Peixes estão sendo engordados em viveiros de camarões em Santa Catarina
Na natureza, o robalo peva (Centropumus paralellus) atinge um tamanho máximo de 3 kg. Alevinos deste peixe já são produzidos regularmente há vários anos no Brasil, mas sabe-se que o seu crescimento na engorda é muito lento. O robalo flecha (Centropumus undecimalis, ) por alcançar 25 kg ou mais na natureza, sempre gerou expectativa de crescimento em engorda superior ao do peva - o que o torna bem mais atrativo para os piscicultores. As dificuldades, porém, ficam por conta da obtenção de alevinos, técnica muito pouco desenvolvida até o momento.
Pesquisadores mexicanos vêm se dedicando ao robalo flecha com o objetivo de viabilizar seu cultivo. No entanto, até o momento não foram registrados bons resultados. Na Flórida, também se trabalha há bastante tempo com este peixe, com o objetivo de repovoamento. Entretanto, as reproduções até hoje são feitas com peixes selvagens capturados nos momentos que antecedem a desova natural, submetidos à extrusão dos gametas sem indução hormonal. No Brasil, foram feitas tentativas esporádicas de reprodução, sendo a mais bem sucedida realizada em 2006, resultando numa dissertação de mestrado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O experimento gerou cerca de mil alevinos, posteriormente perdidos.
De dezembro a março passado, período de reprodução de robalos flecha na região Sul, o biólogo Sérgio Roberto Pitz, da Danúbio Aquacultura, associou-se ao Laboratório Estaleirinho, localizado em Balneário Camboriú (SC) e especializado em produção de pós-larvas de camarão, na tentativa de obter alevinos de robalo flecha. As instalações do laboratório estavam ociosas por conta da crise ocasionada pelo vírus da Síndrome da Mancha Branca (WSSV) no Estado de Santa Catarina, mas depois de algumas adaptações foi possível iniciar o procedimento.
Segundo o biólogo, apesar dos esforços para manter e utilizar reprodutores domesticados, os primeiros experimentos foram realizados com reprodutores selvagens capturados e submetidos à indução hormonal. Em janeiro deste ano, Pitz e seu sócio, um especialista húngaro, uniram as experiências adquiridas com a reprodução de peixes de água doce e testaram diversos protocolos, com diferentes tipos de hormônios, até que obtiveram sucesso na produção de óvulos fertilizados. A partir de então, teve início o processo de larvicultura, que durou 90 dias, utilizando o protocolo para a larvicultura do robalo peva desenvolvido pelo professor Vinícius Cerqueira, coordenador do Laboratório de Piscicultura Marinha da UFSC.
Pitz explica que, após este período, os peixes já treinados para o consumo de ração comercial desenvolvida para o bijupirá permaneceram mais 60 dias em tanques-berçário, sem aquecimento de água (temperatura média de 18°C, com a chegada do inverno). Ao final de 150 dias foi observada sobrevivência de 7, 5%, satisfatória para peixes marinhos, que resultou em 36.600 alevinos com peso médio de 2, 69 g. Deste total, 23.100 alevinos foram vendidos no final de junho para a EPAGRI de Santa Catarina, que já está avaliando o desempenho do robalo flecha em viveiros de camarão. O objetivo é desenvolver a piscicultura marinha como alternativa para os carcinicultores catarinenses. No Estado, aproximadamente 90% dos cerca de 1.300 hectares de viveiros construídos estão ociosos em função do vírus da mancha branca.
A dupla de pesquisadores planeja para o próximo verão o início da produção do robalo flecha em escala comercial. “Além deste peixe, faremos também tentativas com mais uma ou duas espécies de interesse comercial, usando a escassa literatura científica disponível e tentando preencher as lacunas. Vamos nos concentrar em espécies eurihalinas, que podem ser cultivadas em qualquer salinidade”, Pitz adianta. O biólogo aposta que a piscicultura marinha terá início no Brasil com os viveiros de carcinicultura ociosos, no Sul e no Nordeste do país. “É uma estrutura de engorda que já está construída, ao contrário dos grandes e caros tanques-rede marinhos. Acreditamos que estes tanques serão um segundo passo na evolução da atividade. Outro ponto importante é que, em qualquer um dos dois sistemas, os custos de produção serão relativamente altos, sobretudo no início, quando rações específicas não estarão disponíveis. Portanto, é preciso trabalhar com espécies de alto valor de mercado”, conclui o especialista.