pegasse de presente para meu papai... resultado: ISOPOR!!!Huahuahuahauhauhauaauh... poucos minutos depois eu seria castigado duramente por tal sacrilégio... !
Reposicionamos o barco e voltamos à pescaria, minha mulher teve duas ações seguidas no “maré”, eu coloquei minha saruna 125, que nunca havia ferrado nada, no equipamento mais pesado (Abu 5500, multi 50lbs e líder 1mm) pois sentia que a “coisa” estava por perto, consegui um arremesso muito próximo a um galho suspeito e dei dois toques lentos, rapidamente minha isca foi sugada e a “coisa” partiu para dentro do mangue, obrigando-me a travar a fricção e rebocar o barco para fora, já numa distância segura comecei a trabalhar o peixe achando que só havia água entre ele e eu; ledo engano, pois o danado conseguiu achar outra galhada e ficou travado há 5m do barco. Aí pensei: “... bom, se ainda há pouco meu equipo frágil agüentou, agora vai ser moleza...” e comecei a duelar com o peixe e a galhada, foi quando a linha afrouxou e eu a recolhi, com cara de “Nhô Zé”, até encontrar a ruptura bem no pezinho do snap... SEM COMENTÁRIOS! Francamente “Japagay”, uma isca que nunca pegou nada sair de cena dessa forma... é muita AWICAGEM!!
Voltando à pescaria, tivemos uma linda cena de um robalão (não arrisco o tamanho) atacando violentamente o joão pepino lançado pelo piloteiro – até ele aproveitou-se – sem conseguir, entretanto, fisgá-lo. Mais algumas ações se sucederam, inclusive um tarpon deu um bote sem sucesso num stick branco da cabeça vermelha. A essa altura São Pedro já castigava com uma bruta chuva com direito a trovoadas e tudo, foi quando nos lembramos (eu e Andréa) de que muita distância nos separava de nossa casinha e que precisávamos ir. Partimos com motor aberto e debaixo do temporal, com os corpos e bagagem ensopados e frios, lógico, mas com um calor intenso aquecendo nossa alma, provocado por todas aquelas sensações que vivenciamos e pelo amor e carinho eternos que sentimos um pelo outro.


P.S.: os peixes não pararam de bater mesmo com a chuva torrencial! As fotos seguem tão logo eu consiga descarregá-las do celular da mulher. Infelizmente estávamos sem câmera!!